Sul da Bahia vive euforia e projeta investimentos com explosão do preço do cacau

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Nas margens da BR-101, rodovia litorânea que corta o país de norte a sul, fazendas de cacau despontam dos dois lados da pista na região sul da Bahia. Em algumas propriedades, operários trabalham em benfeitorias nas sedes e nos armazéns, além da instalação de novas barcaças e casas de fermentação.

As obras e o novo maquinário refletem o entusiasmo de cacauicultores, que vivem uma nova primavera após o longo inverno da praga da vassoura-de-bruxa, que dizimou lavouras e arruinou toda a região há 35 anos.

O preço do cacau atingiu patamares históricos em 2024. Em dezembro, os contratos futuros romperam a barreira de US$ 12 mil (cerca de R$ 74 mil) por tonelada na Bolsa de Valores de Nova York. Na Bahia, a arroba (15 quilos) da amêndoa é cotada em R$ 850.

Os preços escalaram em meio à redução da produção na Costa do Marfim e Gana, principais produtores mundiais, que enfrentam intempéries climáticas, pragas e falta de renovação da área plantada. O resultado foi uma redução da oferta que catapultou os preços, dando novo fôlego aos produtores baianos.

Dados da Pesquisa Agrícola Municipal de 2023, divulgada em setembro, apontam que a Bahia retomou a liderança na produção de cacau em amêndoa no Brasil depois de cinco anos. O estado produziu 139 mil toneladas de cacau no ano passado, superando o Pará, com 138,5 mil toneladas.

Os números são animadores, mas continuam longe do patamar registrado nos anos 1980, antes da vassoura-de-bruxa. Na época, a Bahia chegou a produzir 400 mil toneladas anuais, o que fazia do cacau um dos principais motores da economia do estado.

O sul da Bahia viveu um movimento pendular nas últimas três décadas: potência econômica até os anos 1980, teve o seu pior momento por volta de 2000 e vem se reconstruindo desde 2010. O histórico de sucessivas crises mantém os produtores cautelosos, mesmo com a recente guinada nos preços.

"A cacauicultura vive um momento muito bom, a gente percebe um novo clima entre os produtores. Mas é algo recente e o cacau é uma atividade agrícola em que os investimentos são de longo prazo", pondera Orlantildes Pereira, presidente da Coorpercabruca, que une pequenos e médios produtores do sul da Bahia.

A retomada do cacau na Bahia ganhou tração nos anos 2010, aliando o sistema de produção tipo cabruca, no qual o cacaueiro é plantado embaixo de árvores nativas da mata atlântica, e a produção de cacau fino. Os focos centrais eram o produto de origem e cultivo sustentável.

Para este novo cenário, foi fundamental a introdução na região de mudas clonadas mais resistentes à vassoura-de-bruxa.

"Muita gente foi para as cidades, só ficou quem era teimoso. Foram esses abnegados que começaram a retomada", lembra Hilton Lopes Leal, agricultor e servidor aposentado da Ceplac, órgão federal voltado para apoiar a cultura cacaueira, esvaziado nas últimas décadas.

Em uma etapa seguinte, chegaram os descendentes de antigos agricultores da região. Andrea Magnavita assumiu em 2018 a administração de uma fazenda adquirida por seu pai em 1973 na zona rural de Ibirapitanga. Desde então, ela e os irmãos investiram recursos próprios para recuperar as plantações.

"Nenhum de nós, filhos, tem formação em agronomia. Mas acreditamos na cultura do cacau e apostamos na renovação. Foi um aprendizado", afirma Andrea, que administra uma fazenda de 103 hectares, dos quais 32 são destinados à plantação do cacau e outros 55 são de mata atlântica.

Com a alta dos preços, este será o primeiro ano que a fazenda vai fechar no azul. Os recursos têm sido destinados a equipar a fazenda, com a compra de roçadeiras, equipamentos de pulverização e a abertura de novas estradas internas.

Para 2025, a meta é construir uma nova casa de fermentação e migrar parte da produção para o cacau fino, destinado para a produção de chocolate.

A volatilidade dos preços ainda gera insegurança nos produtores na decisão de investir. Mas já é possível ver avanços na região, afirma Andrea: "A gente percebe um dinamismo na economia local. As cidades são empobrecidas, mas houve uma melhora nos empregos e nos salários."

As maiores produtoras na Bahia são as cidades de Ilhéus, Wenceslau Guimarães e Ibirapitanga, todas no sul do estado. Mas a produção começa a se expandir também para o oeste, onde a produção irrigada de cacau ascende junto à soja, milho e algodão no maior polo do agronegócio baiano.

O valor da produção do cacau na Bahia chegou a R$ 2,4 bilhões na Bahia em 2023, crescimento de 16% em relação ao ano anterior. A expectativa é novo avanço no consolidado de 2024.

As projeções para anos seguintes vão depender do cenário global, que passa por uma série de fatores, sobretudo a capacidade de recuperação da lavoura em Costa do Marfim e Gana.

Entre os brasileiros, há um temor de uma possível disseminação de pragas, sobretudo após a flexibilização das barreiras para importação de cacau, adotada no governo Jair Bolsonaro (PL). Os produtores questionam a medida junto ao Ministério Público Federal.

"Nós passamos pela vassoura-de-bruxa e não queremos novas doenças no país", afirma a produtora rural Vanusa Barroso, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cacau.

Ela ainda questiona a falta de políticas públicas para o setor, as barreiras para o acesso a crédito e destaca a concentração do beneficiamento do cacau em apenas três grandes empresas moageiras, que penaliza os produtores. Para ter margem nas negociações, os produtores apostam nas cooperativas.

Outra preocupação que veio com a valorização são os furtos e roubos a armazéns e caminhões. Produtores reforçaram a segurança nas fazendas e têm utilizado até mesmo escoltas armadas.

Em novembro, quatro homens armados atacaram um caminhão carregado com 100 sacas, avaliadas em cerca de R$ 400 mil, em uma estrada vicinal na zona rural de Itabela, no sul da Bahia.

A Secretaria da Segurança Pública da Bahia informou que a Polícia Civil realiza ações de inteligência para identificar e capturar os criminosos. Acrescentou ainda que a Polícia Militar ampliou as varreduras e abordagens na região.

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