Empresas de todo o mundo estão reduzindo previsões de receita e lucro deste ano, em meio ao cenário de juros elevados e fraqueza da economia chinesa que têm prejudicado a confiança dos consumidores.
Várias empresas decepcionaram investidores, incluindo McDonald's, Nissan, Tesla, Nestlé e Diageo. Com cerca de 40% das companhias americanas e europeias com resultados já publicados, investidores se mostraram decepcionados uma vez que, apesar de os números terem vindo dentro do esperado, a expectativa era de desempenhos melhores diante do forte rali dos mercados acionários mundiais.
"Até o momento, a temporada foi bastante mista em termos de resultados", disse Brian Mulberry, gerente de portfólio de clientes da Zacks Investment Management. "Estamos começando a ver a pressão que o ambiente de taxas de juros mais altas por mais tempo está exercendo sobre as empresas."
As empresas globais se concentraram em dois problemas que estão afetando seus resultados financeiros: taxas de juros mais altas, que estão restringindo os gastos dos consumidores, e o baixo desempenho da economia da China, a segunda maior do mundo.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
O McDonald's divulgou sua primeira queda na receita global em 13 trimestres, citando a fraqueza da economia chinesa. Empresas como Unilever, Visa e Aston Martin também citaram o desempenho da economia do país, e analistas alertaram que a demanda no gigante asiático provavelmente não se reverterá. A China tem sido atingida por uma prolongada crise no setor imobiliário e insegurança no emprego que tem pesado sobre os consumidores.
"Os chineses não estão dispostos a gastar porque têm medo do futuro", disse Stefan-Guenter Bauknecht, gerente de portfólio da DWS. Até que o crescimento melhore na China, o país será "o mais fraco das grandes regiões, ou pelo menos o mais atrasado em relação às expectativas", disse ele.
Até o momento, os lucros por ação aumentaram quase 12% nos Estados Unidos em relação ao ano anterior, o trimestre mais forte dos últimos 10, de acordo com dados da Lseg. Os lucros aumentaram 4% na Europa, de acordo com o Bank of America Securities, ligeiramente acima das expectativas do mercado e, para a Europa, a primeira taxa de crescimento desde 2022.
A fraqueza do consumidor está sendo sinalizada em todos os setores da indústria e os cortes de previsões de desempenho aumentaram, disse a corretora. As empresas americanas reduziram previsões para o terceiro trimestre para um crescimento de 7,3% em relação ao ano anterior, de 8,6% no início de julho, de acordo com dados da Lseg.
"Embora os resultados do segundo trimestre tenham sido, em geral, decentes, a temporada assustou o mercado com sinais de estresse do consumidor", disseram os analistas do Bank of America.
Colunas e Blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
Nestlé e Unilever registraram crescimento de vendas no primeiro semestre abaixo das expectativas. As empresas das duas maiores economias da zona do euro estão ficando mais pessimistas, aumentando as preocupações sobre a lenta recuperação do bloco.
"Há um comportamento de busca de valor entre os consumidores. Há pressão, especialmente na faixa de baixa renda", disse o presidente-executivo da Nestlé, Mark Schneider, a jornalistas.
As montadoras de veículos estão enfrentando dificuldades nos EUA, onde altos estoques e problemas logísticos prejudicaram Ford, Stellantis e Nissan. A Tesla decepcionou investidores com seus resultados, e muitos ainda consideram a empresa supervalorizada depois da desaceleração das vendas de carros elétricos.
A temporada de resultados, porém, não está sendo toda ruim. O crescimento da receita em computação em nuvem da Alphabet, controladora do Google, é um bom presságio para outros líderes do setor de tecnologia no final desta semana.
Os resultados do conglomerado industrial 3M fizeram com que suas ações atingissem o maior nível em quase dois anos, enquanto General Motors e Johnson & Johnson registraram fortes lucros, e o JP Morgan disse que teve resultado recorde.
Os fabricantes de chips asiáticos tornaram-se mais otimistas em relação às perspectivas de demanda, já que se beneficiam do boom global da inteligência artificial, que os ajudou a resistir à redução da demanda por produtos eletrônicos no pós pandemia.
"A IA está tão em alta; neste momento, todos os meus clientes querem colocar a funcionalidade de IA em seus dispositivos", disse o presidente-executivo da TSMC, C.C. Wei, a analistas. O executivo acrescentou que a demanda por IA agora é mais real do que há dois ou três anos. As ações da TSMC acumulam alta de 56% até agora em 2024.
Apesar das previsões otimistas, as ações das principais fabricantes de chips asiáticas estão sob pressão para acompanhar o aumento das expectativas. Isso também é evidente no desempenho da líder em IA Nvidia, cujo valor ultrapassou 3 trilhões de dólares no início deste ano, antes de recuar mais recentemente.
"As expectativas dos investidores são tão altas que pode ser difícil atendê-las e, no curto prazo, o preço das ações pode não subir tanto", disse o analista Lee Min-hee da BNK Investment & Securities.
O índice MSCI International, de mercado amplo, ganhou 11% até o momento neste ano, atingindo um pico no início deste mês antes de recuar, em parte devido às esperanças de que o Federal Reserve comece a cortar juros nos EUA após medidas semelhantes de outros bancos centrais.
"Na medida em que as taxas de juros recuem mais adiante...é improvável que os analistas reduzam as projeções gerais de lucros para o próximo ano", disse Rick Meckler, sócio da Cherry Lane Investments.