Nas últimas semanas, um conflito ganhou destaque na internet após o Instituto Conhecimento Liberta (ICL) denunciar a plataforma de acompanhantes Fatal Model por veiculação de propaganda inadequada. O caso chamou a atenção quando o embate extrapolou as telas e um caminhão da empresa denunciada ficou estacionado na porta da sede do ICL fotografando a entrada dos funcionários.
Comandado por Eduardo Moreira, o ICL argumenta que a publicidade da plataforma de acompanhantes ultrapassa os limites éticos ao ser exibida em jogos de futebol sem as devidas restrições etárias em plataformas de ampla circulação, em horário que qualquer criança ou adolescente pode assistir, e leva grandes riscos para a educação e a formação desse público. Para uma parte da população que ainda se importa, a exposição de públicos jovens a esse tipo de propaganda viola o direito à proteção de crianças e adolescentes por falhas no sistema de publicidade digital.
A resposta da empresa veio por meio de uma série de notificações legais, nas quais exigiu a remoção das publicações críticas e fez ameaças com ações judiciais. A prática de tentativa de censura e intimidação, estratégia utilizada por grandes empresas para silenciar críticos, foi repudiada por entidades de direitos humanos e associações jornalísticas. O caso tem rendido debates envolvendo a regulação de plataformas online no Brasil, e, após a divulgação, a Secretaria Nacional do Consumidor notificou a Confederação Brasileira de Futebol e o Estádio Nilton Santos (Engenhão) a prestar esclarecimentos.
O episódio expõe um problema estrutural mais amplo: a falta de regulamentação efetiva sobre a veiculação de anúncios, especialmente no ambiente digital. Muitas vezes tratados como não intencionais, anúncios impróprios são amplamente utilizados não apenas por plataformas de serviços sexuais, mas também por jogos de cassino e casas de apostas.
À sombra da desregulamentação, o crescimento do uso das apostas online no Brasil já representa um problema de Saúde Pública, ao incentivar um comportamento compulsivo, levando muitos a comprometerem suas economias sem plena consciência dos riscos envolvidos. O problema também possui caráter sociológico a medida que as aspirações sociais da população têm mudado e a busca pela prosperidade, como vendida nas redes sociais, não está mais essencialmente ligada à um emprego estável, mas a uma ideia de riqueza para a qual as bets se apresentam como um atalho.
Assim, é necessário refletirmos sobre os efeitos que tais propagandas produzem na população em geral, principalmente crianças e jovens ainda em formação. Temos nos preocupado com o curso da educação formal das futuras gerações, porém, a educação não se dá apenas nas salas de aula.
Precisamos de escolas de qualidade, mas também precisamos tratar da educação de maneira integrada, com uma população mais saudável em todos os níveis, inclusive sociais. Por isso, os acontecimentos com o ICL, para além da preocupação com a intimidação e a falta de ética, evidencia a urgência de todos esses fatores, se quisermos proteger e conduzir nossas crianças para um futuro melhor, com educação de qualidade e com uma sociedade mais justa e saudável.