A moratória de 30 dias acabou. O governo Trump efetivou uma tarifa de 25% sobre todos os bens importados do Canadá e do México, na prática desestabilizando décadas de comércio entre os países da América do Norte sob a alegação de que o "tráfico de drogas descontrolado" representa uma ameaça à segurança nacional dos EUA.
A indústria automotiva pode ser a mais afetada por essa medida. Como apontado pelo Detroit Free Press, os planos de novos produtos no setor automotivo geralmente envolvem um ciclo de cinco anos. Isso torna praticamente impossível para montadoras e fornecedores se adaptarem rapidamente a mudanças significativas. No curto prazo, isso significa que tudo relacionado a automóveis provavelmente ficará mais caro por lá. Isso inclui os preços de veículos novos - que podem subir em até 25% -, peças para veículos usados e até mesmo o seguro automotivo, já que os custos de reparação aumentarão.
Com o futuro ainda incerto, como as montadoras estão respondendo às tarifas? Nossos colegas do Motor1.com nos EUA em contato com as três grandes montadoras de Detroit—Ford, General Motors e Stellantis—para obter suas opiniões sobre a situação. Também contatamos Toyota, Honda, Hyundai, Volkswagen e BMW, todas com pelo menos uma fábrica nos Estados Unidos.
A General Motors e a Stellantis não forneceram respostas individuais, mas ambas apoiam a declaração oficial do American Automotive Policy Council (AAPC), que representa as montadoras de Detroit.
"Continuamos a acreditar que veículos e peças que atendem aos rigorosos requisitos de conteúdo doméstico e regional do USMCA devem ser isentos do aumento tarifário", disse Matt Blunt, presidente do AAPC. "Nossas montadoras americanas, que investiram bilhões nos EUA para atender a esses requisitos, não devem ter sua competitividade prejudicada por tarifas que aumentarão o custo de produção de veículos nos Estados Unidos e desestimularão investimentos na força de trabalho americana, enquanto nossos concorrentes de fora da América do Norte se beneficiam do fácil acesso ao nosso mercado."
A Ford não respondeu imediatamente ao nosso pedido de declaração, mas já conhecemos a opinião da empresa sobre grandes tarifas. O CEO Jim Farley disse que as tarifas significariam preços mais altos para os clientes, mas também alertou que elas "teriam um enorme impacto em nossa indústria, com bilhões de dólares em lucros do setor sendo eliminados e efeitos adversos sobre os empregos nos EUA, bem como sobre todo o sistema de valor da indústria."
Fora de Detroit, a Hyundai tem várias fábricas e instalações nos Estados Unidos. Recentemente, a empresa sul-coreana tem destacado seus investimentos nos EUA.
"Assim, a melhor maneira de navegarmos pelas tarifas é aumentar a localização da produção", disse Jose Munoz, CEO global da Hyundai. "Decidimos investir fortemente na América como nosso mercado mais importante."
A declaração oficial da Hyundai, no entanto, é pouco conclusiva sobre como as tarifas podem afetar a empresa. Vale ressaltar que, até o momento, não há uma tarifa de 25% para bens importados da Coreia do Sul.
"Por quase quatro décadas, a Hyundai tem sido um motor do crescimento e da inovação nos Estados Unidos, contribuindo com empregos, atividades econômicas e investimentos que ajudaram os americanos a prosperar. Desde sua entrada nos EUA, o Hyundai Motor Group investiu US$ 20,5 bilhões no país, criando e apoiando mais de 570.000 empregos americanos. Isso inclui a Hyundai Motor Group Metaplant America (HMGMA), na Georgia, o maior projeto de desenvolvimento econômico da história do estado, que terá capacidade para produzir 300.000 veículos para o mercado americano anualmente."
"Estamos acompanhando de perto as novas políticas dos EUA e revisando diversas estratégias de negócios.", completou a fabricante.
A BMW se recusou a comentar especificamente sobre a situação, mas forneceu a seguinte declaração:
"O livre comércio, que sempre foi um princípio orientador para o BMW Group, é de imensa importância em todo o mundo: é um dos mais cruciais motores de crescimento e progresso. As tarifas, por outro lado, dificultam o livre comércio, retardam a inovação e iniciam um ciclo negativo. No final, elas prejudicam os consumidores, tornando os produtos mais caros e menos inovadores."
A Honda se recusou a comentar diretamente, mas nos encaminhou para a Alliance for Automotive Innovation (AAI), que respondeu com a seguinte declaração do presidente e CEO da AAI, John Bozzella:
"Tivemos um comércio automotivo sem barreiras na América do Norte por mais de 25 anos. Peças, componentes e veículos cruzam a fronteira regularmente, múltiplas vezes antes de se tornarem um veículo acabado. Esse comércio sustenta empregos na indústria automotiva dos EUA, além de contribuir para a escolha e acessibilidade dos veículos no país.", disse o executivo.
"Isso não é hipotético. Todas as montadoras serão impactadas por essas tarifas sobre o Canadá e o México. A maioria antecipa que o preço de alguns modelos de veículos aumentará—em até 25%—e o impacto negativo sobre os preços e a disponibilidade de veículos será sentido quase imediatamente.", completou.
"As montadoras, fabricantes de baterias e fornecedores estão investindo bilhões na manufatura americana e na modernização da base industrial. Mas vale lembrar a escala da indústria e o tamanho dessas instalações de produção automotiva e de manufatura avançada. Elas são gigantescas. Simplesmente não é possível realocar a produção automotiva e a cadeia de suprimentos da noite para o dia."
Ainda aguardamos uma resposta da Volkswagen. A Toyota, que possui diversas fábricas nos EUA, recusou-se a comentar.