Em 2024, os palcos paulistanos receberam peças teatrais de alta qualidade que exploraram uma diversidade de temas, estilos e linguagens, proporcionando uma temporada riquíssima para os amantes do teatro. Entre os destaques, estão produções que vão do drama profundo à experimentação teatral inovadora. O blog Mise-en-scène escolheu 10 espetáculos que ficaram entre os melhores do ano.
Com direção certeira de Yara de Novaes, "Prima Facie" tratou de questões como direito, ética e violência sexual com uma história potente sobre a experiência de uma advogada que se vê confrontada por suas próprias opiniões e princípios. Débora Falabella encarou o monólogo com uma atuação amplamente aclamada pela crítica e pelo público. A dobradinha Novaes/Falabella não decepciona nunca. O espetáculo volta ao palco do Teatro Vivo a partir de 7 de fevereiro.
A fantástica trupe Ave Lola de Curitiba veio até São Paulo com seu "Cão Vadio", espetáculo original que explorou a solidão e a resistência em tempos de adversidade, oferecendo uma visão crua sobre as dificuldades enfrentadas por aqueles que vivem fora do sistema. A abordagem poética da diretora e dramaturga Ana Rosa Tezza com suas metáforas inteligentes ganhou vida na atuação de seu brilhante elenco. A música tocada ao vivo e o cenário minimalista deram ainda mais força à narrativa.
Em "Primeiro Hamlet", uma releitura ousada do clássico de Shakespeare, o protagonista — vivido por Chico Carvalho — foi retratado sob uma nova perspectiva aprofundando-se na angústia existencial do famoso príncipe dinamarquês. A peça, com direção de Gabriel Villela, desconstruiu a tragédia tradicional, revelando os conflitos internos do príncipe em uma encenação rica e peculiar.
"Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues, foi uma das grandes apostas da temporada. Com sua narrativa inquietante e personagens complexos, a peça sob a batuta de Helena Ignez abordou temas como culpa, moralidade e a relação com o passado. A composição destacou-se pela força emocional e pela interpretação intensa do elenco. A escrita de Rodrigues, "o maior escritor de teatro da história da dramaturgia brasileira", como disse a atriz Lucélia Santos em entrevista ao blog, não envelhece.
Baseado na obra de Nicholas Wright, "Sra. Klein" explorou a relação entre a psicanalista Melanie Klein e um de seus pacientes. A peça que teve temporadas no Sesc 24 de Maio e no Tetro Bravos, mergulhou em questões psicológicas profundas e nas dinâmicas de poder, levando o público a refletir sobre a natureza da mente humana. O destaque ficou com Ana Beatriz Nogueira vivendo a personagem principal.
"O Vazio na Mala" emocionou com sua reflexão sobre despedidas e recomeços. A peça, que uniu drama e humor, apresentou uma trama sensível e universal sobre os ciclos da vida, com atuações marcantes e um texto que ressoou profundamente no público. Em uma das montagens mais experimentais do ano, o diretor Kiko Marques utilizou recursos visuais e sonoros inovadores, criando uma atmosfera imersiva e desconcertante que deu à montagem três prêmios "Bibi Ferreira".
Com um toque de mistério e surrealismo, "Agora Tudo Era Tão Velho - Fantasmagoria IV", dos Ultralíricos, transportou os espectadores para um universo repleto de imagens oníricas e cenários fantasmagóricos. O espetáculo que estreou no MITsp em março, combinou elementos do teatro físico e da psicologia humana, explorando os limites da percepção e do subconsciente.
Uma poderosa reflexão sobre a arte e suas contradições, "O Veneno do Teatro" levou o público a questionar as relações entre os atores e o público, entre a ficção e a realidade. Com uma encenação ousada e uma narrativa que desafiou convenções, a peça com Osmar Prado e Maurício Machado tornou-se um marco na temporada paulistana.
"Julius Caesar - Vidas Paralelas" foi uma adaptação criativa da obra de Shakespeare, focando em como a história do imperador romano ressoa em figuras contemporâneas. A Cia. dos Atores, coletivo carioca fundado em 1988, lançou mão da metalinguagem para falar do próprio trabalho e também tratar de temas como supremacia, traição e as complexidades da liderança, tudo isso em uma construção visualmente impressionante.
Um clássico de Tchekhov escrito em 1896, "Tio Vânia" ganhou nova vida em uma montagem contemporânea que destacou os dilemas existenciais dos personagens com uma profundidade atual. Os atores do Grupo Tapa, que em 2024 celebrou seus 45 anos, brilharam ao dar nova dimensão aos temas habituais da obra do dramaturgo russo, como relações amorosas, frustração e resignação.
O blog volta em janeiro acompanhando as temporadas teatrais de 2025.