"O tempo que a gente vive é de leitura estilhaçada, fragmentada", diz Cadão Volpato. "O que estamos propondo é um antídoto para esse veneno."
A estratégia do escritor, jornalista, músico e agora editor é a criação de um novo selo de livros —mas livros curtos, que vão direto ao assunto. O nome da nova editora, gestada em parceria com o livreiro Bernardo Ajzenberg, é Seja Breve.
Os livros, que começarão a ver a luz do dia em maio, terão uma média de 80 a 150 páginas em formato pequeno, de cerca de 18 por 12 centímetros. Um dos cinco lançamentos iniciais, do professor de jornalismo Eugênio Bucci, está batendo quase em 200 —uma bíblia, para os padrões de Volpato.
Ele e Ajzenberg se conhecem há mais de 40 anos, da época da militância na Libelu, corrente trotskista que fazia barulho nas universidades.
Depois seguiram carreira bem distinta —o primeiro mergulhou no rock à frente da banda paulistana Fellini e o segundo se tornou editor e livreiro. Foi ombudsman da Folha de 2001 a 2004, coordenador executivo do Instituto Moreira Salles, diretor da editora Cosac Naify e, agora, dono do sebo Tucambira.
Mas ambos coincidiram em virar escritores respeitados. Ao se reencontrar por acaso no ano passado, perceberam que ainda cultivavam muito em comum —como o apreço pelo objeto livro. Conversa vai, conversa vem, decidiram abrir uma editora que, segundo Volpato, quer publicar histórias bem contadas que estavam no ar.
Veja um exemplo. O jornalista Fabio Altman vai escrever pela primeira vez sobre a história de seu tio, Waldemar Zumbano, um precursor do boxe de tendências comunistas que, ao ser detido pelo regime de Getúlio Vargas, passou a ensinar os presos a lutar —inclusive o escritor Oswald de Andrade. O livro se chamará "O Príncipe do Boxe".
Já o músico sergipano conhecido como DJ Dolores chamou a atenção de Volpato por crônicas muito bem escritas no Instagram —segundo o editor, é o "Antônio Maria do manguebeat". Seu livro "Lugares para Chorar no Recife e Outros" terá pequenos e afetuosos textos sobre suas andanças pelo mundo.
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Essa primeira leva ainda inclui "Despaixão", obra de Paula Lopes Ferreira sobre a superação de uma relação abusiva de violência doméstica, e o livro de Bucci, "Que Não se Repita", uma mistura de romance e ensaio que faz um diário dos dias de Jair Bolsonaro no poder.
Por último, haverá ainda um livro do próprio Volpato —"Notícias do Trânsito", sobre a transição de gênero de sua filha Chimera, um "diálogo de mão única" com a menina que o escritor de 68 anos define como um de seus livros mais importantes. Mas, ele garante, ainda breve.