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Falta chuva, falta laranja
Os preços do suco de laranja no mercado internacional continuam elevados, e não há previsão de melhora no horizonte.
O motivo? As colheitas nos principais países produtores, como o Brasil, seguem fracas desde o ano passado.
Nos Estados Unidos, um furacão no final de 2022 e a praga "greening" devastaram plantações. Por aqui, é a seca recorde que está castigando as lavouras.
↳ O Brasil é o líder mundial na produção de laranja e seu suco. Cerca de 75% da produção global é brasileira, com grandes áreas cultivadas em São Paulo e Minas Gerais.
↳ Antes da disparada, a tonelada de suco era negociada entre US$ 2.000 e US$ 2.500 (R$ 10.840 e R$ 13.550), na Bolsa de Nova York. Este mês, chegou a US$ 7.180 (R$ 38.891).
Piora nas estimativas. Há cerca de três meses, destaquei esse cenário aqui na newsletter. Na época, a seca já atingia o Brasil, mas ainda não havia se intensificado.
De lá para cá, São Paulo e Minas Gerais perderam o equivalente a uma safra da Flórida (EUA) devido às mudanças climáticas.
- Com isso, a estimativa para a colheira 2024/25 caiu e é agora de 216 milhões de caixas, o menor volume em 30 anos.
Efeitos do clima. No cinturão citrícola do Sudeste, choveu 31% menos que o esperado desde maio. Com a transpiração das plantas em meio às altas temperaturas, o tamanho das laranjas diminuiu. A estiagem atinge 60% do território brasileiro.
↳ O peso médio de cada laranja passou de 169 g para 155 g. A onda de calor também acelerou a colheita, já que a maturação dos frutos foi antecipada.
↳ Há três safras, a indústria brasileira precisa de mais laranjas para produzir uma tonelada de suco.
↳ Foram 298 caixas para obter uma tonelada na última safra, 32 a mais que em 2021.
Consequências. Os preços mais altos já chegaram aos supermercados ao redor do mundo, provocando uma queda de 10% nas compras de suco entre os americanos.
Algumas marcas também têm usado outros cítricos, como a tangerina, para misturar no produto, além de versões diluídas.
↳ A previsão é de que o consumo mundial caia de 1,8 milhão de toneladas em 2023 para 1,49 milhão este ano.
↳ No Brasil, o IBGE aponta uma alta de 16% nos preços da laranja-lima desde janeiro.
Problema ambiental e econômico. Não é só a laranja que ficou mais cara por conta das mudanças climáticas. A inflação dos alimentos tem sido pressionada pela forte seca e pelas queimadas no Brasil.
Açúcar e café são outros produtos que podem ser afetados pela crise ambiental. Mandioca e milho também começaram a demonstrar perdas.
↳ Incêndios em canaviais no mês passado causaram perdas de ao menos R$ 2 bilhões ao agronegócio de São Paulo, principalmente aos produtores de cana-de-açúcar.
↳ No caso do café, a expectativa de poucas chuvas elevou ainda mais os preços no mercado. Assim como a laranja, o grão disparou com a pouca produção mundial.
Poucas vacas, mas muito leite
volume de leite produzido no Brasil está em alta, apesar do número de vacas ter caído. A explicação é o aumento da produtividade dos animais.
↳ A produção média por vaca em 2023 foi de 2.259 litros, uma alta anual de 2,5%. Ao todo, foram ordenhados 35,4 bilhões de litros, um recorde.
↳ Em 2014, eram apenas 1.525 litros por animal.
Entenda: os dados foram divulgados nesta quinta-feira (19) pelo IBGE. O instituto afirma que o crescimento da produção está associado a investimentos em genética e gestão do rebanho.
↳ O número de vacas ordenhadas no Brasil está em 15,7 milhões, bem abaixo do pico de 23,2 milhões em 2011.
A explicação para a queda foi principalmente o abandono da atividade, com produtores migrando para outros negócios, como a plantação de grãos.
Tem mais: apesar de o número de vacas-leiteiras ter caído nos últimos anos, o rebanho total de cabeças de gado bateu recorde.
São 238,6 milhões de animais, que incluem principalmente os destinados ao abate para produção de carne.
↳ O tamanho do rebanho é 12,7% maior do que o número de pessoas no país.
↳ A carne bovina foi a 5ª maior exportação do Brasil em 2023, somando R$ 7,4 bilhões.
Cocoricó. Outra categoria que seguiu em crescimento e renovou o recorde foi a das aves.
O grupo inclui os frangos de corte, que fornecem carne, e as galinhas usadas na produção de ovos. Ao todo, eles somam 1,58 bilhão de cabeças.
Negócio bilionário. A pecuária brasileira gerou, em 2023, um valor de R$ 122,4 bilhões, 5,4% maior que em 2022.
Junto da agricultura, o setor foi o que mais cresceu na economia brasileira no ano passado, ajudando a gerar um PIB (Produto Interno Bruto) acima das expectativas.
A ameaça de Milei
As paralisações realizadas por funcionários do setor aéreo da Argentina, que já afetaram mais de 400 voos em setembro, levaram o governo de Javier Milei a fazer uma ameaça.
O presidente afirma que pode transferir as operações da companhia aérea Aerolíneas Argentinas para concorrentes privadas caso o movimento continue.
Sindicatos de pilotos, seguranças de aeroportos e outros trabalhadores exigem aumentos salariais em resposta à inflação do país.
Pública ou privada? A privatização da Aerolíneas é um desejo do presidente Javier Milei, mas foi rejeitada pelo Congresso, mesmo com a aprovação de outras propostas econômicas este ano.
A transferência das operações da empresa para as concorrentes seria mais viável no curto prazo, antes da privatização em si, que exigiria a aprovação do Legislativo.
Aviões no chão. As paralisações já causaram sérios transtornos na Argentina. Em 13 de setembro, 319 voos foram cancelados e mais de 30 mil passageiros foram impactados.
O governo decretou o transporte aéreo como um serviço essencial, o que obriga os sindicatos a manter 50% das operações.
Aperto. Os salários congelados fazem parte de um forte programa de ajustes implementado pelo governo Milei. Em meio à inflação, isso significa menos poder de compra.
O objetivo da medida é acabar com o déficit das contas públicas, apontado por economistas como o principal problema econômico do país.
↳ Obras também foram paralisadas, programas sociais cortados e repasses a estados e municípios cancelados.
↳ Apesar de uma melhoria nas contas e na inflação, e de receber elogios do FMI, o país convive com mais pobreza. A economia enfrenta uma retração mais forte do que o previsto.
Para assistir:
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‘Economia Verde - Sustentabilidade e Lucro’. Documentário, 60 min, disponível no YouTube
É possível conciliar a agenda ambiental com os interesses econômicos das empresas? O documentário "Economia Verde", da TV Cultura, mostra que sim.
O filme apresenta empreendedores brasileiros que já lucram com a sustentabilidade, o que é apontado como fundamental para acelerar a transição verde.
↳ São empresas do setor de carros elétricos, cosméticos e produtos de limpeza feitos com ingredientes naturais.
↳ O documentário foi exibido na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, em 2023.
Baixo carbono. Os consumidores têm valorizado empresas com preocupação ambiental, assim como investidores, o que reforça a viabilidade dos novos negócios.
Grandes empresas também têm estabelecido metas para baixar suas emissões a zero.
↳ A chamada economia de baixo carbono é vista como fundamental para que o aquecimento global seja contido em "apenas" 1,5 °C.
↳ Para isso, é preciso zerar emissões até 2050.