A prévia do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de março, que registrou uma alta de 0,64%, mostrou uma inflação abaixo do que era esperado pelo mercado na primeira metade do mês. Apesar dessa surpresa para baixo, a expectativa de economistas ainda é que a alta de preços no ano fique bem acima do teto da meta para o ano, de 3% com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
O IPCA-15, divulgado nesta quinta-feira pelo IBGE, foi impulsionado em especial pelo aumento de preços da alimentação em domicílio e transportes, que subiram com a elevação do ICMS sobre a gasolina. Em serviços, um dos setores que mais preocupam os economistas, a alta foi de 0,65% no mês.
“A aceleração da inflação não deve ser passageira”, avalia Claudia Moreno, economista do C6 Bank. “Acreditamos que o câmbio depreciado, a economia resiliente e o mercado de trabalho aquecido devem continuar pressionando os preços nos próximos meses, fazendo com que o IPCA feche o ano em 5,9%.”
Os especialistas destacaram que os bens industriais registraram uma alta menor do que em fevereiro, o que ajudou a segurar o IPCA-15 de março. Para o economista Alexandre Maluf, da XP, a Semana do Consumidor, marcada por promoções das varejistas, trouxe descontos maiores do que o esperado, o que pode ter contribuído para essa inflação mais comportada da categoria.
Do lado negativo, ele aponta o patamar alto dos núcleos de inflação e de serviços. “Os núcleos de inflação em 12 meses estão em 4,7%. Portanto ainda temos um cenário de inflação de curto prazo bastante desafiador, uma inflação bastante pressionada, apesar da surpresa baixista no mês, que é desejável”, afirma. “Ainda projetamos uma inflação de 6% neste ano”.
Na avaliação de Leonardo Costa, economista do ASA, a inflação menor de bens industriais também pode estar relacionada com a queda do dólar. “O IPCA de março, atualmente projetado em +0,55%, não deve ser grande, com um qualitativo pouco melhor do que o esperado anteriormente”, disse.
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Inflação de alimentos
André Valério, economista sênior do Inter, lembrou que o grupo alimentação e bebidas vem sendo o grande vetor de alta nos últimos meses, e voltou a acelerar no início de março.
“No mês, a alta foi amplamente influenciada pela variação de 1,09% em alimentação e bebidas, seguida da alta de 0,92% dos transportes”, apontou. “Juntos, esses dois grupos representaram dois terços da inflação observada. As demais variações ficaram entre o 0,03% de artigos de residência e o 0,81% de despesas pessoais, com todos os grupos pesquisados registrando alta no mês”.
O especialista avalia que o resultado de março ainda sugere cautela com a inflação. “Apesar da melhora do aspecto qualitativo, essa melhora ainda é marginal, e a persistência da inflação de alimentos em patamar muito elevado por vários meses pode ter repercussões no restante do índice, como já se nota na alimentação fora do domicílio, o que pode pressionar a inflação de serviços”, diz Valério.