Agora, alguns criadores de conteúdos perceberam que produzir vídeos, memes e textos que causam raiva e indignação é uma técnica ainda mais eficaz. Muitos deles conseguem milhares e até milhões de likes e compartilhamentos.
Eles exploram, ao mesmo tempo, a dinâmica das redes sociais e a natureza humana de uma maneira combinada. Enquanto as plataformas são otimizadas para gerar engajamento e manter as pessoas o máximo de tempo olhando para a tela do celular, a raiva, a indignação e o ódio são respostas emocionais que fazem as pessoas reagirem a conteúdos de uma maneira imediata.
Olhar para um meme de um gatinho pode aquecer o coração. Talvez pensemos 'que fofo', mas em seguida rolamos para próxima postagem. A coisa muda completamente quando nos deparamos com um conteúdo que nos causa estranheza.
Quem não concorda com o que foi postado, quer rebater, xingar, expressar o que está sentindo. E quem concorda compartilha o conteúdo para causar a mesma reação em mais e mais pessoas.
Os algoritmos das redes sociais adoram essa dinâmica. Eles entendem que o conteúdo está fazendo um ótimo trabalho para o modelo de negócio das plataformas: as pessoas estão interagindo e ficando mais tempo dentro de seus domínios.
O "rage bait" vem crescendo e coincide com o fato de muitas plataformas pagarem por conteúdos postados. Os criadores são recompensados financeiramente de acordo com engajamento: visualizações, comentários e compartilhamentos.
São métricas quantitativas que não dizem nada sobre o tipo de conteúdo que circula, mas que causam um efeito afetivo avassalador nas pessoas.
Os conteúdos políticos estão entre aqueles que usam a estratégia de "rage bait", mas não são os únicos. Muitos criadores de conteúdo estão criando personagens e narrativas fictícias que causam indignação e, consequentemente, trazem mais engajamento.
Esse é um comportamento que estou vendo muito nas redes sociais. Quase todos os dias passam por mim conteúdos que, de maneira rápida e automática, me causam respostas afetivas negativas.
Daí eu logo penso: não é possível que isso seja verdade. E, depois de um mínimo esforço de averiguação, descubro que se trata mesmo de alguém criando histórias absurdas só para ter engajamento.
Com os vídeos curtos isso fica ainda mais evidente e tende a ganhar ainda mais tração. Afinal, é o algoritmo que empurra os vídeos com mais engajamento para o maior número de pessoas.
Esse é o jogo em um ambiente informacional guiado por algoritmos que olham para métricas quantitativas para decidir os conteúdos que vivem e morrem. A consequência é uma sociedade em que o roubo de atenção e o sequestro emocional virou um modelo econômico.
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.