Projetos de capacitação começam a mostrar resultados no campo da tecnologia

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PrograMaria, Black In Tech, Meninas Digitais, PretaLab... Há uma série de coletivos e ONGs liderados por pessoas de grupos minorizados para promover a inclusão racial e de gênero no campo da tecnologia. Eles atuam há mais de uma década no setor —considerado pelos próprios profissionais da área como um dos menos diversos, segundo pesquisa do Google de 2021.

O esforço parece estar surtindo algum efeito. Segundo a Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais), a participação feminina em posições de diretoria e gerência no setor alcançou 35,6%. Já a inclusão de pretos e pardos é menor: são 16,8% na área.

No levantamento Diversidade nas Empresas, as companhias de destaque da categoria Tecnologia e Telecomunicações exemplificam essa tendência. São elas a Tim Brasil, a Vivo (Telefônica Brasil) e a Oi, que está em recuperação judicial

O levantamento foi feito pelo Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) em parceria com a Folha. Os pesquisadores utilizaram dados de 2023 de empresas de capital aberto declarados à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A pesquisa avalia de forma separada companhias de 100 a 4.999 funcionários e a partir de 5.000. No total, um universo de 418 empresas foi levado em consideração. A diversidade foi mensurada em cargos de média liderança, diretoria e conselhos de administração e fiscal.

Para Maria Antonietta Russo, vice-presidente de pessoas, cultura e organização da Tim, essa evolução não é apenas reflexo de maior conscientização social, mas também de uma visão estratégica que reconhece a pluralidade como motor essencial para a inovação, a competitividade e o crescimento sustentável das companhias.

Em um país tão plural como o Brasil, repleto de potenciais, precisamos incentivar a multiplicidade de talentos e a integração dessas experiências para que possamos alavancar o nosso segmento e, por consequência, transformar verdadeiramente a vida das pessoas

Três dos seis diretores da Tim são mulheres, aponta o levantamento. Elas ainda representam 36% das posições de média liderança. No pilar racial, pretos, pardos e indígenas compõe 20% dos cargos de chefia.

"Demos passos ousados para chegar a esses resultados, que não apenas superaram expectativas, mas redefiniram padrões no mercado. Em 2023, ultrapassamos nossa meta de 35% de mulheres em cargos de liderança", afirma Russo.

Já na Vivo, o estudo FGV/Folha mostra que colaboradores pretos, pardos e indígenas ocupam 33% dos cargos de média liderança e as mulheres, 35%. "Desenvolvemos programas de capacitação, iniciativas de acessibilidade, atuamos junto às lideranças para combater os vieses inconscientes e mantemos importante parcela de vagas afirmativas", diz Fernando Luciano, vice-presidente de pessoas da operadora.

Em 2023, cerca de 2,7 mil vagas foram abertas para talentos diversos, incluindo pessoas com deficiência, LGBTQIA+ e com mais de 50 anos. Nos programas de trainee e estágio, 50% das posições são reservadas para negros.

Cultivamos um ambiente livre de preconceitos, para que nossos colaboradores sejam quem quiserem ser, desenvolvam o máximo de seu potencial e vivam seus propósitos pessoais dentro da organização. Uma empresa assim, atrai e retém mais talentos e possui mais vantagem competitiva e capacidade de adaptação ao mercado

De acordo com o levantamento, não há participação feminina e de pretos, pardos ou indígenas na diretoria –a empresa se destaca pela presença dos grupos em divisões como conselho de administração e fiscal, e cargos de média liderança.

Na Oi, mulheres são metade dos membros da diretoria, que não conta com pretos, pardos e indígenas, segundo o estudo. A empresa se destaca em participação feminina em instâncias como conselho fiscal e média liderança.

Quanto mais diverso o time, maior a pluralidade de ideias e de repertório, afirma Ariane Fonseca, diretora de jornada e experiência do colaborador da empresa. "A diversidade é necessária ao nosso negócio. Trata-se de um mercado dinâmico, que exige agilidade e visões diferentes para atendermos uma variedade maior de clientes", afirma.

A diversidade é extremamente necessária para o nosso negócio, já que se trata de um mercado tão dinâmico quanto o de tecnologia, que precisa de agilidade e principalmente de visões diferentes para atendermos, da melhor forma, uma variedade maior de clientes

No setor como um todo, a participação de pretos e pardos continua baixa. Apesar de um aumento geral na presença de estudantes negros nas universidades —de 41% para 52% em dez anos, segundo a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior)—, essa inclusão ainda não se reflete proporcionalmente na área. Pesquisa das consultorias Indique uma Preta e Cloo mostrou que a representatividade em cargos de liderança é de 8%.

"Quando se fala em líder, as pessoas pensam no estereótipo do homem branco, hétero, alto e magro", diz Silvana Bahia, fundadora do PretaLab, que visa a capacitação e inserção de mulheres negras e indígenas. "Esses vieses inconscientes atrapalham não só a percepção das pessoas, mas também a análise racional dos dados que mostram os ganhos e vantagens da diversidade, inclusive econômicos."

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Neste ano, a Brasscom entregou ao presidente Lula (PT) o Plano Brasil Digital 2030, que define ações de curto, médio e longo prazo para ajudar a reduzir discrepâncias. Um dos pilares é a inclusão digital.

"Nos últimos cinco anos, houve um crescimento de 1,7% na participação de mulheres em cargos de direção e gerência, contra 1% do mercado geral nacional", diz Mariana Rolim, diretora-executiva da Brasscom.

"Tudo começa com a base. O problema está muito na formação de talentos diversos", afirma Rolim. "A gente precisa primeiro melhorar o letramento digital da população, para que as pessoas minoritárias possam seguir uma carreira em tecnologia."

Folha Mercado

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As notas de participação feminina e de pretos, pardos e indígenas, que vão de 0 a 100, foram calculadas levando em consideração a presença dos grupos em cargos de alta e média liderança. Os autores do estudo deram pesos diferentes para cada uma das categorias analisadas: enquanto diretoria e conselho de administração têm peso maior, uma vez que os membros têm maior poder decisório, a média liderança e o conselho fiscal têm peso menor.

  • Empresas com 5.000 funcionários ou mais

OI
Fundação
1998
Funcionários 3.352
Participação de pretos, pardos e indígenas 10,46
Participação feminina 32,48
Também levou na categoria Sudeste

TIM BRASIL
Chegada ao Brasil 1998
Funcionários 10 mil
Participação de pretos, pardos e indígenas 8,67
Participação feminina 38,39
Também levou nas categorias Diretoria e Sudeste

VIVO (TELEFÔNICA BRASIL)
Chegada ao Brasil
1998
Funcionários 33 mil
Participação de pretos, pardos e indígenas 12,89
Participação feminina 28,54
Também levou na categoria Sudeste

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