'Radar de injustiça': cérebro tem mecanismo que salva você de gente egoísta

há 1 semana 4

É aquela sensação incômoda que a gente não sabe de onde vem, mas que está detectando alguma coisa
Paulo Boggio

O neurocientista conta que, segundo alguns pontos de vista, o ser humano é considerado uma espécie racional e que busca maximizar as possibilidades. Mas isso sai de cena quando percebemos que outras pessoas querem levar vantagem e não repartir.

Para mostrar essa dinâmica na prática, Boggio cita o "Jogo do Ultimato", em que um indivíduo recebe uma quantia de dinheiro e precisa dividir com um outro. Caso o segundo indivíduo rejeite a oferta, ninguém leva nada.

Se eu fosse extremamente racional, era melhor ganhar R$ 10 do que não ganhar nada
Diogo Cortiz

Só que, em muitos casos, as pessoas simplesmente recusam qualquer oferta por considerá-la injusta. E fazem isso mesmo que signifique perder todo o dinheiro.

Se a gente fosse racional sempre, ele aceitaria uma oferta baixinha. Mas, abaixo de 30% [do total do valor], as pessoas costumam negar
Paulo Boggio

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Essa recusa ao que é injusto ou egoísta tem nome, é chamada de "punição altruísta", explica Boggio. De acordo com o cientista, tem a ver com a maneira como a humanidade evoluiu, privilegiando comportamentos voltados à cooperação. Dessa forma, atitudes que sejam boas para os indivíduos, mas não igualmente boas para os envolvidos, são rechaçadas.

A sobrevivência da gente depende muito de cooperação
Paulo Boggio

As avaliações comportamentais são importantes, mas não são as únicas para compreender como as pessoas definem o que é certo ou errado.

Outro método para detectar a velocidade dessas decisões são exames de eletroencefalograma (EEG). Eles apontam que o cérebro leva entre 70 e 100 milissegundos para captar uma imagem e usa menos tempo ainda para processar diversas outras informações que passam pelo cérebro sem que as pessoas sequer se deem conta delas.

Por meio deles, é possível saber que o cérebro leva menos de 100 milissegundos para identificar se uma situação é injusta ou não.

O ódio venceu: por que 'haters' estão superando o de fãs na internet

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A afinidade une as pessoas. Mas o repúdio por algo também. Historicamente, os seres humanos formam grupos mais por defenderem algo de que gostam muito, algo que neurocientistas chamam de "in love group". Mas, recentemente, isso tem mudado: as pessoas têm se alinhado a outras com mais frequência por detestarem características ou as ideias de outros indivíduos. Você já percebe isso na política, mas não só nela. Boggio explica por que isso está acontecendo e o que a internet tem a ver com isso. Não é pouca coisa.

Por que 'se colocar no lugar do outro' gera mais polarização --e não menos?

Você já deve ter ouvido que a solução para conflitos é "se colocar no lugar do outro". Munido de pesquisas em neurociência, Boggio explica que esse não é o melhor caminho. E ainda pode piorar as coisas. No fim das contas, esse exercício pode até levar a um sentimento cunhado por filósofos alemães como "Schadenfreude", algo como, "prazer na dor alheia". Ainda assim, há saída. Boggio explica como.

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo às 15h.

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