Um RNA mensageiro (mRNA) e uma partícula que o transporta apresentaram resultados positivos no tratamento da pré-eclâmpsia, síndrome hipertensiva que ocorre na gravidez e afeta gestantes e fetos, aponta estudo publicado na Nature. Ainda preliminar, a tecnologia dilatou vasos sanguíneos, melhorando a circulação de sangue na placenta sem aumentar a pressão arterial no organismo da gestante.
A ideia da pesquisa começou na pandemia de Covid como uma ideia de explorar a tecnologia de mRNA em grávidas. Kelsey Swingle, estudante de doutorado de bioengenharia na Universidade da Pensilvânia, nos EUA, e uma das autoras do artigo, explica que, naquele momento, ainda não era evidente o efeito das vacinas de mRNA em gestantes, já que "mulheres grávidas não foram incluídas como parte dos pacientes nos ensaios clínicos".
Ela e outros pesquisadores da universidade norte-americana pesquisaram nanopartículas lipídicas utilizadas para transportar o mRNA em camundongos fêmeas. Nesse primeiro momento, os cientistas averiguaram que as nanopartículas eram eficazes em levar o mRNA para a placenta dos animais.
"Então, foi quando fizemos a pergunta ‘como podemos usar isso para tratar a pré-eclâmpsia?’", continua Swingle.
A pré-eclâmpsia afeta de 3% a 5% das grávidas em todo mundo, especialmente em países em desenvolvimento. A condição é uma das principais causas de mortalidade materna, além de impactar o desenvolvimento dos fetos. Ela ocorre quando existe uma má formação na placenta, dificultando a circulação de sangue nesta região. Tal cenário pode levar a um desfalque de nutrientes e oxigênios disponibilizados ao feto. Para evitar isso, o organismo aumenta a pressão sanguínea da gestante de forma a manter o ciclo de sangue na placenta, o que pode causar pressão alta.
Embora o mecanismo que causa a pré-eclâmpsia seja bem conhecido, não existe um tratamento eficaz contra a condição. Os medicamentos disponíveis atuam principalmente nos sintomas, mas não na causa. Por outro lado, o que os cientistas buscaram foi nanopartículas lipídicas e um modelo de mRNA para a produção de uma proteína que dilata os vasos sanguíneos.
Eles trabalharam com 98 nanopartículas em camundongos com pré-eclâmpsia induzida. Desse universo, uma nanopartícula em particular foi a que apresentou o melhor desempenho no controle da condição. Essa partícula transporta de forma bem-sucedida o mRNA que, por sua vez, carrega a informação genética da proteína relacionada a dilatação de vasos sanguíneos. Por consequência, o sangue circula mais facilmente para a placenta sem demandar o aumento da pressão arterial.
O resultado também trouxe outros benefícios. Os pesquisadores observaram que, com essa terapia, o desenvolvimento dos fetos foi mais saudável em comparação àqueles sem acesso ao mRNA.
Outro aspecto positivo tem relação à facilidade que envolve a tecnologia. Somente uma injeção foi suficiente para causar uma mudança na estrutura vascular dos camundongos. Isso é um indicativo de que, potencialmente, o efeito proporcionado pela tecnologia seja permanente e que não demande aplicações constantes.
Por enquanto, esses resultados foram vistos só em camundongos, que contam com muitas diferenças na gestação comparado a humanos. Por exemplo, nesses animais, o período de gravidez é de somente 20 dias.
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Sendo assim, pesquisas em outros animais são necessárias para que, eventualmente, testes em humanos possam vir a acontecer. Swingle explica que, nos próximos anos, os pesquisadores esperam estar aptos a realizar testes semelhantes em primatas não-humanos.
"Precisamos testar nesses primatas porque eles não são apenas os animais mais próximos dos humanos, mas também têm uma placenta e um período gestacional muito semelhantes aos nossos", afirma.
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