Nos primeiros minutos de 2025, logo após assistirmos à queima de fogos em Maresias, uma das praias de São Sebastião, no litoral norte paulista, eu e meus amigos precisamos voltar às pressas para o apartamento que havíamos alugado para o feriado.
Dois deles estavam manifestando os primeiros sintomas da virose que se alastrou por praias do litoral do estado, provocada por norovírus. Enquanto em cidades da Baixada Santista moradores e turistas lotaram hospitais e unidades de saúde, a Prefeitura de São Sebastião, procurada pela reportagem, negou aumento no número de atendimentos.
O norovírus é um tipo de vírus com alta capacidade infecciosa, transmitido por via fecal-oral. Os sintomas são diarreia, vômito, dores abdominais e, em alguns casos, febre.
Meus dois amigos quase não conseguiram chegar ao apartamento a tempo de ir ao banheiro. No dia seguinte, acordaram ainda pior: vomitando sem parar e sem energia alguma.
O restante da turma, até então, estava bem. No dia seguinte, 2 de janeiro, tínhamos planejado um passeio para Toque-Toque, uma praia mais isolada na região. Mas eu e outros dois colegas acordamos com os mesmos sintomas.
Passei o dia deitada em um sofá-cama sem condições de comer nada e sem vontade de me mexer. Para o dia 3, havíamos programado um passeio de barco, que já estava pago. Acordei me sentindo melhor e pronta para o passeio, porém a outra metade da turma havia adoecido. Tivemos que cancelar.
Observamos ainda uma espécie de reinfecção. Nossos dois "pacientes zero", que haviam passado mal na noite de Ano-Novo, voltaram a apresentar os sintomas, mas agora com a ocorrência também de febre, o que não tinha rolado ainda.
Não chegamos a procurar atendimento médico, mas nas constantes idas à farmácia descobrimos que muita gente estava doente. Remédios para controlar vômitos e diarreia estavam em falta em três farmácias que procuramos. Nas prateleiras do supermercado, até o Gatorade estava escasso (só tinha aquela versão azul). Funcionários dos caixas, garçons, farmacêuticos e outros moradores davam a mesma recomendação: não entrem no mar.
A origem das infecções, contudo, ainda é investigada. O Instituto Adolfo Lutz está analisando amostras de água potável e água do mar coletadas em municípios do litoral, e os resultados devem ser divulgados nos próximos dias.
No caminho entre o apartamento e a praia, nos deparávamos diariamente com esgoto a céu aberto e lixo acumulado nas calçadas, inclusive em frente a estabelecimentos que vendem comida. A coleta de lixo e o tratamento de esgoto pareciam não dar conta do fluxo de turistas do feriado. A prefeitura, porém, afirma que ambos os serviços operaram normalmente.
Apesar da perturbação, nenhum dos meus amigos (todos adultos com idade entre 30 e 40 anos) evoluiu para um caso grave da doença. Seguimos viagem, trocando os planos de frequentar bares e restaurantes por uma alimentação leve e hidratação.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de São Sebastião afirmou, em nota, que foram registrados 211 casos de virose na primeira semana de 2025, número inferior ao do mesmo período do ano passado, com 244 casos.
"A média de casos de virose no município está normal, sem nenhuma alteração. Vale ressaltar que um possível aumento é esperado em razão da quantidade de pessoas neste verão de 2025. Contudo, as equipes da Secretaria de Saúde estão preparadas para atender um suposto aumento neste quantitativo, caso ocorra", disse a prefeitura.