Quase 1 em cada 5 casos de dengue pode ser atribuído à mudança climática, diz estudo

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A mudança climática é responsável por quase um quinto dos casos de dengue, e em 2024 o número de casos está a caminho de duplicar o recorde alcançado em 2023, segundo um estudo americano publicado neste sábado (16).

A propagação da dengue "é muito sensível ao clima", o que a torna "uma excelente doença para estudar" o impacto do aquecimento global na saúde, explica Erin Mordecai, especialista em doenças infecciosas da Universidade Stanford.

Transmitida por picadas de mosquitos tigre infectados, essa doença viral — que pode causar febre alta e dores musculares — geralmente é leve, mas às vezes pode ser grave ou até fatal.

A dengue já é endêmica em mais de 130 países e, com o aumento das temperaturas, os mosquitos vetores estão se espalhando para além das zonas tropicais e subtropicais, onde antes estavam limitados.

Para este novo estudo — apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, mas que ainda não foi avaliado por pares — uma equipe de pesquisadores analisou a incidência da dengue e as variações climáticas em 21 países da Ásia e da América.

Estimaram que cerca de 19% dos casos atuais de dengue, em média, em todo o mundo "são atribuíveis à mudança climática", resume Mordecai, autora principal do estudo, que foi divulgado no Azerbaijão durante a 29ª conferência sobre o clima da ONU, a COP29.

As temperaturas entre 20ºC e 29ºC são as mais favoráveis à propagação da doença, e em áreas endêmicas com essas condições — como certas partes do Peru, México, Bolívia e Brasil — pode haver um aumento de 150% a 200% nos casos de infecção nas próximas décadas.

No total, pelo menos 257 milhões de pessoas vivem atualmente em áreas nas quais a mudança climática pode duplicar a incidência da dengue nos próximos 25 anos.

Bactérias, ao resgate

Houve quase 13 milhões de casos de dengue nos primeiros oito meses de 2024, segundo a Organização Mundial da Saúde, ou seja, quase o dobro do recorde registrado em 2023. O número real provavelmente está mais perto de 100 milhões, já que a imensa maioria dos casos não é notificada, em grande parte devido à falta de testes ou sintomas, aponta Mordecai.

O estudo foi apresentado pouco depois do início de um novo surto em Guadalupe, uma região francesa no Caribe.

Além da mudança climática, a globalização do comércio e das viagens, assim como o avanço da urbanização, favorecem a propagação dos mosquitos tigre.

Uma das estratégias promissoras para combater a dengue é introduzir na natureza mosquitos infectados com uma bactéria que bloqueia a capacidade do inseto de transmitir o vírus.

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia foram introduzidos há cinco anos em grande parte da cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, segundo outro estudo apresentado na reunião anual, mas que também ainda não foi avaliado por pares.

Em 2024, enquanto o Brasil enfrentava sua maior epidemia de dengue, Niterói registrou apenas um pequeno aumento de casos, com o número 90% menor do que antes do experimento e sem comparação com o resto do país.

Isso demonstra que a bactéria Wolbachia "pode fornecer proteção duradoura contra os surtos cada vez mais frequentes de dengue a nível mundial", afirma Katie Anders, uma das responsáveis pelo Programa Mundial contra os Mosquitos.

O programa já se associou ao governo brasileiro para construir um centro de criação e produção de mosquitos Wolbachia, o que permitirá a introdução simultânea destes insetos em várias cidades para proteger milhões de pessoas, informou o chefe de projeto brasileiro, Luciano Moreira.

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