Se nazistas tivessem acesso ao X teriam conquistado o mundo, diz Moraes a revista

há 1 semana 4

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que as redes sociais são hoje “o maior poder de todos” e acusou as big techs de tentarem “controlar o mundo”, driblando legislações nacionais. A declaração foi dada à revista The New Yorker, em reportagem publicada nesta segunda-feira (8).

Em tom duro, Moraes direcionou críticas ao bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), e comparou o uso político da plataforma ao aparato de propaganda nazista. “Se Goebbels [chefe da propaganda de Hitler] estivesse vivo e tivesse acesso ao X, os nazistas teriam conquistado o mundo”, disse o ministro, ao destacar o potencial de manipulação de massas por meio dos algoritmos.

Moraes vem sendo alvo de ataques de Musk desde que determinou que o X bloqueasse perfis bolsonaristas acusados de espalhar desinformação. Em resposta, Musk chamou o magistrado de “ditador” e chegou a pedir seu impeachment. A crise chegou a levantar a possibilidade de suspensão da rede social no Brasil.

À revista, Moraes afirmou que Musk não apenas desobedeceu decisões judiciais, mas tornou-se pessoalmente responsável pela desobediência da plataforma. “Eles não querem respeitar jurisdição alguma. O objetivo é se tornarem imunes às nações”, afirmou, acusando as plataformas de quererem montar uma nova “Companhia das Índias Orientais digital”.

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Ele também comentou que a extrema-direita global identificou o potencial mobilizador das redes ainda na época da Primavera Árabe, e desde então passou a usá-las para fragilizar instituições democráticas. “No início, os algoritmos eram refinados para fins econômicos, para cativar consumidores. Então as pessoas perceberam o quão fácil era redirecionar isso para o poder político”, disse à revista.

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“Eles não atacam diretamente a democracia, dizem que as instituições estão corrompidas. É um populismo altamente estruturado”, completou.

Moraes disse ainda que o Brasil ofereceu um campo de testes significativo para esforços de afirmação de poder político por meio da internet. “A extrema-direita quer tomar o poder — não dizendo que se opõe à democracia, porque isso não ganharia apoio público, mas alegando que as instituições democráticas são fraudadas”. “É um populismo altamente estruturado e altamente inteligente. Infelizmente, no Brasil e nos EUA, ainda não aprendemos a revidar.”

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também foi ouvido pela New Yorker e disse se preocupar com o “enfraquecimento da democracia” frente à ascensão da extrema-direita. Ele criticou diretamente a atuação da Starlink, empresa de satélites de Musk, e alertou sobre seu uso em regiões de garimpo ilegal na Amazônia.

“Não vamos permitir que alguém que odeia nosso governo e o sistema de Justiça controle a informação de uma região estratégica como a Amazônia”, afirmou Lula, citando o avanço das antenas da Starlink em áreas remotas.

Bolsonaro, redes e 2026

A reportagem cita ainda o contexto do ex-presidente Jair Bolsonaro, que se tornou réu por tentativa de golpe de Estado e é considerado inelegível até 2030. Moraes evitou comentar o julgamento em curso, mas disse não ver “a menor possibilidade” de reversão da inelegibilidade imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Segundo ele, eventuais candidaturas de Michelle Bolsonaro ou dos filhos do ex-presidente não terão o mesmo peso. “Nenhum deles tem a relação com as Forças Armadas que ele [Bolsonaro] tinha”, observou.

“Sou odiado por todos os lados”

Ao falar de sua trajetória, Moraes lembrou que já foi alvo da esquerda quando assumiu o Ministério da Justiça no governo Temer e hoje é combatido pela direita. “Na época, me chamavam de golpista. Agora sou odiado pela extrema-direita. Já estou acostumado”, disse.

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A reportagem da New Yorker descreve Moraes como “um dos homens mais poderosos do Brasil” e responsável por travar uma batalha jurídica contra as chamadas “milícias digitais” bolsonaristas. Em tom irônico, o ministro comentou um meme popular nas redes: “Misturaram Voldemort com um Sith e disseram que sou eu. Achei engraçado”.

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