Sandro Veronesi na Flip, a volta de Thomas Pynchon e mais novidades literárias

há 1 dia 3

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Mario Vargas Llosa, morto no último domingo (13), construiu uma obra literária imensa, mesclando ficção a elementos da realidade que via em seu país natal, Peru, e no seu entorno. "Em suas páginas, estão as ditaduras, a corrupção política e os conflitos sociais de toda a América Latina", escreve a colunista Sylvia Colombo.

O autor e sua obra vencedora do Nobel de Literatura sempre se entrelaçaram à política. Sua trajetória começou no movimento comunista na época de estudante, por isso sua guinada à direita nos anos 1970 surpreendeu —ele chegou até a disputar uma eleição presidencial, em 1990, pela coalizão liberal de direita Frente Demócrata.

Com seu deslizamento em direção ao conservadorismo —inclusive ao de tendência autoritária, como no apoio à peruana Keiko Fujimori—, a crítica de sua obra passou a ser contaminada por questionamentos a suas opiniões políticas. Acende-se então o velho debate: é possível separar o autor da obra? Ou nesse caso, é necessário?

"Pelas lentes de atores no lado oposto ao de Vargas Llosa no espectro político, o escritor foi alvo de ressalvas, mas não de indiferença", aponta a pesquisadora Fernanda Lobo. E segundo diz o escritor Milton Hatoum, no artigo que escreveu para a Folha, nenhuma posição política "ofusca o brilho do grande romancista".

Já o professor Júlio Pimentel Filho deixa para outros "os justos questionamentos ideológicos: me interessa o escritor extraordinário que publicou mais de 20 obras de ficção".

Eles fazem coro ao próprio Vargas Llosa que, ao vencer o Nobel em 2010, afirmou: "A boa literatura cria pontes entre pessoas diferentes, fazendo-nos gozar, sofrer ou nos surpreendermos, nos une sobre as barreiras das línguas, crenças, costumes e preconceitos que nos separam".


Acabou de Chegar

"Santo de Casa" (Record, R$ 69,90, 192 págs.), de Stefano Volp, busca mostrar, através de um cenário marcado pela violência parental e pela crise da masculinidade, que a felicidade pode existir mesmo em meio à dor. Criado com seis irmãos, o autor traz para seu novo romance experiências que viveu em casa e que testemunhou nas famílias de seus vizinhos. Na obra, três irmãos se reúnem para organizar o enterro do pai, um homem reverenciado por sua comunidade e temido por sua família.

"Cenas da Sujeição" (trad. Fernanda Silva e Sousa e Marcelo R. S. Ribeiro, Fósforo, R$ 129,90, 528 págs.) questiona os conceitos de progresso e liberdade nos Estados Unidos. A autora Saidiya Hartman mostra que, no país que instaurou um sistema segregacionista logo após abolir a escravidão, o passado parece inacabado. "As violências escorrem por entre as páginas do livro, se mostrando como parte constitutiva da vida cotidiana da população negra", descreve a crítica Ynaê Lopes dos Santos.

"Leme" (Todavia, R$ 64,90, 136 págs., R$ 44,90, ebook) é a história de um relacionamento abusivo pelos olhos de uma criança que ouve sua mãe e o padrasto do quarto ao lado, sem entender as razões por que discutem. A narradora é a própria autora Madalena Sá Fernandes, que testemunhou cenas de violência dentro de casa por 12 anos. A autora conta ao repórter João Gabriel de Lima que teve como inspiração textos de Virginia Woolf sobre o pai dela, um homem explosivo e egocêntrico.


E mais

O italiano Sandro Veronesi virá lançar "Setembro Negro" no Brasil após o sucesso inesperado de seu "O Colibri", o romance mais vendido da Autêntica Contemporânea em 2024. Para o editor Walter Porto, o sucesso de Veronesi entre brasileiros deve aumentar muito quando ele vier à Flip como convidado, em julho. Veronesi comenta que sente que seus livros são mais bem compreendidos em países em que as relações familiares são mais estreitas, como os latinos.

A Companhia das Letras comprou os direitos para traduzir e publicar o novo romance do americano Thomas Pynchon no Brasil. Depois de 12 anos sem lançar nada, o escritor lendário e recluso volta com o romance "Shadow Ticket". O livro, segundo o Painel das Letras, é um noir passado durante a Grande Depressão, em que um detetive em busca da herdeira de um império de queijo se vê no meio de nazistas e espiões soviéticos.

"Levei uma década para escrever este livro, lidando com a beleza e a tristeza de uma vida", foi assim que a compositora Patti Smith anunciou seu mais novo livro de memórias. "Bread of Angels" será lançado no Brasil no primeiro semestre de 2026 pela Companhia das Letras. O volume, como conta o jornalista Walter Porto, vai cobrir os 78 anos de vida da cantora, desde sua infância na periferia da Filadélfia, a ascensão como estrela do punk nos anos 1970 e a decisão de se recolher dos holofotes.


Além dos Livros

O fotojornalista Carlos Fonseca tinha cerca de 20 anos quando, participando de uma cobertura no continente africano, foi impossibilitado de sair da região do Golfo da Guiné por causa da guerra. Ali, encontrou brasileiros e passou as quatro décadas seguintes em uma pesquisa para entender de onde eles vieram. A resposta, aponta a repórter Paola Ferreira Rosa, aparece no novo livro de Fonseca. "Os Retornados" conta a história de escravizados libertos e seus descendentes que deixaram o Brasil e voltaram à África, voluntariamente ou obrigados, de meados do século 19 até o 20.

Fundada em 1999, a editora britânica Persephone Books é pioneira na publicação de "ficção esquecida" de mulheres. A empresa se especializou em resgatar obras negligenciadas que fizeram sucesso à época de sua primeira edição e depois caíram no ostracismo do mercado editorial. O acervo, como destaca a repórter Angela Boldrini, diz muito sobre como as autoras mulheres foram recebidas ao longo dos séculos.

O Rio de Janeiro foi escolhido pela Unesco como a Capital Mundial do Livro em 2025. Para celebrar a escolha, a cidade prepara uma programação com livrarias abertas à meia-noite, feiras literárias em escolas de samba, museus abertos na madrugada e até evento na praia de Copacabana, além da já tradicional Bienal do Livro. O repórter Yuri Eiras conta que Rio inicia a jornada como capital do livro a partir do dia 23 de abril já com um espetáculo musical no teatro Carlos Gomes, no centro.

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