"Não, não é." Indagado se a oferta de zerar tarifas dos dois lados do Atlântico seria suficiente para suspender sua ofensiva contra a União Europeia, Donald Trump foi breve. No lugar, sugeriu que o bloco comprasse mais energia americana. "Podemos ganhar US$ 350 bilhões (R$ 2,04 trilhões) em uma semana."
A resposta do presidente americano veio apenas na noite europeia, durante entrevista no Salão Oval da Casa Branca. Horas antes, na manhã de segunda-feira (7), Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, havia revelado a oferta, feita mais de uma vez, ressaltou, sobre a abolição de tarifas entre UE e EUA para produtos industriais.
Von der Leyen apelava para a solução negociada em Bruxelas enquanto ministros dos 27 países do bloco deliberavam o primeiro pacote de retaliações, em Luxemburgo. Refletindo as divisões internas sobre o tamanho que a reação europeia deveria assumir, a reunião amenizou o alcance das contramedidas. Serão taxados em 25% produtos como soja, arroz, suco de laranja, ferro, aço, alumínio e veículos; ficou de fora o uísque tipo bourbon e alguns produtos lácteos em atenção a pedidos de França, Espanha, Itália e Irlanda, ameaçados com sobretarifas específicas por Trump.
A retaliação aos 25% que já estão sendo cobrados pelos EUA nas remessas de aço, alumínio e carros, inicialmente planejada para atingir US$ 28 bilhões (R$ 158,8 bilhões) de importações, ficará limitada a US$ 22,1 bilhões (R$ 124,3 bilhões). O pacote será votado nesta quarta-feira (9), mas a discussão sobre a calibragem da reação permanece.
O valor exigido por Trump em compra de energia não tem lógica de mercado nem de demanda. "Temos um déficit de US$ 350 bilhões com a União Europeia, e ele vai desaparecer rapidamente", disse. "Uma das maneiras pelas quais isso pode acontecer rapidamente é eles comprarem energia de nós. Eles podem comprá-la, e eliminamos os US$ 350 bilhões em uma semana."
O volume sugerido por Trump para zerar o déficit comercial dos EUA com a UE equivale, em valor, a 85% do que foi gasto pelo bloco em todo o ano de 2024. Os americanos estão longe, porém, de serem os maiores fornecedores. Com o produto que mais fornecem, o gás natural liquefeito, os EUA arrecadaram no ano passado cerca de US$ 20 bilhões (R$ 111,6 bilhões).
Para completar, a demanda de energia fóssil caiu 15% desde 2022, quando a UE iniciou o plano de se livrar do gás russo devido à guerra da Ucrânia. Ainda assim, aumentar as importações de energia foi um dos primeiros acenos feitos por Von der Leyen quando Trump tomou posse em janeiro, já alertando que o tarifaço viria no curto prazo.
A UE pode aumentar a fatia americana nas importações, mas isso puniria parceiros que não estão impondo tarifas ao bloco. A Noruega fornece, em volume, o dobro de gás natural em comparação ao GNL americano. Reorganizar na marra as cadeias de fornecimento é um dos aspectos mais insidiosos e importantes do projeto tarifário de Trump.
Pelos discursos, isso não vai acontecer. A UE anunciou na segunda-feira (7) que a Noruega não seria prejudicada pelas negociações com os EUA. O país não faz parte da zona do euro, mas tem acordo de livre comércio com o bloco, assim como Suíça, Liechtenstein e Islândia.
Nesta terça-feira (8), Von der Leyen teve uma conversa por telefone com Li Qyang, primeiro-ministro da China, na qual pediu esforço por uma solução negociada com os EUA. Ameaçado por uma retaliação de 50%, o governo chinês tinha afirmado horas antes que "lutará até o fim" a guerra comercial precipitada por Trump.
UE e China acertaram, ao menos, o monitoramento do comércio entre os países para evitar um derrame de produtos chineses desviados do mercado americano para o europeu.
Além de uma conta maior de energia, Trump exigiu dos europeus um relaxamento da regulação de segurança dos automóveis no continente. Segundo o presidente americano, os altos padrões da UE funcionam com uma "tarifa não monetária" e prejudicam as exportações de carros americanos. Segundo especialistas, a argumentação do presidente americano é enviesada.