A candidíase recorrente, caracterizada por quatro ou mais episódios de infecção por fungos do gênero candida em um ano, pode se tornar um problema persistente. Apesar dos tratamentos convencionais com antifúngicos, muitas pessoas continuam a sofrer com os sintomas incômodos dessa condição.
O tratamento convencional para a candidíase vaginal recorrente envolve um plano prolongado, combinando antifúngicos orais ou tópicos, com o objetivo de eliminar a infecção ativa e prevenir novas crises. Inicialmente, são usados antifúngicos por via oral ou cremes e supositórios vaginais, dependendo da gravidade dos sintomas.
Nos casos em que o fungo se mostra muito resistente, pode ser necessário identificar a espécie de candida envolvida, pois algumas são mais difíceis de tratar. Com esse quadro, é preciso controlar fatores de risco como diabetes descompensada, estresse e o uso frequente de antibióticos, afirma a ginecologista Helizabet Salomão Abdalla Ayroza Ribeiro, do Hospital Santa Isabel, da Rede D’Or.
Para quem sofre com a candidíase de repetição, a imunoterapia surge como uma alternativa promissora. O tratamento consiste em "treinar" o sistema imunológico para reconhecer e combater Candida albicans de maneira mais eficaz, de acordo com a médica. O objetivo da imunoterapia é modular e estimular a resposta imunológica do organismo.
Como funciona a imunoterapia para tratar candidíase?
Existem diferentes abordagens, como as vacinas contra candida, que estimulam a produção de anticorpos específicos para prevenir futuras infecções. "A vacina previne recorrências em pessoas propensas à infecção, reduz a gravidade e a duração dos sintomas durante infecções agudas", diz Ribeiro.
Há também terapias baseadas em anticorpos, que neutralizam o fungo ou ativam células do sistema imunológico para melhorar a resposta ao patógeno.
Conhecida como "vacina contra candidíase", a imunoterapia funciona de maneira similar aos imunizantes tradicionais, usados para prevenir outras doenças. Os benefícios potenciais incluem a redução da frequência de episódios de candidíase e a diminuição da gravidade dos sintomas, além da possibilidade de oferecer uma solução duradoura para casos resistentes aos tratamentos convencionais.
A ginecologista ressalta, contudo, que esse tipo de tratamento está em fase experimental. Ainda é difícil encontrar locais especializados na imunoterapia, com opções geralmente restritas a clínicas de alergia e nutricional.
"Alguns ensaios clínicos demonstraram resultados promissores, mas ainda não há um produto amplamente disponível no mercado", afirma a médica. "A imunoterapia pode ser indicada no futuro para casos severos de candidíase recorrente, especialmente quando os tratamentos convencionais falham."
Um estudo publicado na National Library of Medicine avaliou a imunoterapia com alérgeno de Candida albicans em 34 mulheres com candidíase vaginal recorrente e resistência aos tratamentos convencionais. Após receberem injeções semanais por 17,4 meses, 64% das pacientes apresentaram melhorias —26% não tiveram episódios por dois anos e 38% apresentaram redução nos sintomas.
Os efeitos foram notados entre dois e 12 meses de tratamento, sugerindo que a imunoterapia pode ser uma opção eficaz para casos difíceis de tratar.
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Como prevenir a candidíase?
A prevenção da candidíase recorrente envolve, além do uso de antifúngicos profiláticos, algumas medidas complementares que podem ajudar a reduzir a frequência das infecções. Igor Padovesi, ginecologista do Hospital Albert Einstein, destaca a importância do uso de probióticos, especialmente os que contêm lactobacilos, para melhorar a microbiota intestinal.
Isso, por sua vez, tem um efeito positivo na microbiota vaginal, ajudando a manter o equilíbrio necessário para prevenir a proliferação de Candida albicans. A ingestão de probióticos é feita geralmente por via oral.
Mudanças de hábitos também são essenciais. Evitar roupas apertadas, reduzir o consumo de açúcar e adotar boas práticas de higiene íntima são medidas simples, mas eficazes. Os médicos afirmam ainda que a candidíase vaginal recorrente pode ser um sinal de problemas de saúde subjacentes ou fatores que comprometem o equilíbrio imunológico e a microbiota vaginal.
As condições associadas incluem diabetes descontrolada, alterações hormonais (gravidez e contraceptivos), sistema imunológico enfraquecido (HIV, medicamentos imunossupressores), desequilíbrio da microbiota vaginal (uso excessivo de antibióticos e disbiose intestinal), estresse crônico, doenças autoimunes e deficiências nutricionais como anemia.
Padovesi ressalta que, antes de diagnosticar a candidíase, é essencial confirmar se o corrimento recorrente, ou vulvovaginite recorrente, é realmente causado por candida. Isso porque existem outras condições que podem simular a candidíase, apresentando sintomas semelhantes, mas que não são causadas pelo fungo.
"Um exemplo comum é a vaginite citolítica [crescimento excessivo de lactobacilos, bactérias que normalmente estão presentes na flora vaginal], que tem manifestações parecidas com a candidíase, mas requer um tratamento distinto."
O médico também lembra que tratar o parceiro na candidíase vaginal é, em geral, uma exceção e recomendado apenas em casos mais complexos.
A candidíase não é considerada uma infecção sexualmente transmissível. No entanto, o tratamento do parceiro pode ser indicado para casos de balanite (inflamação do pênis), que pode ser causada por fungos. Para homens assintomáticos, o tratamento geralmente não é necessário, mas casos de infecções persistentes ou difíceis de controlar pedem uma avaliação profissional.