Walter Porto: Boitempo completa 30 anos difundindo obra de Marx e livros de pensamento crítico

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Quando a Boitempo abriu as portas, em 1995, o Brasil consolidava suas instituições democráticas. Agora, no aniversário de 30 anos da editora, a democracia vive um momento dramático, segundo a fundadora Ivana Jinkings, mas a casa está cimentada como referência no pensamento crítico brasileiro.

A jornalista abriu o selo editorial, cujo nome homenageia o poeta Carlos Drummond de Andrade, publicando raridades literárias de autores como Machado de Assis e Stendhal —seu então inédito estudo sobre Napoleão inaugurou os trabalhos da editora.

Aos poucos, a Boitempo foi direcionando suas publicações aos ensaios de política, sociologia e filosofia pelos quais ficou famosa. "Minha história me levou a isso. Minhas relações eram essas", diz Jinkings. "Meu pai [Raimundo] era um dirigente comunista com uma livraria, eu nasci praticamente dentro dela."

Um ponto de virada, lembra, foi quando a editora publicou "Para Além do Capital", volume de 1.104 páginas do marxista húngaro István Mészáros, em 2002. "As pessoas passaram a prestar mais atenção a nós. Como alguém se atrevia a lançar um livro assim?"

"Naquela época, até gente de esquerda bem informada achava que não tinha espaço para publicações como essas. Não foram poucas as pessoas que me disseram que Lênin, por exemplo, já estava fora das leituras da universidade. E eu não acho que você tem que ser leninista, mas acho que precisa ler Lênin."

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Mészáros abriu a coleção Mundo do Trabalho e virou cartão de visitas para o catálogo adiante, que tornou a Boitempo a mais renomada casa dos autores influenciados por Karl Marx —inclusive do próprio.

Duas apostas da editora para seu 30º ano se ligam direto ao autor do "Manifesto Comunista". Primeiro, a caixa inédita "O Essencial de Marx e Engels", uma curadoria cuidadosamente preparada, que terá grandes eventos de lançamento a partir do final de janeiro; em seguida, "A Teoria do Mais Valor", livro às vezes apelidado imprecisamente como o quarto volume de "O Capital", numa edição traduzida do alemão a partir de uma nova reconstituição da obra de Marx.

Outros destaques incluem "Reconstrução Negra na América", panorama pós-abolição de W.E.B. Du Bois —seguindo a tradição da editora nos tijolões de mais de mil páginas— e "Geografia da Abolição", da intelectual contemporânea Ruth Gilmore, dos Estados Unidos —que Jinkings espera conseguir trazer ao Brasil.

Por aqui, a editora investe numa coletânea de raridades de Lélia Gonzalez, que faria 90 anos em fevereiro, em parceria com o instituto de memória da autora, e na atualização de "O que É Ideologia", de Marilena Chauí, em outra coleção importante da casa, Pontos de Partida, voltada à formação de leitores.

O FÍGADO A jornalista Karla Monteiro e o médico Marcio Maranhão, time por trás do livro que inspirou a série "Sob Pressão", trabalham num novo projeto sobre o cirurgião Lúcio Pacheco, referência nacional em transplantes. Em 2020, ele mesmo entrou na fila por um fígado e passou a treinar uma equipe para sua operação. O livro, com título provisório "Minha Vez", deve sair neste ano pela Companhia das Letras e tem direitos reservados pela Conspiração Filmes.

A DOR E a Amarcord se prepara para lançar "Triste Tigre", vencedor do prêmio francês Femina, de júri totalmente feminino, em 2023. A escritora Neige Sinno elabora, em ensaios autobiográficos, a experiência de uma mulher que foi abusada sexualmente pelo padrasto. O livro está previsto para maio.

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