VW aguarda anúncio de investimento para decidir seu futuro na Argentina

há 4 meses 100

Durante o lançamento da Amarok (restyling 2024), que a Volkswagen Argentina realizou na semana passada no parque Tecnópolis, na Grande Buenos Aires, a estratégia de comunicação da marca foi compartimentar o acesso dos jornalistas aos executivos da empresa.

A mídia especializada em automóveis, como nossos colegas do Motor1.com Argentina, só conseguiu entrevistar especialistas em produto, como Francesco Pecchia, que pela primeira vez explicou os motivos pelos quais a Volkswagen decidiu fazer um facelift da Amarok na Argentina, em vez de oferecer a nova geração da picape, que a Ford produz na África do Sul para o resto do mundo.

Já os jornalistas de Economia foram convidados a entrevistar os principais gestores regionais da marca, entre eles, Alexander Seitz, presidente da VW América do Sul, e Hendrik Muth, chefe de Vendas e Marketing da VW América do Sul.

As declarações mais interessantes, porém, vieram de Marcellus Puig, CEO da VW Argentina. Em uma entrevista coletiva com jornalistas de Economia, Puig reconheceu – pela primeira vez – que as duas fábricas que a marca alemã tem em Pacheco (para Taos e Amarok) e Córdoba  (para caixas de câmbio, caminhões e ônibus, além das motos Ducati) passam por um momento muito difícil. Além disso, admitiu que o futuro da filial local depende de um anúncio de investimento, que a matriz alemã poderá anunciar antes do final do ano.

Puig também surpreendeu ao decretar um futuro curto para a picape produzida em Pacheco:  “A Amarok tem fôlego, tem vida para os próximos dois ou três anos ”. É um quadro bem diferente do previsto por seu antecessor no cargo: “Teremos Amarok por mais dez anos”, prometeu em 2022 o executivo argentino Pablo Di Si, ao anunciar esta reestilização.

O Motor1.com Argentina conseguiu reconstituir as declarações completas de Marcellus Puig com base no que foi publicado pelos diferentes meios de comunicação que participaram da coletiva. O mosaico pode ser confuso, já que nem todos os veículos de imprensa publicaram as mesmas declarações de Puig, mas, no geral, é possível compreender em que consiste a crise que afeta a empresa. Reproduzimos na íntegra as frases atribuídas a Puig, citando os jornais e sites em que foram publicadas. Veja as afirmações de maior destaque.

Nova Amarok 2025 - Teaser Brasil

Volkswagen

Nova Amarok 2025 - Teaser Brasil

El Cronista

"Estamos debatendo os investimentos futuros, os modelos que vamos produzir na Argentina. Essa é a discussão. A Argentina é um país 'picapeiro'. Queremos fabricar no país e, para isso, temos que tomar muitas decisões. Se outra plataforma será incorporada ou não, por exemplo. Mas também temos que pensar na forma economicamente inteligente de fazer isso. Temos a fábrica de Pacheco operando em dois turnos. Também a de Córdoba. Estamos bem, mas não podemos descansar…"

"Hoje não posso dizer se o próximo programa ultrapassará ou não esses US$ 300 milhões porque ainda estamos decidindo o que faremos. O que posso afirmar é que a matriz não esqueceu a Argentina. A Volkswagen vê o país como a fábrica onde produz suas picapes. Nosso DNA é o produto. Continuaremos dispondo de Taos e Amarok. Em dezembro teremos que parar o jogo e ver com os fornecedores o que poderemos fazer no restyling do Taos.

“A matriz não esqueceu a Argentina.  Sofremos muito com a perda de competitividade, principalmente se compararmos com a fábrica irmã onde o Taos também é produzido: é difícil competir com o México. Dependendo dos custos adicionais do investimento que terá que ser feito, veremos se chegaremos à semana 35 ou não. Mas haverá reestilização do Taos.”

"Se o mercado argentino em 2025 for muito parecido com o do ano passado, voltaremos às 72 mil ou 74 mil unidades. Se pudermos fazer mais, faremos. Estou pressionando meus amigos brasileiros para exportar mais Amarok."

Infobae

“Não pode ser que a Argentina não tenha um mercado de 700 mil carros anuais. Com 740 mil unidades (produzidas ao longo de 14 anos), a Amarok é o veículo que mais fabricamos na história da fábrica de Pacheco, o que confirma que a Argentina é um país ‘picapeiro’. Na Alemanha sabem a importância que tem para o mercado argentino, e também para o Brasil, para onde vão 80% das Amarok que exportamos, e toda a América Latina, incluindo o México."

“Nos últimos anos houve uma perda significativa de competitividade e quando falo sobre isso estou juntando todas as questões. Então, procuramos melhorar a produtividade, a eficiência e a negociação com os fornecedores, enquanto o governo tenta contribuir, por exemplo, reduzindo o imposto PAIS (nota do tradutor: para operações em moedas estrangeiras) no início do próximo mês, e também reduzindo prazos de pagamento que eram 180 dias e agora são 90.”

“Então, em geral, há uma deterioração da competitividade, mas há ações que tomamos e outras que o governo, por sua parte, está tentando melhorar. Quando me encontrei pessoalmente com o Ministro da Economia e com a ADEFA (a Anfavea argentina), gostei da forma como ele ouviu e compreendeu a indústria e as necessidades que temos. O que foi prometido está sendo cumprido e isso é muito bom.”

"Quando converso com a matriz, sempre digo que não basta falar da Argentina olhando para um único ano. Você tem que mirar um pouco mais longe. Então, vendo hoje, a situação é completamente diferente da que havia no ano passado. Mas temos que observar os ciclos. Nosso ciclo de negócios é sempre de cinco anos. Levando em conta esses ciclos de cinco anos, a decisão foi continuar com a Amarok e fazer os investimentos em Pacheco e nos fornecedores, porque o negócio fecha.”

“A redução parcial do imposto PAIS é particularmente muito bem-vinda, mas a verdade é que a melhor medida seria acabar definitivamente com este imposto e isso virá em dezembro. De cada carro que exporto para o Brasil, um quarto é de impostos. E o Brasil, quando exporta, o faz com 7%, e o México exporta com 0% de impostos. Amarok e Taos têm 30% de componentes nacionais, ou seja, 70% das peças pagam o imposto PAIS, mas desses 30% de fornecedores locais, quase todos trabalham com insumos importados, então o impacto do imposto é superior a 70% do carro que fabricamos em Pacheco”

“Este ano, os emplacamentos em geral caíram 19% até julho. Nós crescemos 3% em participação de mercado, embora tenhamos caído um pouco porque demoramos a iniciar a produção devido ao problema de pagamentos de dívidas com os fornecedores, e só começamos em meados de março. Devemos fechar a produção deste ano com um total aproximado de 65 mil unidades (50% Amarok e 50% Taos), um pouco abaixo do ano passado devido às circunstâncias que mencionei e às mudanças na Amarok. No ano passado foram 72.500 unidades, então se olharmos como começou 2024, que falava de 325 mil carros para a indústria, não estamos nada mal. Junho anualizado dá 350 mil e julho anualizado chega a 385 mil unidades. Hoje estimamos que chegaremos ao final do ano com um total de 370 mil automóveis e utilitários leves produzidos na Argentina.”

“Acreditamos que existem duas variáveis ​​que influenciam diretamente na melhoria dos números: financiamento e oferta. Com financiamentos, incluindo consórcios, iniciamos janeiro com 30% e chegamos a julho com 60%. Ou seja, 60% dos carros que vendemos em julho foram financiados. Há um efeito claro das taxas de juro que passaram de 110% para 40%, porque essa é a base dos subsídios. Mas há outra parte muito importante da história, que é a possibilidade de trazer toda a gama de modelos e em todas as versões. Isso permite que você expanda bastante a oferta. Praticamente dobramos as importações em relação ao ano passado e acreditamos que isso está acontecendo em todas as marcas. Decidimos rapidamente. Arriscamos porque acreditávamos que isso iria acontecer e queríamos aproveitar. Nos últimos dois meses vimos muito o impacto dessas duas coisas.”

“A chave aqui é que o mercado acelere. Estamos nos volumes mínimos históricos da indústria, então acreditamos que o próximo ano certamente será melhor. Os emplacamentos não podem ser inferiores a 370.000 por ano, devido à demografia da Argentina e ao poder de compra. Simplesmente não podem ser. E se olharmos para o período antes da pandemia e para a média de 2010 a 2019, eram cerca de 700 mil carros por ano. Esse deveria ser o dado de referência do mercado.”

La Nación

“Pacheco é a fábrica que produz picapes para o grupo Volkswagen. A Argentina é um país de picapes e daqui produzimos para o mercado local, para a região e para o Brasil. Na Argentina, a Amarok é muito reconhecida, e no Brasil há muito espaço para crescer. Hoje, 50% são vendidos no mercado local e os 50% restantes são exportados. Na história da produção da Amarok, 65% foram exportados.”

“Sempre que recebemos visitantes da Alemanha, a primeira coisa que faço é mostrar duas ou três versões da Amarok e algumas da concorrência, que respeito muito porque têm bons produtos, para que os convidados possam experimentar as picapes. É dirigindo que se percebe a qualidade dos acabamentos e a potência do motor V6, que é tremenda. É um veículo de trabalho que transmite a sensação de guiar um carro de passeio. Há espaço para continuar produzindo e vendendo esta Amarok.”

“Um terço do mercado continua comprando Amarok na Argentina (era o percentual do ano passado) e este ano estamos em 23% devido à mudança de modelo. Pelo que os clientes falam nas clínicas que fazemos, há espaço para continuar com a picape por muito mais tempo devido à sua dirigibilidade e motorização, que é a mais potente da categoria.”

“Quando o Amarok apareceu, marcou uma virada. Picape média deixou de ser uma ferramenta de trabalho e passou a ser um veículo de dupla utilização. Também foi uma guinada em nível de equipamento. Até aquele momento, o único que importava era que a picape fosse robusta. O surgimento da Amarok alavancou o segmento, que hoje representa 20/22% das vendas totais. Nossa sensação é que isso não vai mudar significativamente.”

“Na renovação da Amarok priorizamos a segurança, com seis airbags e reforços na carroceria, a tecnologia (com a nova tela) e as duas portas USB C na traseira, que a picape não tinha . O que também fizemos foi equipar mais as versões básicas adotando elementos que a concorrência não tem, como o controle de cruzeiro.”

“Na ADEFA, continuamos conversando com o governo para termos alguma participação no RIGI (nota do tradutor: Regime de Incentivos a Grandes Investimentos, com benefícios fiscais, aduaneiros e cambiais, além de estabilidade regulatória e proteção contra abusos do Estado). No último período, nossa indústria investiu US$ 6,2 bilhões. A Volkswagen investiu 20% disso, US$ 1,2 bilhão. Agora temos que investir em novas tecnologias, e continuamos negociando. No caso do Brasil, o programa Mover estimulou muito os investimentos anunciados no país vizinho, US$ 20 bilhões no último ano. Mas com mais de 25 anos no setor como eu, sabemos que existem ciclos. O Brasil precisava de investimentos para renovar produtos. A matriz da Volkswagen não esqueceu a Argentina. Nosso DNA é produto e vamos continuar discutindo o futuro.”

“Aqui sofremos a perda de competitividade em comparação com a outra fábrica que produz o carro (em Puebla, no México). É impossível competir com o México dada a sua integração com os Estados Unidos e a sua baixa carga fiscal. Agora, se olharmos o desempenho do modelo, temos 30% do mercado (em SUVs). Neste ano de crise e repensando tudo, suspendemos o desenvolvimento do Taos PA (a reestilização que estava prevista para o segundo semestre de 2025) para rever os custos. Mas o plano é continuar a produzir o Taos aqui. Depois do final do ano voltaremos a conversar.”

“Estamos discutindo com a matriz o plano de investimentos para o próximo ciclo de cinco anos. A partir daí, pensemos em 2030, veremos vantagens e desvantagens desta Amarok, cuja plataforma já tem vários anos. Estamos vendo isso com a matriz. Não tenho dúvidas de que haverá uma versão híbrida como opção.”

MDZ Online

“A Amarok tem fôlego, tem vida para os próximos dois ou três anos. Estamos analisando com a controladora, pensando em 2030. Quais as vantagens e desvantagens. A plataforma Amarok tem cerca de 15 anos. É claro que discutimos isso com a sede.”

Leia o artigo completo