Era para ser o maior show do dia, talvez um dos maiores de toda esta edição do Rock in Rio. Mas a estreia do sertanejo no festival, quatro décadas após sua criação, foi marcada pelo cancelamento de Luan Santana e apresentações tão breves de Ana Castela e Simone Mendes que pareceram mais aparições especiais.
Em comum, os três artistas tinham neste mesmo sábado shows em cidades a milhares de quilômetros do Rio de Janeiro. Não tinham o dia todo reservado para se adaptar às necessidades do festival, que causou um atraso em cascata de mais de hora no line-up, desde o primeiro show do palco Mundo, o principal, que celebrou o trap.
Assim, a apresentação sertaneja precisou ser reestruturada às pressas. Chitãozinho e Xororó, os anfitriões, tiveram que tocar quase o show todo sozinhos, cantando músicas que, embora sejam centrais em seu repertório e no cancioneiro do gênero, talvez não sejam tão conhecidas por qualquer público.
Essa escalação emergencial de faixas menos populares, numa apresentação no Rio de Janeiro, um dos poucos lugares do país que não têm o sertanejo como sua música mais popular, teve grande impacto na apresentação.
Era visível que, depois da saída de Ana Castela, quando o show ainda não tinha chegado nem à metade, parte considerável do público começou a se movimentar para ir embora ou se dirigir a outros palcos a fim de aguardar as demais atrações da noite.
Não faltou público para Chitãozinho & Xororó, talvez os maiores mestres do sertanejo, mas eles não estavam preparados para tocar sozinhos num show em que dividiriam o palco com outras três super-estrelas.
Eram nomes que, aliás, tocam um sertanejo muito diferente daquele que os consagraram —Luan Santana com seu som que às vezes mais lembra o pop, Ana Castela com seus flertes com o funk e Simone Mendes com seu feminejo que deu seguimento ao sucesso de Marília Mendonça.
Eram, portanto, nomes cuja obra tinham potencial de se conectar com uma plateia mais ampla e diversa como a do Rock in Rio, que recebe até cem mil pessoas por dia. As crianças com chapelão de boiadeiros queriam ver Ana Castela, os adolescentes queriam ver Luan Santana, e as mulheres, a música empoderado e bem-humorada de Simone Mendes.
Resultado do atraso, do cancelamento e das participações breves foi uma apresentação em geral boa, mas com momentos notadamente de pouca empolgação da plateia. Houve momentos em que Chitãozinho pediu interações —mãos para o alto, gritos— que não foram atendidos pela plateia.
Ainda bem que a dupla, já entre os 60 e 70 anos, se difere dos demais sertanejos e não tem o costume de fazer mais de um show por dia, senão teria sido pior, e o Rock in Rio ficaria de mãos atadas.
Foi uma prova de que, se quiser escalar os sertanejos para as suas próximas edições, terá que pensar que, com todo o seu sucesso, os organizadores é que precisarão se adaptar.
Os sertanejos, que não tiveram a atenção do Rock in Rio nos últimos 40 anos, talvez não tenham o festival como sua prioridade. Afinal, eles desenvolveram um circuito próprio de shows que se mantêm com alta rentabilidade sem este apoio o ano todo. Entre ter 20 minutos no palco do Rock in Rio e atender a um contratante que está ao seu lado no dia a dia, contratando seus shows o ano inteiro, talvez o festival fique para trás, e com certeza razão.
Diferente dos demais artistas, os sertanejos mostraram hoje ao Rock in Rio que não podem esperar. Vão pegar seus jatinhos para o próximo show sem pensar duas vezes.