A bola está dividida. Uma parcela do mercado espera um ajuste de 0,75 ponto percentual para mais na taxa básica de juros, a Selic, no último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), nesta quarta-feira (11). Mas há também aqueles que esperam um aumento de 1 ponto percentual. Isso, no entanto, não significa que qualquer uma das opções vai atender as expectativas.
Existe uma resposta certa, que os agentes financeiros definem como necessária para confirmar que o Banco Central fará o necessário para a convergência da inflação. Essa resposta é o ajuste de 1 ponto percentual.
Atualmente, a Selic está em 11,25% ao ano, conforme definido na reunião de 6 de novembro do Copom.
“Estamos em um período em que a confiança perante o fiscal brasileiro está muito minada, e o Banco Central não pode correr o risco de perder essa confiança também”, diz Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital. “Se eles optarem por apertar menos, a resposta deve ser negativa, com abertura de juros e câmbio subindo de novo.”
Ao longo dos últimos meses, as projeções de juros e inflação no Brasil cresceram com força. Parte dessa pressão decorreu do contexto externo (EUA e China), mas foi principalmente impulsionada pelo anúncio do pacote de ajuste fiscal, em novembro, que frustrou o mercado e bagunçou as referências futuras desses indicadores.
Para o time de research da XP, esta última reunião do Copom é definitiva para “retomar as rédeas das expectativas”. Segundo Caio Megale, economista-chefe do banco, os principais parâmetros financeiros do mercado estão desancorados: inflação, câmbio e juros futuros.
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“O mercado entrou num processo de perda de referência. Ninguém sabe muito bem onde o câmbio vai parar, onde a Selic vai parar”, diz Megale.
“Agora, a gente precisa de um freio de arrumação um pouco mais claro, trazer todos os parâmetros para a terra do fundamento. Esse é o papel do Banco Central.”
O economista espera o ajuste de 1 ponto percentual não somente neste encontro do Copom, mas na primeira reunião de 2025 também. A taxa terminal da Selic, segundo a projeção da XP, é de 14,25%, alcançada em maio do próximo ano.
Selic definida voto a voto
A última reunião do ano será acompanhada com lupa pelo mercado, já que a partir da próxima muita coisa muda. A começar pela presidência da autarquia, que será de Gabriel Galípolo a partir de janeiro de 2025. Para muitos agentes financeiros, o indicado de Lula ainda inspira desconfiança em relação a sua postura técnica, não política.
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“Muitos economistas que estão esperando 75 bps (0,75 ponto percentual) de aumento nesta reunião, na verdade, acham que a alta de 100 bps (1 ponto percentual) é mais indicada, mas não acreditam que membros do colegiado indicados pelo governo vão atender essa demanda, entregar tudo o que deveria”, diz Andrea Damico, economista chefe da Armor Capital.
A questão da votação é um tema tão sensível quanto o aumento em si. “Votos divergentes, como na reunião de maio de 2024, seriam muito negativos sob a ótica da desancoragem das expectativas”, diz Arnaldo Lima, economista da Polo Capital.
Segundo ele, essa falta de consenso fará com que o mercado dê uma atenção especial aos votos dos diretores, em busca de sinalização sobre o que será a diretriz da política monetária a partir do ano que vem, quando mais membros indicados pelo governo Lula passam a integrar o comitê.
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Como a Selic impacta os investimentos?
A renda fixa continuará sendo o destaque entre os investimentos brasileiros. Os especialistas ouvidos pelo InfoMoney destacaram o interesse nos títulos pós-fixados pelo ciclo de aumento que continuará no próximo ano.
“Estamos caminhando para um cenário de Selic a 12,25% ao ano, o que garante uma rentabilidade que o brasileiro historicamente considera muito boa: o famoso 1% ao mês”
Seja uma alta de 75 bps ou de 100 bps, a magnitude de aumento da Selic é vista como secundária para os especialistas no que diz respeito à estratégia de alocação, com a política fiscal do país sendo um fator de maior peso na precificação dos ativos brasileiros.
“A alta já está precificada na curva [de juros]. A expectativa já está embutida nas taxas dos títulos de renda fixa e a decisão do Banco Central pouco deve influenciar nossas recomendações”, diz Camilla Dolle, head de renda fixa da XP. “Estruturalmente, as coisas não vão mudar”.
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A avaliação da especialista vai na mesma direção do que Max Bohm, diretor de estratégia da Nomos, vê na Bolsa: “A grande questão continua sendo o desenrolar da questão fiscal; se a alta será de 75 bps ou 100 bps não muda muito o jogo, o que muda é o equilíbrio das contas públicas, que controla o dólar e traz os juros para baixo”.
Para ele, as ações brasileiras seguem baratas, mas sem gatilhos que atraiam força compradora, principalmente do investidor estrangeiro, que se vê ainda mais distante do Brasil à medida que os juros futuros dos Estados Unidos abrem novamente, em meio às incertezas em relação ao segundo mandato de Donald Trump a partir de janeiro.
Furtado, da W1 Capital, acredita que ações e fundos imobiliários vão continuar prejudicados nas negociações diárias, mas vê o momento como oportuno para posições táticas. “A hora de comprar é agora, com desconto, não quando as ações voltam a subir”, diz. A escolha dele é por setores menos atrelados a juros e empresas com receita exposta a dólar.
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Caso as expectativas se alinhem (aumento de 1 p.p. na Selic, com unanimidade de votos e um comunicado assertivo na direção da convergência da inflação para a meta), Damico, da Armor, espera alguma acomodação no câmbio e um fechamento moderado na parte intermediária e longa da curva de juros futuros.
“É uma resposta esperada para a entrega que garante maior credibilidade na política monetária e na postura do Banco Central”, diz Damico.