WhatsApp derrubou 36 contas por minuto durante eleição no Brasil

há 3 semanas 1

O que rolou?

O relatório contempla o período entre 1º de agosto a 31 de outubro. Não se encaixa perfeitamente à corrida eleitoral (a propaganda de candidatos começou em 16 de agosto e o último dia de votações foi em 27 de outubro), mas vá lá. Ele mostra que:

  • A Meta removeu mais de 2,9 milhões de posts de Facebook, Instagram e Threads, porque...
  • ... Essas publicações promoviam bullying e assédio (17,5%), discurso de ódio (18,5%) e geravam ou incitavam a violência (64%). As exclusões...
  • ... Ocorreram quase que exclusivamente de forma proativa, ou seja, sem provocação externa, seja feita diretamente por usuários ou por intermédio da Justiça. Por outro lado, ficaram no ar, mas...
  • ... Foram rotuladas como foco de desinformação outras 8,2 milhões publicações. Quer dizer que: a cada segundo, um post era carimbado como notícia falsa. Segundo a Meta...
  • ... Mais da metade das pessoas (57%) que estavam para compartilhar esses posts evitaram replicá-los assim que se deram conta de que espalhariam mentiras. Do lado comercial...
  • ... A Meta foi contratada para veicular 1,7 milhão de anúncios que trataram de assuntos políticos, eleitorais ou sociais. Barrou outros 420 mil, mas, no relatório, não deixa claro os motivos. Outros 43 mil foram removidos por conterem informação falsa. Pela Justiça...
  • ... Foram disparadas 3 mil decisões judiciais para restringir conteúdos no Facebook, Instagram e Threads. Já o WhatsApp...
  • ... Foi alvo de 210 pedidos da Justiça Eleitoral para fornecer dados de usuários, enquanto 120 liminares exigiam a restrição de alguma conta no aplicativo. Em paralelo...
  • ... O sistema automatizado do WhatsApp detectou e baniu 4,8 milhões de contas usadas para envio robotizado de mensagem em massa.

Estrelas das eleições presidenciais de 2018, vencidas por Jair Bolsonaro, as "máquinas de spam eleitoral" funcionavam no WhatsApp inundando a caixa de mensagens de eleitores brasileiros com propaganda política e toda sorte de fake news.

E digo "funcionavam" porque me refiro apenas ao conteúdo eleitoral. Ao que parece, as máquinas continuam ativas. Mas, como toda boa operação inovadora, o cibercrime encontrou outro filão de negócio: o estelionato online.

De todo modo, a pressão política fez o sinal de alerta vermelho disparar na Meta, que promoveu uma onda de processos judiciais contra elas e desenhou sistemas automatizados para abater contas impulsionadoras de spam em pleno voo. De toda forma, o resultado está aí: 36 contas removidas por minuto.

Não é bem assim, mas está quase lá

Quanto ao relatório ter saído próximo em meio ao julgamento no STF sobre a responsabilização de plataformas digitais sobre conteúdos de terceiros, há motivos para acreditar que:

  • É só coincidência: afinal, há mesmo um distanciamento entre a publicação dos relatórios e as datas de votação. O documento divulgado agora revisa da atuação da Meta em suas plataformas durante a campanha eleitoral. Mas ele é o segundo da leva. O primeiro, que comunicava os preparativos, foi colocado no ar 56 dias antes do primeiro turno.
  • Tem nada de coincidência: as manifestações dos ministros do STF Alexandre de Moraes, Luis Roberto Barroso e Dias Toffoli sinalizam que a percepção é de haver um tremendo descontrole por parte das donas das plataformas, sobre quem recai a pecha de não coibir nenhum publicação nociva. Não é de todo verdade. Não sei se é esse o discurso que os magistrados encampam. Mas há um clamor de certa parcela da opinião pública que faz parecer haver uma completa imobilidade das redes. É um sentimento insuflado pelas tramas políticas dos últimos tempos, sobretudo os processos de radicalização de militantes de extrema-direita e os planos de golpe contra a democracia. Desse ponto de vista, a regulamentação das Big Tech não surge só como meio de colocar ordem em plataformas tecnológicas com problemas, mas para dar cabo de divergências políticas.

Okay. Mas, descendo ao playground do mundo online, o que se percebe é outra história. Pessoas comuns têm posts e contas suspensas por motivos que desconhecem e pouco têm a ver com manifestação política de qualquer ordem. Tudo fruto das turvas regras que regem as redes. Um ortopedista contou uma boa no perfil do UOL no Instagram: a rede social da Meta derrubou um post dele que mostrava o corpo de uma pessoa. Alegou que continha nudez. A publicação, porém, exibia um tornozelo. E com um tipo especial de ferida, que vem a ser a especialidade do médico.

Não à toa, gente como ele, longe de ser extremista, ouve falar em regulamentação, e logo pensa em censura. Passa pelo esforço de tornar essas plataformas mais saudáveis, que parece ser o intuito de regulamentações, a necessidade de mostrar aos usuários delas que eles serão beneficiados —e não mais tolhidos.

Leia o artigo completo