Não é de hoje que Beatriz Nascimento vive um ressurgimento no país, mas a discussão em torno dela deve alcançar um ápice nesta semana com a homenagem da Festa Literária das Periferias, a Flup.
O festival, que acontece no Rio de Janeiro da próxima segunda até domingo, se organiza em torno das ideias de Nascimento e segue à risca sua linha de escrever a "história por mãos negras" —afinal, quase todo o programa é composto de convidadas negras.
A obra da autora andou um pouco de lado nas décadas que se seguiram ao seu assassinato pelo então companheiro, em 1995. O resgate veio nos últimos anos graças a pesquisadores como Alex Ratts, que se dedicaram sobre a obra da historiadora sergipana, segundo a única filha dela, Bethania Gomes.
Resultam da iniciativa dele obras como "Eu Sou Atlântica", sobrevoo da trajetória da autora, e a organização, na Zahar em 2021, da coletânea "Uma História Feita por Mãos Negras", que reúne alguns dos principais artigos e ensaios de Nascimento e já está na sétima reimpressão.
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O impulso levou o livro a ser comprado por secretarias de grandes municípios como São Paulo e Belo Horizonte para distribuição em escolas, o que pulveriza seu alcance. No ano seguinte, a Ubu editou "O Negro Visto por Ele Mesmo", outra seleção de primeira linha de textos da historiadora.
Olhando para fora —afinal, Nascimento defendia um olhar que compreendesse todas as margens do Atlântico—, houve uma coletânea relevante pela Princeton University Press, organizada por Gomes com Archie Davies, da universidade britânica Queen Mary e Christen A. Smith, da Universidade do Texas.
Nascimento ainda foi objeto de simpósios em países como Gana e Alemanha. O foco de sua filha em internacionalizar seu trabalho é tamanho que ela, dançarina de formação convertida em palestrante, se mudou para os Estados Unidos. Mas não para qualquer lugar, se diverte Gomes, e sim para "o Harlem, um lugar de quilombo em plena Nova York".
FALANDO EM HOMENAGEM O prêmio Jabuti escolheu quem será a personalidade literária celebrada na cerimônia de 2024, posto que coube a Pedro Bandeira e Sueli Carneiro nos últimos anos. A homenageada será Marina Colasanti, autora de 87 anos que venceu o prêmio de conjunto da obra da Academia Brasileira de Letras em 2023, é dona de uma obra multifacetada que vai dos poemas à literatura infantil, e já levou nada menos que nove Jabutis.
E FALANDO EM PREMIADO A editora 34 comprou os direitos para publicar "Jacarandá", segundo romance do escritor e rapper Gaël Faye, que acaba de vencer o prestigioso prêmio Renaudot. Também finalista do Goncourt, o romance do autor nascido no Burundi aborda a reconstrução de Ruanda após 30 anos do massacre que cindiu o país, pelos olhos de um jovem francês que se dirige à terra natal de sua mãe.
TEM MAS ACABOU Cada vez mais demandada, a escritora Mariana Salomão Carrara faz sua estreia na literatura infantil com "Sabor Paciência", livro que será publicado pela editora Baião em janeiro e acompanha um menino que passa a vida na fila do sorvete. O ilustrador é o italiano Giovanni Colaneri, que nunca teve trabalhos lançados no Brasil.