Queda de asteroide na Terra desencadearia inverno global, terremotos e incêndios

há 1 mês 14

A cada seis anos, o asteroide Bennu fica mais próximo da Terra, a cerca de 299 mil quilômetros de distância —é justamente o que está acontecendo hoje. Mas, no futuro, ele pode chegar bem mais perto e até atingir o nosso planeta. Mesmo que baixíssimo, existe um risco de colisão em setembro de 2182.

E quais seriam os efeitos de uma trombada de um objeto de 500 metros de diâmetros como o Bennu? Bem, as notícias não são nada animadoras, conforme pesquisa publicada nesta quinta-feira (6).

Além de uma devastação imediata, estima-se que o impacto injetaria de 100 a 400 milhões de toneladas de poeira na atmosfera. Isso teria repercussões no clima, na química atmosférica e no processo de fotossíntese, com duração de três a quatro anos.

"O escurecimento solar devido à poeira causaria um inverno de impacto global abrupto, caracterizado por redução da luz solar, temperaturas frias e diminuição da precipitação na superfície", explicou Lan Dai, pesquisador pós-doutorado no Centro de Física do Clima (ICCP) da Universidade Nacional de Pusan, na Coreia do Sul. Ele é o autor principal do estudo publicado na revista Science Advances.

No pior cenário, os pesquisadores descobriram que a temperatura média da superfície da Terra diminuiria 4 graus Celsius e a precipitação média, 15%. Haveria ainda uma redução de até 30% na fotossíntese das plantas e um esgotamento de 32% na camada de ozônio, que protege o planeta contra a radiação ultravioleta solar prejudicial.

O impacto de um objeto do tamanho de Bennu —um asteroide considerado de tamanho médio— na superfície terrestre geraria uma poderosa onda de choque, terremotos, incêndios florestais e radiação térmica. Também deixaria uma cratera enorme e lançaria grandes quantidades de detritos para cima, segundo os pesquisadores.

Grandes quantidades de aerossóis e gases alcançariam a atmosfera superior, causando efeitos de longa duração no clima e nos ecossistemas, ainda de acordo com Dai e o autor sênior do estudo, Axel Timmermann, físico do clima e diretor do ICCP.

As condições climáticas desfavoráveis inibiriam o crescimento das plantas em terra e no oceano.

"Em contraste com a rápida redução e a lenta recuperação de dois anos das plantas em terra, o plâncton se recuperaria em seis meses e até aumentaria depois com florescimentos sem precedentes de diatomáceas [um tipo de alga] desencadeados pela deposição de poeira rica em ferro no oceano", disse Dai.

Uma significativa redução de ozônio ocorreria na estratosfera —a segunda camada atmosférica à medida que se sobe— devido ao forte aquecimento causado pela absorção solar de partículas de poeira, segundo a pesquisa.

Quanto à perda de vidas humanas, a colisão de um asteroide dessa magnitude provavelmente teria efeito devastador. Mas o potencial número de mortes, segundo Dai, depende sobretudo de onde o asteroide cairia na Terra.

Bennu é considerado um acumulado de detritos, ou seja, um grupo de material rochoso em vez de um objeto sólido. Esse asteroide resulta de um corpo celeste maior que se formou perto do início do Sistema Solar, há aproximadamente 4,5 bilhões de anos.

Em 2020, a sonda Osiris-Rex, da Nasa, visitou Bennu e coletou amostras de rocha e poeira. Essas amostras, segundo dois estudos publicados no mês passado (um na Nature Astronomy e outro na Nature), continham alguns dos ingredientes químicos necessários para o surgimento de organismos vivos. Isso significa que rochas espaciais podem ter semeado a Terra primitiva.

Ao longo de sua história, a Terra já foi atingida por asteroides, muitas vezes com resultados catastróficos. Há 66 milhões de anos, por exemplo, um com tamanho estimado entre 10 e 15 km de largura caiu na costa da Península de Yucatán, no México, resultando no fim de três quartos das espécies do mundo e encerrando a Era dos Dinossauros.

Em 2022, a Nasa fez sua primeira missão, a Dart, para desviar a trajetória de um asteroide, em uma espécie de ensaio para caso precise pôr em prática um dia.

"A probabilidade de um asteroide do tamanho de Bennu atingir a Terra é bastante pequena, de 0,037%", afirmou Timmermann. "Mesmo sendo pequena, o impacto potencial seria muito sério e provavelmente levaria a uma insegurança alimentar de longo prazo em nosso planeta e a condições climáticas semelhantes às vistas apenas em algumas das maiores erupções vulcânicas nos últimos 100 mil anos."

"Portanto, é importante pensar sobre o risco", acrescentou o físico.

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