Sally Rooney amadurece e atrai público cada vez maior com 'Intermezzo'

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No mundinho de Sally Rooney, não acontece muita coisa, afirma a repórter Bárbara Blum. Mas sua literatura se move, densa e aflita, no vácuo das relações entre os personagens –o buraco negro que se abre entre pensamentos e ações.

A escritora irlandesa ganhou o mundo com "Conversas entre Amigos" e "Pessoas Normais", romances que viraram séries de sucesso. Em sua prosa íntima, ela levanta questões sobre divindade, ética e beleza. Ao falar de amor e sexo, fala de poder.

Parecem propostas cabeçudas para uma autora que vende milhões de cópias. Mas ainda assim se formaram filas de jovens millennials como ela —até hoje seu principal público— plantados nas portas de livrarias esperando o lançamento nesta terça (24) de "Intermezzo", seu quarto romance.

No novo livro, Rooney convida seu público a amadurecer junto com ela, numa escrita mais experimental e dada a fluxos de pensamento. A trama acompanha dois irmãos enlutados pela morte do pai vagando entre decisões frias, amores complicados e atitudes sem sentido.

O título vem do italiano para interlúdio. No xadrez, "intermezzo" é um lance inesperado que muda o jogo, uma forte ameaça que requer uma resposta imediata. Na música, é uma pequena peça inserida entre atos.

Em Rooney, "intermezzo" ganha uma nova conotação, a ser desvendada por um público cada vez maior.


Acabou de Chegar

"Kafka: os Anos de Discernimento" (trad. Claudia Abeling, Todavia, R$ 139,90, 672 págs., R$ 76,90, ebook) é o último volume da trilogia de Reiner Stach sobre o tcheco. Como conta o jornalista Guilherme Magalhães, Stach estuda Kafka desde os anos 90 e dividiu sua vida em três partes e curiosamente começou a escrever a história pelo meio. Este volume conta os últimos anos do escritor.

"Agosto Azul" (trad. Adriana Lisboa, Autêntica Contemporânea, R$ 64,90, 168 págs., R$ 45, ebook), de Deborah Levy, acompanha uma pianista famosa em sua turnê européia. Para a crítica Maria Carolina Casati, a história se torna instigante depois que a artista rouba um chapéu e ao vesti-lo passa a devanear sobre a dona dele.

"Chuva Dourada Sobre Mim" (trad. Amara Moira, Diadorim, R$ 68, 148 págs.) é a primeira coletânea de contos da artista, performer e escritora Naty Menstrual. A obra traz o protagonismo travesti que raramente ocupa a posição de sujeito na literatura contemporânea. "De saltões, a cada ‘toc-toc’ do sapato no chão, as personagens ganham voz e corpo", escreve a crítica Tássia Nascimento.


E mais

Os recordes de vendas na Bienal do Livro levaram ao Painel das Letras o questionamento: será que as pessoas estão deixando para comprar livros só em eventos gigantes como a Bienal? Os leitores parecem estar mudando de hábitos, suprindo em grandes eventos a falta de livrarias como Cultura e Saraiva, que não foram completamente substituídas pela Amazon.

No ciclo Fronteiras do Pensamento, a psiquiatra Anna Lembke explicou o "paradoxo da abundância", quando o exagero de incentivos e recompensas cria nas pessoas um perpétuo déficit de dopamina e felicidade. A sociedade é hipócrita ao condenar vícios em drogas, diz ela em entrevista a Ana Bottallo, porque em paralelo promove a "droguificação" do cotidiano, aplaudindo comportamentos como o vício em trabalho.

Vera Iaconelli, colunista da Folha, lança coletânea com mais de 90 textos que escreveu para o jornal. Em "Felicidade Ordinária" (Zahar, R$ 69,90, 304 págs.), Iaconelli usa a psicanálise para abordar questões íntimas e "amplia discussões sobre feminismo e parentalidade", escreve Raíssa Basílio.

A editora Ercolano reuniu a obra do escritor goiano Hugo de Carvalho Ramos, contemporâneo de Monteiro Lobato, que traduz a mudança do campo para a cidade naquela época. A coletânea é uma composição documental e etnográfica que, segundo Luís Augusto Fischer, se torna pouco legível para além de sua circunstância.


Além dos Livros

João do Rio foi celebrado em vida, mas após seu velório com 100 mil presentes, pouco se falou do autor. Já seu contemporâneo Lima Barreto teve maior consagração póstuma. Neste ano a Flip homenageia e resgata o primeiro, direcionando o olhar do mundo literário para uma geração que, segundo o repórter Maurício Meireles, ficou apertada entre Machado de Assis e o modernismo.

Os finalistas ao Prêmio São Paulo de Literatura 2024 foram anunciados nesta semana e, entre os concorrentes, estão Socorro Acioli, Lilia Guerra e Wagner Schwartz. A premiação reconhece obras publicadas no Brasil em 2023 dividindo-as em duas categorias, melhor romance do ano e melhor romance de estreia.

O prêmio Booker também anunciou seus finalistas, que concorrem a melhor romance publicado no Reino Unido e na Irlanda. Pela primeira vez, cinco dos seis autores indicados são mulheres. Samantha Harvey, Rachel Kushner, Anne Michaels, Yael van der Wouden e Charlotte Wood concorrem com Percival Everett ao prêmio de 50 mil libras (cerca de R$ 362 mil).

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