Mais uma vez a SpaceX se vê enroscada na burocracia americana para o lançamento de seu megaveículo Starship, destinado a promover o retorno de astronautas à superfície da Lua nesta década. A empresa se diz pronta para fazer seu quinto voo de teste desde o começo de agosto. Em contraste, a FAA (agência que regula aviação civil e foguetes nos EUA) diz que a autorização para voar não sairá antes do fim de novembro.
Insatisfeita, a SpaceX veio a público com um longo texto na última terça-feira (10), criticando a FAA por "análises ambientais supérfluas" que empurrariam para dali a mais de dois meses a data esperada da licença.
A rigor, não há vilões no conflito. De um lado, a SpaceX tem sido cuidadosa e cumprido todas as exigências da FAA para os lançamentos a partir de Starbase, instalação da companhia em Boca Chica, no Texas. A região, à beira do golfo do México, tem baixíssima ocupação humana, mas tem áreas de proteção ambiental com diversas espécies ameaçadas.
Por outro lado, a FAA está apenas seguindo suas próprias regras, que se aplicam a todos os lançadores comerciais. Ocorre que a SpaceX tem uma cultura de testes frequentes em voo, com mudanças a cada novo lançamento. Por exemplo: no voo 4, o perfil da missão previa um pouso do primeiro estágio no golfo do México e um voo suborbital para o segundo estágio, com descida sobre o oceano Índico.
Se a empresa quisesse realizar outro voo igual, com foguete igual, a licença sairia rapidamente. "A atual licença autorizando o lançamento do Voo 4 do Starship também permite múltiplos voos da mesma configuração de veículo e de perfil da missão. A SpaceX escolheu modificar ambos para sua proposta de lançamento do Voo 5, o que disparou uma revisão mais profunda", disse a FAA, em resposta à SpaceX, na quinta-feira (12).
De fato, para o quinto voo, a empresa esperava tentar realizar o pouso do primeiro estágio na própria plataforma de lançamento –algo jamais feito antes, mas essencial aos planos de tornar o foguete rapidamente reutilizável. É uma mudança significativa. A própria SpaceX notificou a FAA de que o impacto ambiental do quinto voo cobriria uma área maior do que a anteriormente analisada, obrigando-a a consultar outras agências. Daí o prazo alongado até o fim de novembro.
O dilema contrasta com a pressa que a SpaceX tem de lançar muitos Starships em rápida sucessão –pré-requisito essencial para qualificar o veículo e viabilizar seu reabastecimento em órbita, de modo a poder servir no transporte de astronautas à superfície da Lua, pelo programa Artemis, da Nasa.
"Infelizmente, continuamos a estar presos numa realidade em que leva mais tempo para preencher a papelada do governo para licenciar um lançamento do que leva para desenhar e construir os equipamentos. Isso nunca deveria acontecer e ameaça diretamente a posição dos EUA como líder no espaço", declarou a companhia.
De fato, no atual ritmo, será difícil cumprir todas as etapas necessárias para ter um Starship pronto para a missão Artemis 3, atualmente marcada para setembro de 2026. Decerto atrasar. E os chineses pretendem levar seus astronautas à Lua em 2029. Não será surpresa, a essa altura, se eles chegarem primeiro.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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