'Risco Heloísa Helena' com ameaça a mandato de Glauber Braga assusta aliados de Lula

há 1 dia 5

Dada como certa por integrantes do PSOL, a cassação do deputado federal Glauber Braga (RJ) é vista com preocupação pelo partido, não só pelo contexto que o levaria a perder o mandato, como também pelo fato de a primeira suplente da bancada ser a ex-ministra Heloísa Helena (Rede-RJ).

Membros da federação formada por PSOL e Rede, assim como aliados do presidente Lula (PT), manifestaram à Folha o receio de que, caso assuma como deputada, Heloísa crie embaraços para a bancada com adversários e com o governo federal, do qual a ex-parlamentar é crítica contumaz.

Um dirigente do PSOL disse que, mesmo isolado dentro do partido, Braga é visto como um quadro com menor potencial de criar problemas para a bancada até por ser menos conhecido nacionalmente do que Heloísa. Ela concorreu à Presidência da República pelo PSOL em 2006 e teve 7% dos votos, marca que a sigla nunca conseguiu superar.

O mesmo dirigente lembrou que Heloísa protagonizou conflitos em todos os partidos pelos quais passou, e que enfrenta uma disputa pelo comando da Rede contra a ala alinhada à ministra Marina Silva (Meio Ambiente).

Militante histórica do PT, Heloísa foi expulsa da sigla em 2003 quando, enquanto senadora por Alagoas, seu estado de origem, votou contra a proposta de reforma da Previdência durante o primeiro mandato de Lula. No ano seguinte, foi uma das fundadoras do PSOL, partido do qual saiu em 2015 por discordar do arrefecimento de críticas ao PT, em meio ao processo que levou ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff no ano seguinte.

Na Rede, além da disputa interna com a ala ligada a Marina, Heloísa já protagonizou embates, nos bastidores, com o deputado federal Túlio Gadêlha (Rede-PE). Ela é apontada internamente como uma das responsáveis por derrubar a pré-candidatura dele à Prefeitura de Recife, no ano passado.

Caso Heloísa assuma a vaga de deputada no lugar de Glauber Braga, ela e Túlio serão os únicos filiados à Rede na Câmara. Dirigentes do partido receiam que o convívio com a colega leve o deputado, que vem flertando com um retorno ao PDT, a se desfiliar da Rede.

Além disso, quadros do PT e do PSOL alinhados ao governo temem não poder contar com os votos de Heloísa num momento em que a equipe de Lula tem feito malabarismos para aprovar projetos de seu interesse.

O caráter combativo de Heloísa, no entanto, também é visto por alguns dirigentes do PSOL como um aspecto a ser usado em negociações internas para tentar barrar a cassação de Braga. De acordo com eles, desavenças antigas entre ela e a família do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), podem servir para convencer a oposição.

O ex-presidente é visto como principal fiador do processo de cassação do psolista, que critica o uso político de emendas durante o mandato de Lira à frente da Mesa Diretora e a quem já chamou de "bandido" mais de uma vez.

Lira teria ligado para presidentes de partidos para garantir que os deputados votem a favor da perda do mandato de Braga. Mesmo entre parlamentares de oposição, a cassação é vista como uma medida extrema e alguns têm dito, nos bastidores, que só votarão a favor por causa da pressão exercida por Lira.

Um auxiliar do PSOL disse que deputados da sigla já se preparam para lembrar ao ex-presidente da Câmara que Heloísa Helena pode ser uma "pedra no sapato" ainda mais incômoda que Braga.

Em 2010, quando Lira foi eleito deputado federal pela primeira vez, o pai dele, Biu Lira, se elegeu ao Senado promovendo ataques a Heloísa, que liderava as pesquisas na ocasião. A ex-senadora é mais uma a não poupar críticas a Lira e à família dele, recorrendo constantemente ao episódio em seus discursos.

Procurada pela Folha, Heloísa Helena manifestou solidariedade com a situação de Braga, mas não respondeu aos questionamentos sobre os receios de colegas do PSOL.

"Glauber tem minha total e irrestrita solidariedade, é um processo escandaloso de dosimetria completamente desproporcional. Glauber é um homem honrado, tem meu apoio incondicional", disse ela.

Heloísa trocou o domicílio eleitoral de Alagoas para o Rio de Janeiro em 2022 após duas derrotas consecutivas em seu estado de origem: nas eleições de 2018, para deputada federal, e de 2020, para vereadora de Maceió. Em sua estreia entre o eleitorado carioca, recebeu 38.161 votos e ficou como a primeira na lista de suplência da federação PSOL/Rede.

No ano passado, foi candidata a vereadora no Rio e, com 11.971 votos, não conseguiu se eleger. Sua candidatura foi a mais cara da sigla no estado, com R$ 1,9 milhão proveniente do fundo eleitoral. Na ocasião, a correligionária Ingrid Oliveira, candidata a vereadora de Niterói, a acusou de abuso de poder econômico e entrou com uma ação para que a Justiça Eleitoral bloqueasse as contas da Rede.

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