Prefeito de Salvador é sócio de alvo da operação que mira esquema de desvios em emendas

há 1 dia 3

O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), é sócio desde 2022 de um empresário que foi alvo de busca e apreensão na última fase da Operação Overclean, que mira desvios de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro com recursos de emendas parlamentares.

A Overclean, cuja primeira fase foi deflagrada em dezembro do ano passado, tem entre os seus alvos pessoas que tinham proximidade com o grupo político de Reis, que é afilhado político do ex-prefeito soteropolitano ACM Neto.

Entre os citados nas investigações, está o deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA). Por causa dessas menções, o inquérito da Overclean passou a tramitar no STF (Supremo Tribunal Federal), sob relatoria do ministro Kassio Nunes Marques. O conteúdo dele está sob sigilo.

O sócio de Bruno Reis é o empresário Samuca Silva Franco, 51, que atua em Ilhéus, no sul da Bahia.

Samuca virou suspeito por, segundo a Polícia Federal, ter recebido dinheiro de empresas consideradas como de fachada, que simulam serviços fictícios e emitem notas fiscais frias.

A partir de material apreendido nas fases anteriores da operação e de análise de transações financeiras, foi identificado que o empresário recebeu R$ 200 mil de uma dessas empresas, a BRA Teles Ltda., em março do ano passado, e R$ 373.500 da BRA Teles e da FAP Participações Ltda. —outra das investigadas— entre abril de 2022 e março de 2024.

Ele também é citado em conversas entre outros investigados. Samuca é sócio de uma série de companhias, de ampla área de atuação: vão desde o imobiliário ao da extração mineral e, ainda, na locação de aeronaves.

Bruno Reis é prefeito de Salvador desde 2021 e está em seu segundo mandato. Em maio de 2022, ele comprou de Samuca quotas da SPE Vento Sul Empreendimentos Imobiliários Ltda, segundo documentos registrados na Juceb (Junta Comercial da Bahia).

À época, a empresa tinha 95% do seu capital social representado por Samuca. O prefeito comprou 10% das quotas do empreendimento, no valor de R$ 60 mil, por meio da empresa BB patrimonial, que ele divide a sociedade com seus filhos. À época, outros sócios também passaram a fazer parte dos negócios.

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A SPE, segundo seu objeto social, atua na área de "compra, venda e permuta de imóveis próprios", "incorporação e loteamento de áreas urbanas e rurais", além de construção civil, administração e locação de bens próprios.

Além da sociedade, Bruno Reis já demonstrou proximidade com Samuca em outras ocasiões. Em um vídeo divulgado nas redes sociais de um evento fechado, o prefeito faz elogios ao empresário e diz que conversa com ele frequentemente pelo telefone, normalmente ao sair da academia, no trajeto para casa.

"Vocês sabem da minha amizade, do meu carinho, do meu amor, mas principalmente da admiração que eu tenho por esse cara aqui, um irmão que a vida me deu, Samuca Franco", diz o prefeito de Salvador.

No vídeo, Bruno diz que recebe ligações de Samuca todos os dias, com palavras de estímulo e apoio, e citou os negócios imobiliários do empresário. Ao lado dos dois, no evento, estava ACM Neto.

Procurado pela reportagem, Bruno Reis disse, em nota divulgada por sua assessoria, que "o empreendimento citado se trata de um investimento no campo imobiliário em Ilhéus, no sul da Bahia, sem qualquer vinculação política ou com setor público, portanto, é relacionado à área privada".

"Para este projeto, foi adquirida uma área no valor de R$ 600 mil para a implantação de um loteamento, com a participação de dez sócios. A BB Patrimonial, da qual Bruno Reis é sócio, adquiriu 10% do empreendimento, com custo de R$ 60 mil. O prefeito ressalta que o projeto não tem qualquer vinculação com os fatos que estão sendo apurados."

A Folha não conseguiu localizar Samuca Silva Franco ou seus advogados.

A terceira fase da operação foi deflagrada no último dia 3 pela Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União. Os mandados foram cumpridos em Salvador, São Paulo Belo Horizonte e Aracaju.

Ela levou ao afastamento do secretário de Educação de Belo Horizonte, Bruno Barral, que foi titular da mesma pasta em Salvador

Bruno Barral foi secretário de Educação da capital baiana entre 2017 e 2020, na gestão de ACM Neto, por indicação do PSDB.

A Overclean apontam a atuação de um grupo criminoso que teria atingido o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), órgão ligado ao Ministério da Integração Nacional, especialmente na Bahia.

O grupo, segundo a PF, direcionava recursos de emendas parlamentares e convênios para empresas ligadas a administrações municipais, com superfaturamento de obras e desvios financeiros. Ele teria movimentado cerca de R$ 1,4 bilhão em contratos fraudulentos e obras superfaturadas.

São apurados os crimes de corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça.

Na primeira fase da operação, em dezembro, a Polícia Federal cumpriu 43 mandados de busca e apreensão, 17 de prisão preventiva e ordens de sequestro de bens.

Entre os presos, estavam os empresários e irmãos Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente, além de Lucas Lobão, que comandou o Dnocs na Bahia durante o governo Jair Bolsonaro (PL).

Também foi preso na época o empresário José Marcos de Moura, conhecido como "rei do lixo", que atuava no setor de limpeza urbana e era membro da cúpula nacional do União Brasil.

As prisões foram revogadas pela juíza Daniele Maranhão, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), que determinou que os suspeitos usem tornozeleira eletrônica e não mantenham contato com outros investigados.

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