Rivais improváveis e R$ 50 bi: Brasil quer surfar era da IA com data center

há 2 semanas 5

No novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz explicam os motivos que fazem a indústria brasileira de tecnologia elevar a expectativa sobre a possibilidade de o Brasil virar um exportador de processamento de dados.

Quem pode rivalizar com o Brasil nesse jogo?

A indústria da tecnologia da informação tem argumentado que estamos diante de uma janela de oportunidades como o Brasil nunca viu antes. Que janela é essa? No mundo inteiro se tem falado no desenvolvimento de IA, que demanda muita capacidade de processamento e armazenamento, e o Brasil tem uma condição geográfica e de recursos naturais privilegiada para atender essa demanda
Helton Simões Gomes

China e Estados Unidos lideram a corrida da IA, mas, quando o assunto é data center, os principais rivais do Brasil são outros.

Regionalmente, o país concorre com Chile, México e Colômbia. Fora das Américas, a disputa é com Índia, Austrália, França e países nórdicos. A avaliação é de Affonso Nina, presidente da Brascomm, que elaborou um panorama do setor e o compartilhou com Deu Tilt.

Segundo a indústria, o país conta com os seguintes recursos para se tornar um hub internacional de data centers:

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  • energia abundante,
  • energia limpa,
  • posição geográfica.

Essa última característica é também um trunfo que pode levar o país a exportar serviços de processamento e armazenamento de dados, já que está relativamente próximo de América do Norte, Europa e África.

Só que o Brasil possui gargalos difíceis de contornar. O custo de construção de data centers por aqui chega a ser 30% maior do que em outros países.

Nas contas de Nina, da Brascomm, cada megawatt de um data center exige o investimento de US$ 60 milhões. Megawatt é a medida de potência dessas instalações. Como uma infraestrutura desse tipo é considerada modesta se tiver 10 megawatts, a construção não sai por menos de R$ 3 bilhões. Isso considerando o dólar a R$ 5.

Outro entrave é a importação de equipamentos, até 45% mais cara, devido aos impostos. Tudo isso se reflete no preço final. A disparidade no valor, conta Nina, faz com que cerca de metade da demanda brasileira por processamento, armazenamento e outros processos que envolvem dados seja contratada no exterior.

O Brasil tem uma posição meio ingrata nesse setor: é um país de dimensões continentais, tem muito território, grande diversidade de atividade comercial irregular concentrada no Sudeste e a capacidade dos data centers não atende todo mundo. Por isso, as empresas de tecnologia de informação são obrigadas a contratar serviços de armazenamento e processamento de dados em outros países porque são mais baratos
Helton Simões Gomes

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São esses os gargalos que a Política Nacional de Data Centers pretende solucionar, apurou Deu Tilt. O plano deve trazer ações para lidar com a tributação para importação de equipamentos, fomento para impulsionar a produção de máquinas pela indústria local e estratégias para tornar a iniciativa de longo prazo.

Para Diogo Cortiz, o investimento inicial do governo pode ser posteriormente revertido em benefícios de arrecadação.

A ideia é que tenha um sistema um pouco mais racional de tributação, mas que não seja feito um subsídio com dinheiro público. Esse dinheiro que foi investido vai voltar em arrecadação. Quando muitos data centers forem instalados aqui vai ser mais fácil armazenar e processar informações no país
Diogo Cortiz

A gente percebe que o Brasil está tentando correr uma corrida que dá para ser disputada. Ao invés de querer criar um grande LLM (Large Language Model) ou uma Big Tech, o Brasil está querendo disputar pela infraestrutura, que é com o que podemos disputar no mundo
Helton Simões Gomes

Ampliação da capacidade

A Brascomm estima que os data centers tenham capacidade instalada de 800 megawatts. A mensuração do tamanho do parque nacional é complexa por ser possível que fiquem fora da conta infraestruturas grandes, mas utilizadas corporativamente por apenas uma empresa.

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Com a possibilidade de tornar o Brasil mais atrativo no segmento, novas instalações já estão sendo planejadas. Para dar o tom do salto que o Brasil pode dar, a Brascomm elaborou um prognóstico do futuro do setor.

Considerou apenas os data center do tipo hyperscale, aqueles projetados para lidar com uma grande massa de dados e voltados a ampliar a capacidade de uma empresa lidar com quantidades enormes de informação.

Se hoje São Paulo concentra a maioria das instalações, em número e capacidade, no futuro, o Brasil pode ver Porto Alegre se tornar um novo hub de data centers e ver infraestruturas mais potentes ser instaladas:

  • Em operação: 60 data centers ou 468 MW (Fortaleza: 3 ou 11 MW; Rio de Janeiro: 11 ou 62 MW; São Paulo: 43 ou 449 MW; Porto Alegre: 3 ou 5 MW)
  • Em construção: 14 data centers ou 216 MW (Fortaleza: 2 ou 17 MW; Rio de Janeiro: 4 ou 76 MW; São Paulo: 8 ou 123 MW),
  • Planejados: 33 data centers ou 10.318 MW (Fortaleza: 2 ou 28 MW; Rio de Janeiro: 8 ou 370 MW; São Paulo: 20 ou 1170 MW; Porto Alegre: 3 ou 8750 MW)

É bom dizer que esse não é um plano isolado. A questão da infraestrutura e dos data centers faz parte do que está sendo discutido na indústria com o Plano Brasil Digital 2030+
Helton Simões Gomes

O Plano Brasil Digital 2030+ é uma agenda, encabeçada por entidades do setor público e privado, para impulsionar o desenvolvimento digital do país em seis eixos, que vão da transformação Digital à inclusão social e digital, passando pela capacitação digital.

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Europa vira 3ª força da IA e novo foco pode complicar o Brasil: 'vai ser engolido'

"Os Estados Unidos inovam, a China copia e a Europa regula". Até pouco tempo, a frase resumia a dinâmica da tecnologia no mundo. Mas a situação agora é outra.

A União Europeia quer mudar essa imagem e já questiona quanto a ênfase na regulação tem impactado a inovação no bloco.

"Queremos que a Europa seja um dos principais continentes de IA. E isso significa abraçar um modo de vida onde a IA esteja em todo lugar. A IA pode nos ajudar a impulsionar nossa competitividade, proteger nossa segurança, reforçar a saúde pública e tornar o acesso ao conhecimento e à informação mais democrático"
Ursula Von Der Leyen, presidente da comissão europeia

IA até lê, mas não entende notícias direito, mostra pesquisa

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Sabe aquela ferramenta de IA capaz de responder sobre tudo o que aconteceu? Ela não tira informações do nada, mas, sim, de notícias.

O problema é que uma pesquisa da BBC mostrou que a IA consegue ler, mas não entende muito bem as notícias direito.

E isso interfere nas respostas dadas a você. Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes explicam como essa falha foi detectada e quais são os impactos dela sobre a percepção que as pessoas têm da realidade.

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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