Em junho deste ano, o governo brasileiro emitiu títulos soberanos sustentáveis no mercado internacional. Com vencimento para 2032 e taxa de retorno de 6,4% ao ano, a emissão arrecadou US$ 2 bilhões (cerca de R$ 11,2 bilhões).
Segundo o Tesouro Nacional, a proposta do título é "manter uma presença ativa e constante do Brasil no mercado internacional", atuando em ações com o selo ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança).
Os títulos verdes, também chamados de green bonds, são instrumentos financeiros utilizados para levantar capital e financiar projetos que sejam benéficos ao ambiente.
Instituições, governos ou empresas emitem dívidas (papéis em que se comprometem a devolver com juros o recurso recebido), e os investidores esperam retorno financeiro do valor aplicado, semelhante a uma debênture convencional. Os títulos verdes estão sob o guarda-chuva dos títulos sustentáveis.
Eles são indicados para investidores com conhecimento sobre o mercado de capitais e familiaridade com o segmento de crédito privado, segundo Sophia Annicchino, gerente institucional da fintech Blox.
Como investir em títulos verdes?
Para definir se um título é verde, vale se atentar às descrições e documentações dos ativos. No caso dos fundos de investimento, títulos sustentáveis recebem a sigla "IS".
Empresas como Suzano, Klabin e Marfrig possuem títulos verdes em circulação no mercado, que podem ser comprados por meio de bancos ou corretoras. Banco do Brasil e Itaú, por exemplo, têm áreas dedicadas a fundos ESG de renda variável.
Entre os títulos disponíveis no mercado, Sophia Annicchino, da Blox, destaca o FI (fundo de investimento) BB Ações Sustentabilidade IS FIC FIA e o ETF iShares USD Green Bond como opções para os que buscam cestas de títulos verdes.
O FI do Banco do Brasil teve rendimento de 8,3% nos últimos 12 meses, enquanto o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), da B3, marcou 9,5%. Por outro lado, o fundo de índice da iShares teve retorno real em dólar de 4,3% no último ano.
Mas é sempre importante lembrar que retornos passados não são o principal aspecto a considerar na hora de optar por um investimento. É preciso sempre ponderar o cenário futuro, o que pode ser feito também com a ajuda de um consultor ou assistente financeiro..
Para comprar um título verde, é recomendado o acompanhamento de uma corretora, afirma Thiago Carone, head comercial da Nova Futura Private. Segundo ele, essa ajuda trará ao investidor uma carteira com mais diversidade, com investimentos de diferentes níveis de risco.
Títulos verdes podem ter isenção tributária, mas exigem cuidados
"O investimento em títulos verdes permite conciliar legado ambiental e retorno financeiro. Eles têm essa destinação travada em projetos sustentáveis de energia renovável, redução de emissão de carbono, entre outros", diz Sophia Annicchino, da Blox.
Por se enquadrarem, por vezes, na categoria de debêntures incentivadas (isto é, aqueles títulos de dívida voltados para projetos de infraestrutura), títulos verdes podem ser isentos do Imposto de Renda.
Folha Mercado
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Contudo, para Paula Zogbi, gerente de research da fintech Nomad, é importante se atentar ao risco de crédito da empresa. "Assim como em títulos não verdes, é necessário entender a chance de a empresa dar um calote. Afinal, títulos sustentáveis são financiamentos de projetos", diz.
Segundo Zogbi, uma solução pode ser apostar em fundos de investimento e ETFs, também chamados de fundos de índices, atrelados a um índice de referência como Ibovespa ou ISE. "É mais simples, por não exigir uma análise de crédito profunda da empresa ou estratégias para casar o prazo do título com o uso do seu dinheiro", afirma.
Thiago Carone, da Nova Futura Private, também destaca que há um risco de as empresas emitirem títulos sustentáveis e adotarem um discurso ESG, mas não se comprometerem com a causa. "Nem todas as empresas têm uma pauta bem sustentada em ESG, e elas podem assumir uma responsabilidade maior do que são capazes de cumprir", diz.
GOVERNO APOSTA EM TÍTULOS VERDES NO BRASIL; NÚMERO DE FUNDOS CAI
Antes da emissão deste ano, em 2023, o Brasil emitiu títulos verdes com vencimento em 2031. Segundo o Tesouro Nacional, os investimentos, que também arrecadaram US$ 2 bilhões (cerca de R$ 11,2 bilhões), tiveram uma taxa de retorno para o investidor de 6,5% ao ano.
Para comparar, títulos tradicionais do Tesouro Direto, como os atrelados à Selic, tiveram retornos acumulados em torno de 13% no ano de 2023, enquanto títulos indexados à inflação (Tesouro IPCA+) ofereceram retornos superiores a 30% no mesmo período.
"O Brasil pode ser referência nesse tipo de emissão pelo potencial de financiar projetos sustentáveis. Há muita biodiversidade e recursos naturais no país, e [os títulos verdes] mostram um compromisso com políticas ambientais", diz Paula Zogbi, da Nomad.
Por outro lado, Ricardo Assumpção, sócio-líder de Sustentabilidade e CSO Latam da EY, aponta que, nos últimos cinco anos, os títulos verdes ficaram restritos a um nicho do mercado.
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"Os títulos sustentáveis precisam ser um produto menos exclusivo para serem eficientes. Não basta premiar a empresa que assume compromissos ou fazer com que o banco diminua riscos. É importante ter escala", afirma.
Segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), após ultrapassar R$ 1 bilhão em 2021, fundos de ações sustentáveis e de governança tiveram uma expressiva queda e chegaram a R$ 98 milhões em 2023.
Onde encontrar títulos verdes:
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Por meio de bancos e corretoras. Banco do Brasil, Itaú, entre outras instituições, têm páginas dedicadas a investimentos sustentáveis ou ESG;
Quais são as opções disponíveis em renda fixa e renda variável?
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Em renda fixa, empresas como Suzano, Klabin, Marfrig, entre outras, têm debêntures no mercado para projetos ESG;
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Em renda variável, fundos de investimentos do Banco do Brasil e Itaú, voltados para causas sustentáveis, além do ETF do iShares, foram opções citadas pelos especialistas consultados.
Debênture SUZBA0 da Suzano | 23/09/2024 |
7,40% ao ano | Geração de energia renovável |
Debênture KLBNA5 da Klabin | 15/08/2024 | - | Redução da emissão de gases de efeito estufa |
Fundo de investimentos Ações Sustentabilidade IS FIC FIA do Banco do Brasil |
01/12/2005 | 16,63% ao ano | Alocar recursos em empresas integrantes da carteira teórica do Índice de Sustentabilidade Empresarial, o ISE |
Fundo de índice ISUS11 do Itaú |
Outubro de 2011 | 20,08% ao ano | Permitir o acesso a empresas com comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial a partir do ISE |