A retirada dos Estados Unidos da OMS (Organização Mundial da Saúde), anunciada nesta segunda (20) pelo presidente Donald Trump, levanta preocupações sobre a capacidade da agência da ONU (Organização das Nações Unidas) de combater doenças e responder a emergências ao redor do mundo sem seu maior financiador.
Aqui estão alguns fatos sobre o financiamento dos EUA para a saúde global e as potenciais implicações da medida de Trump, que pode ser seguida por mais cortes nas contribuições internacionais.
Maior doador
Os EUA contribuem com cerca de 18% do financiamento da OMS, que está lutando para arrecadar fundos para emergências de saúde, de Gaza à Ucrânia. O orçamento bienal da agência para 2024-2025 foi de 6,8 bilhões de dólares.
Nesse período, os EUA financiaram 75% do programa da OMS para HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, além de mais da metade das contribuições para combater a tuberculose, segundo dados da agência.
Os EUA são, de longe, o maior doador de saúde do mundo, tendo doado 15,8 bilhões de dólares em 2022, de acordo com o Donor Tracker, uma plataforma que rastreia o financiamento para o desenvolvimento.
Tratado de pandemia
Trump também é cético em relação às negociações lideradas pela OMS para um acordo pós-Covid visando melhorar a solidariedade global diante de futuras ameaças à saúde.
Elon Musk, bilionário aliado de Trump, afirmou que as nações não deveriam "ceder autoridade" à OMS. Os EUA cessarão as negociações sobre o tratado enquanto sua retirada prossegue.
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Pessoal em Genebra
No anúncio da retirada dos EUA da OMS, Trump também declarou que funcionários e contratados dos Estados Unidos trabalhando com a organização seriam chamados de volta e realocados.
Os centros de controle e prevenção de doenças dos Estados Unidos têm trabalhado de perto com a OMS, enviando cerca de 30 funcionários para Genebra e colaborando em pesquisas e no monitoramento de surtos.
Vigilância de doenças
Os EUA, assim como outros estados-membros da OMS, fazem parte de uma rede global de vigilância da gripe supervisionada pelo órgão. Entre outras atividades, o grupo presta assessoria sobre a composição da vacina anual contra a gripe sazonal.
Além de sua atuação na OMS, os EUA financiam muitos outros programas de saúde global.
HIV e Aids
Os EUA são um dos principais financiadores da luta contra o HIV. Grande parte desse apoio vem do chamado Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da Aids.
O programa foi reautorizado pelo Congresso por apenas um ano em 2024, após alegações conservadoras de que alguns beneficiários de subsídios promovem o aborto. Essa autorização expira em março.
Aborto
Em seu último mandato, Trump reinstaurou a chamada "Política da Cidade do México", exigindo que instituições de caridade estrangeiras que recebem fundos de planejamento familiar dos EUA certificassem que não realizam abortos nem oferecem aconselhamento sobre o tema.
Ele também expandiu a política, conhecida por críticos como a "regra da mordaça global", reprimindo instituições de caridade que financiam outros grupos que apoiam o aborto. Além disso, Trump cortou o financiamento do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas), que atua na área de saúde reprodutiva.
Vacinas
Com o cético em relação a vacinas Robert F. Kennedy Jr. nomeado como secretário de Estado para a Saúde, a abordagem da administração Trump em relação às vacinações, tanto domésticas como internacionais, é incerta.
No entanto, durante a última administração de Trump, as contribuições para o grupo global de vacinas permaneceram aproximadamente as mesmas que sob seus predecessores e sucessores democratas na Casa Branca.
O financiamento também se manteve em nível semelhante para o Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, outro importante ator da saúde global.
Pesquisa e resposta
Agências de saúde dos Estados Unidos respondem a emergências e surtos em todo o mundo, além de estabelecer normas e padrões para medicamentos e segurança por meio da FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos) e do CDC.
Os Institutos Nacionais de Saúde são um dos principais centros de pesquisa do mundo e financiam iniciativas de saúde global, desde esforços para combater a Mpox até o ebola.
O papel dos EUA nessas áreas sob Trump ainda não está claro e provavelmente será influenciado, em certa medida, por eventos e prioridades. Por exemplo, Trump criou a chamada Operação Warp Speed [algo como "velocidade espacial"] durante a pandemia, para desenvolver vacinas contra a Covid-19.