Trump pressiona dólar, JBS mira negócio de salsichas e o que importa no mercado

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O que esperar do dólar

Uma vitória do republicano Donald Trump na eleição dos Estados Unidos tende a elevar o dólar no Brasil.

Essa é a visão de analistas ouvidos pela agência Reuters, em reportagem publicada na Folha.

O aumento recente nas chances de o ex-presidente vencer é inclusive um dos fatores que fizeram o dólar ultrapassar os R$5,70 nos últimos dias.

Entenda: as propostas econômicas de Trump, como aumento de tarifas sobre produtos importados e corte de impostos são vistos como fatores de inflação e de pressão sobre a dívida pública dos Estados Unidos.

↳ A dívida americana está ao redor de 120% do PIB (Produto Interno Bruto) e segue crescendo. Veja por que isso representa um risco.

Assim, o banco central americano tende a evitar cortes maiores nos juros, mantendo o dólar valorizado.

Mais motivos. Outra pressão sobre o real é a própria taxa contra importados, caso produtos do Brasil sejam atingidos.

↳ Os Estados Unidos são um dos nossos maiores clientes, importando 10,9% do que vendemos.

↳ Em 2023, os americanos enviaram US$ 36,9 bilhões (R$ 209,06 bilhões) para cá ao comprar produtos como petróleo, ferro e café.

Tensões. O dólar ainda pode subir caso as tensões no cenário geopolítico aumentem pós vitória de Trump, já que a moeda é uma espécie de porto-seguro e se valoriza nas incertezas.

Motivos internos. Esse cenário internacional levou a moeda americana a iniciar as negociações de ontem em alta, batendo R$ 5,72, mas falas do ministro Fernando Haddad contribuíram para um queda logo depois.

↳ No preço, estavam também incertezas sobre as contas públicas brasileiras.

↳ A moeda fechou o dia a R$ 5,66.

O ele disse. Haddad reforçou o compromisso do governo com as regras fiscais, que vem sendo colocadas em xeque devido ao crescimento dos gastos.

Essa desconfiança faz o dólar operar acima de R$ 5,40 desde junho.

E o que esperar? Apesar de bater os R$ 5,70, a expectativa mais recente do mercado financeiro aponta que a moeda encerra este ano em R$ 5,42. Veja outras previsões aqui.

Para a moeda baixar mais, economistas apontam que o cenário precisaria de:


JBS mira negócio bilionário de salsichas

A JBS e a mexicana Sigma Alimentos estão entre as empresas que competem para adquirir a Oscar Mayer, fabricante de salsichas, frios e embutidos da Kraft Heinz nos Estados Unidos.

↳ A compra da marca, popular no país, pode custar quase US$ 3 bilhões (R$ 16,9 bi).

Mudanças. A Kraft Heinz está tentando reorganizar seu portfólio em direção a produtos alimentícios mais saudáveis.

A Oscar Mayer e outras marcas vistas como não essenciais foram agrupadas numa divisão própria.

O interesse da JBS. Maior frigorífico do mundo, é controlada pela J&F, holding de propriedade dos irmãos Joesley e Wesley Batista. A operação nos Estados Unidos é uma das mais relevantes, fruto de diversas aquisições nos últimos anos.

A empresa tem sido questionada, inclusive, por supostos aumentos abusivos de preço no setor, sendo processada recentemente pelo McDonald's, um dos seus clientes.

É dona da empresa avícola Pilgrim's Pride e distribui várias outras marcas de carne bovina por lá, incluindo Swift, Certified Angus Beef, Blue Ribbon Beef e Cedar River Farms.

Relembre a fusão: Kraft e Heinz fundiram as operações em 2015, numa operação apoiada apoiada pelos investidores da 3G Capital e Berkshire Hathaway, que investiram US$ 10 bilhões (R$ 56,6 bilhões) no novo negócio e se tornaram controladores da companhia.

↳ Além da Oscar Mayer, a companhia é dona de marcas como Kraft, Heinz, Philadelphia.

↳ No Brasil, tem também as marcas Hemmer e Quero, sendo líder nos segmentos de ketchup, molhos e conservas.


Novidades no Tesouro Direto

Investir em títulos do governo brasileiro vai ficar mais fácil a partir de 17 novembro. A plataforma Tesouro Direto deixará de exigir o valor mínimo de R$ 30 para as transações.

Se a fração de um título custar R$ 1, por exemplo, e o investidor quiser apenas ela, poderá fazer a compra.

Por que importa: o programa existe desde 2002 e permite que investidores de qualquer tamanho "emprestem" para o governo por conta própria, sem intermediação.

Os títulos públicos são considerados os investimentos mais seguros dentro de qualquer país, já que o risco de calote é menor. Ao mesmo tempo, os juros pagos como remuneração também são mais baixos.

Novo limite. Em parceria com o Tesouro, a B3, que administra não só a Bolsa de Valores do Brasil, mas também o mercado de renda fixa, anunciou que vai dobrar o limite máximo de investimento por pessoa.

↳ Ele saltará de R$ 1 milhão para R$ 2 milhões ao mês.

Gift-card. Outra novidade prevista para o fim do ano, mas ainda sem data, é o lançamento de um cartão-presente pré-pago, que permitirá ao presenteado investir nos títulos.

O objetivo é usar o apelo dos presentes para ampliar a base de investidores.

Levantamento publicado na Folha mostra que a praticidade da renda fixa tem atraído jovens.

Pop. Em agosto, o Tesouro Direto bateu recordes de aplicações, que somaram pouco mais de R$ 8 bilhões, e de resgates, que chegaram a R$ 12,9 bilhões.

↳ Os títulos mais demandados foram os indexados à inflação (50,6%), seguidos pelos indexados à Selic (41,7%) e os prefixados (7,8%). Entenda cada um aqui.

Juros, juros e mais juros. Uma das explicações é o novo ciclo de alta da Selic no Brasil, e expectativas de que ela suba mais no futuro. Isso eleva a rentabilidade da renda fixa. Veja mais.

Além da própria Selic, a remuneração paga pelo governo nos títulos do governo subiu como um reflexo da desconfiança de investidores sobre o futuro das contas do governo Lula e para a inflação. Para compensar o risco, o rendimento exigido do governo sobe.

↳ O Prefixado com validade em 2031, por exemplo, fechou o dia de ontem rendendo 12,90% ao ano.

↳ Veja em quais aplicações investir com ciclo de alta da Selic.

Sim, mas… Ao mesmo tempo em que a remuneração mais alta é boa para investidores da renda fixa, ela também esfria a economia e tende a levar a Bolsa a cair.


Para ler:

  • "Calma sob pressão", Henrique Meirelles, 192 páginas, editora Planeta.

O presidente Lula conviveu com o economista Henrique Meirelles no comando do Banco Central por oito anos, durante seus primeiros mandatos. Ele mesmo indicou o economista em 2003.

Ao longo de 2024, Lula fez críticas à independência da instituição, obtida no governo Bolsonaro (PL).

O petista destacou mais de uma vez que Meirelles sempre teve autonomia, mesmo sem garantia em lei.

Mas qual é a visão do ex-presidente do BC sobre isso?

No livro "Calma sob pressão: o que aprendi comandando o Banco de Boston, o Banco Central e o Ministério da Fazenda", lançado em setembro, ,Meirelles revela que Lula pediu que ele baixasse os juros apenas uma vez, em 2008, e que recebeu um "não" como resposta.

Outros relatos mostram os bastidores da criação do teto de gastos e da reforma trabalhista no governo Temer, quando Meirelles voltou a Brasília, desta vez no Ministério da Fazenda.

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