Apesar de nesta segunda-feira (14) ser celebrado o Dia Mundial do Café, o destaque vai para um produto que, embora leve o nome em sua composição, não é o café tradicional. Trata-se do supercafé, uma versão turbinada da bebida clássica, enriquecida com cafeína e outros ingredientes como óleo de coco, vitaminas do complexo B e taurina.
A bebida virou a queridinha de muitos por prometer benefícios como melhora da concentração e do foco, além de fornecer energia para atividades físicas. Outro atrativo é a praticidade: basta adicionar água quente e misturar o produto com um mixer ou colher para prepará-lo rapidamente.
Com os benefícios que promete, o produto tem ganhado cada vez mais popularidade entre os brasileiros. De acordo com dados do Google Trends, as buscas por "supercafé" vêm crescendo ano após ano desde 2010, alcançando um recorde de interesse em 2024.
Entre as principais pesquisas está o SuperCoffee, da marca Caffeine Army, atualmente o nome mais popular do mercado. O produto é vendido em diferentes sabores, que vão de beijinho a pistache, e pode custar cerca de R$ 220, a depender do tamanho da embalagem.
Outras marcas também disputam espaço nesse segmento. É o caso da Plant Power, com seu Ultracoffee, e da Desinchá, com o Desincoffee.
O interesse em torno do supercafé também se reflete nas redes sociais. No Instagram, a hashtag #supercoffee já reúne mais de 84 mil publicações, muitas delas com vídeos de consumidores testando e avaliando o produto.
Mas, afinal, o supercafé faz mal?
Segundo especialistas, o consumo excessivo pode, sim, representar riscos.
Bruno Gualano, professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e colunista da Folha, alerta que a cafeína presente no supercafé pode prejudicar a qualidade do sono.
Ele também destaca que a substância pode ter efeito hipertensivo e aumentar a frequência cardíaca, o que exige moderação, especialmente entre pessoas com histórico de doenças cardíacas ou problemas de pressão arterial.
Outro ponto de atenção, segundo a nutricionista Mariana Melendez, mestre e doutora em nutrição humana, é a adição de vitaminas e minerais em alguns supercafés. Ela ressalta a importância de uma avaliação médica ou nutricional para evitar suplementações desnecessárias ou em excesso.
Melendez também chama a atenção para um ingrediente comum nesses produtos: o TCM (triglicerídeos de cadeia média), que são derivados do óleo de coco e do óleo de palma. "Essas são gorduras que são absorvidas no intestino e metabolizadas diretamente no fígado, funcionando como uma fonte de energia mais rápida", explica.
No entanto, ela adverte que pessoas com comprometimentos hepáticos —como esteatose moderada a grave ou cirrose— devem evitar o consumo frequente de TCM, já que ele pode não ser indicado nesses casos.
O supercafé também caiu no gosto de quem treina e passou a ser utilizado como pré-treino. O médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia), afirma que o produto pode ser usado com essa finalidade, principalmente por conter cafeína.
Ele explica que a cafeína é um dos principais componentes presentes em suplementos pré-treino, por sua capacidade de fornecer mais energia e reduzir a sensação de cansaço.
Por outro lado, o Gualano tem uma visão mais crítica. Para ele, trata-se de um suplemento da moda que promete mais do que realmente entrega.
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"Os ingredientes listados no rótulo são substâncias que não apresentam efeito ergogênico comprovado cientificamente. Carnitina, chá verde, guaraná e as vitaminas presentes nesse tipo de suplemento, muito provavelmente, não trarão nenhum impacto relevante na performance esportiva", afirma.
Além disso, o supercafé também é usado como aliado na concentração. Melendez explica que a bebida contém substâncias estimulantes, como taurina e cafeína, que podem ajudar no foco. No entanto, ela ressalta que a base para uma boa concentração continua sendo um sono de qualidade e um estilo de vida saudável.