Você realmente investe melhor que o Ibovespa? Ou só está se iludindo?

há 20 horas 5

Se você entrasse em uma maratona contra corredores de elite, ignoraria o tempo médio do grupo porque acredita que está mais preparado? Parece absurdo, mas muitos investidores fazem exatamente isso quando descartam o Ibovespa como referência, sob o argumento de que ele contém empresas ruins e que ninguém investiria nelas. Frequentemente, quando cito o Ibovespa para mensurar a rentabilidade de mercado, recebo críticas como esta. Mas será que essa justificativa faz sentido ou é apenas uma forma de evitar encarar a realidade?

A verdade é que a maioria dos investidores profissionais, com anos de experiência e acesso a informações "privilegiadas", também evita empresas ruins. Eles analisam balanços, conversam com executivos e fazem projeções detalhadas antes de tomar qualquer decisão. Mesmo assim, estatisticamente, a maior parte dos fundos de ações perde para o Ibovespa consistentemente. Se os gestores mais preparados do mercado têm dificuldade em superar o índice, qual a chance real de um investidor individual conseguir isso sozinho?

O problema central é que muitos investidores individuais não medem seu desempenho de forma adequada. Eles lembram apenas das ações que subiram, enquanto esquecem as que tiveram quedas expressivas. Retiram da amostra aquelas que já venderam e que perderam muito. Ou pior, mantêm posições perdedoras por anos, recusando-se a vender porque "ainda não realizaram prejuízo" e não as consideram no cálculo de retorno, como se ignorar a perda mudasse a realidade.

Esse comportamento está diretamente ligado ao viés da autoatribuição, um fenômeno comportamental amplamente estudado em finanças, que mostra como os investidores tendem a atribuir seus sucessos à própria habilidade e seus fracassos ao acaso ou a fatores externos. Se uma ação sobe, o mérito é dele. Se cai, a culpa é do governo, do cenário global ou do mercado. Esse viés reforça a crença de que a estratégia está funcionando, mesmo quando os números mostram o contrário, se fosse realmente medido.

Se o Ibovespa fosse irrelevante, por que tantos gestores tentam superá-lo? Ou, por que todos cobram os gestores para ganharem dele? O índice não é uma lista aleatória de ações, mas um reflexo do mercado. Ele é composto por empresas que, juntas, representam as ações negociadas na B3. Pode conter algumas que estão mal, mas também contém as vencedoras, e esse equilíbrio faz com que, no longo prazo, seu retorno seja uma referência válida para qualquer investidor.

O maior perigo de ignorar o Ibovespa não é apenas perder um comparativo de desempenho, mas se iludir sobre os próprios resultados. Se você não está medindo corretamente sua rentabilidade, como pode ter certeza de que sua estratégia está funcionando?

Acompanhar o índice não significa replicá-lo, mas garantir que suas escolhas são, de fato, melhores do que simplesmente comprar um fundo passivo como um ETF que o acompanha. Se sua carteira constantemente fica para trás, talvez a questão não seja o índice que você escolheu ignorar, mas sim o fato de que você está fugindo da realidade e, possivelmente, perdendo dinheiro no processo.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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