Trabalho presencial e falta de tempo impulsionam 'marmitas gourmet'

há 1 dia 1

‘Marmitas gourmet’ estão se popularizando com ingredientes caros e refeições mais refinadas, impulsionadas pela presença mais forte do trabalho presencial nas empresas e pela alta nos preços da alimentação fora de casa, inclusive entre trabalhadores de maior renda. Segundo a Kantar Consultoria, a redução do home office tem feito as classes A e B levarem comida de casa para o escritório, seja por praticidade ou para cuidar da saúde.

Estudo da consultoria aponta que, entre o quarto trimestre de 2023 e de 2024, a parcela dos mais ricos que leva comida de casa para o trabalho aumentou de 36,5% para 41,5%. De acordo com o levantamento, mais do que dobrou a quantidade de vezes na semana em que as classes A e B recorrem às marmitas. No mesmo período, houve alta de 112% na frequência, passando de 46 milhões de vezes para 98,3 milhões.

O aumento acompanha a retomada mais consistente do trabalho presencial nas empresas. Segundo a plataforma de contratação Gupy, entre julho de 2023 e junho de 2024, 88% das vagas publicadas no site foram presenciais. Entre as contratações, 89,3% foram nesse modelo.

Nas últimas semanas, o influencer Luiz Felipe Alves, 31, viralizou com conteúdos de marmitas para o marido. Os vídeos chamaram atenção pelas refeições caprichadas que Luiz prepara para os dias em que cônjuge trabalha presencialmente. Entre os pratos, estão sanduíche de berinjela empanada no pão ciabatta, escondidinho de alcatra e torta de manteiga escocesa.


Luiz Felipe diz que ele e o marido, Diógenes, 31, não integram as classes de mais ricos. Ele é influenciador, e o esposo, programador.

"Espero estar no caminho [sic]. Muita gente na internet acredita que somos ricos pela aparência da comida ou pelo apartamento. Nossa casa é linda, mas é alugada", diz.

Nos vídeos, divulgados no Instagram e TikTok, ele aparece organizando a bolsa térmica com as refeições preparadas. Os registros sempre começam com a fala "hoje meu marido trabalha presencial, bora montar a lancheira dele comigo?".

Segundo ele, seu marido Diógenes, 31, tinha o hábito de chegar em casa sem ter se alimentado durante o dia. Na metade de 2024, Luiz começou a preparar as marmitas para facilitar a vida do esposo. Decidiu transformar o preparo em conteúdo oito meses depois.

"Via muito conteúdo de mãe fazendo marmita para o filho, e esposa para marido. Já fazia vídeos sobre culinária preparando algumas receitas específicas. Quando eu falei, vou fazer marmita para o meu marido, o pessoal gostou", diz.

O influenciador acumula mais de 400 mil seguidores no Instagram e cerca de 530 mil no TikTok.

Para Renan Cavallieri, gerente sênior da Kantar, não há uma regra de que pessoas das classes A ou B consumam marmitas com alimentos caros. O que marca o comportamento das classes, segundo ele, é uma maior resistência à alta de preços de proteínas.

"A partir do momento em que a gente tem um aumento no preço da carne, as classes D e E buscam outras opções, como frango e ovos", diz.

Segundo Renan, os motivos para os mais ricos optarem por marmitas são a busca por praticidade e rapidez. "As classes A e B foram impactadas pelo home office e estão sendo agora com o retorno ao presencial. Por ter que se alimentar rapidamente, elas priorizam uma comida fácil, saudável e prática de fazer."

Para Victor Santos, CEO da Liv Up, empresa especializada em marmitas saudáveis, o retorno aos escritórios, aliado à inflação da alimentação fora de casa, têm fortalecido o setor de marmitas. "Observamos um aumento na quantidade de refeições consumidas no mês pelos nossos clientes", diz.

Segundo dados da Liv Up, hoje mais da metade (55%) dos clientes da empresa trabalham em regime 100% presencial ou híbrido. "Há mais preocupação com saúde e bem-estar entre os brasileiros", diz Victor.

A médica Ana Paula Mondragon Landim, 41, afirma que optou por marmitas para cuidar da saúde e economizar tempo.

O hábito de se alimentar por marmitas começou há seis anos, após o nascimento da filha. Optou por não comer mais fora de casa para se cuidar, mas, sem tempo, recorreu às marmitas prontas.

"Procuro alimentos saudáveis, com fibras, proteínas e carboidratos com baixo índice glicêmico. Não como alimentos industrializados e priorizo pratos que tenham baixo teor de sal e temperos naturais", diz.

Para Sabina Donadelli, nutricionista especializada em longevidade saudável, as marmitas permitem que a pessoa adapte as refeições às suas necessidades e restrições alimentares. "Escolher ingredientes frescos e controlar o uso de óleos, sal e temperos também são benefícios".

Os marmiteiros também podem economizar. André Braz, economista e coordenador de Índices de Preços do FGV Ibre, afirma que preparar refeições em casa é mais barato. "A alimentação fora de casa é um serviço, e, dentro desse serviço, existe o custo da pessoa que vai preparar e embalar aquela refeição."

Ele, contudo, também afirma que é necessário ponderar o custo-benefício. "Cabe avaliar o tempo que está dedicando à atividade. Nesse período que a pessoa está preparando a comida, ela poderia se dedicar a algo que a remunerasse para se alimentar fora ou não?", questiona.

De acordo com o levantamento da Kantar, comer fora de casa ficou 23% mais caro em 2024 em comparação com 2023. Para as classes D e E, esse aumento foi ainda mais significativo, chegando a 30%.

Folha Mercado

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NUTRICIONISTA DÁ DICAS PARA PREPARAR MARMITAS

  • Para a nutricionista Sabina Donadelli, uma marmita ideal deve ter proteínas (carnes magras, como frango e peixe, ovos e leguminosas), carboidratos complexos (arroz integral), gorduras boas (azeite extra virgem), fibras (legumes e verduras) e vitaminas e minerais (frutas);

  • Ela também recomenda utilizar potes térmicos ou compartimentos separados para manter os alimentos frescos.

  • Sabina aconselha dar preferência para temperos naturais, como ervas e especiarias, para realçar o sabor;

  • Levar molhos e azeite à parte e temperar na hora de comer evita que alimentos murchem, diz.

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