Preço alto do chocolate não afasta consumidor, que esgota ovos de Páscoa

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Apesar da disparada no preço do cacau e do aumento nas reclamações sobre os valores, os consumidores mantiveram a tradição de comprar ovos e chocolates na Páscoa deste ano. A corrida às lojas se concentrou principalmente na busca por novidades ou por opções mais acessíveis.

Na Cacau Show, alguns dos produtos mais cobiçados já não estão mais disponíveis. É o caso do ovo ao leite do Harry Potter, que vem acompanhado de tabletes e de uma lata dourada, e do Pistache Dubai, que ganhou destaque nas redes sociais.

A reportagem da Folha percorreu supermercados e lojas de chocolate nas zonas sul e central da capital paulista nesta quarta-feira (16).

Nas lojas visitadas, as opções mais econômicas de ovos de Páscoa também já estavam esgotadas. A procura por esses produtos tende a aumentar ainda mais até o domingo, quando a maioria dos consumidores deve fazer suas últimas compras.

Neste ano, a Cacau Show busca crescer cerca de 30% em relação ao ano passado, apenas nesta data. Segundo Iris Ferraz, gerente de produtos da marca, a fabricante tem 78 produtos dedicados à Páscoa.

Quanto à alta dos preços do cacau, Iris diz que foram feitos investimentos nos setores de tecnologia das fábricas para reduzir custos sem diminuir a qualidade dos produtos.

"A qualidade é algo que grita para a gente, e nunca vamos mexer nisso, mas nós fomos buscando formas de otimizar o processo fabril para repassar a menor ordem de grandeza possível de aumento de preço ao consumidor", afirma.

Camila Farias, gerente da unidade da Cacau Show no Morumbi Shopping (zona sul de SP) —a maior da fabricante na capital paulista— afirma que a expectativa de vendas para quinta (17) e sexta-feira (18) é de cerca de R$ 400 mil, somando os produtos da loja e o restaurante instalado na unidade.

Segundo ela, em alguns dias, as filas chegam a dar voltas na unidade, refletindo o alto movimento típico da semana que antecede a Páscoa.

Folha Mercado

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Consumidores entrevistados pelo Folha avaliam que, apesar do aumento nos preços, a manutenção da tradição nesta data ainda é importante.

Cristiane Machado, 40, diz que já está na segunda rodada de compras. A primeira foi feita para presentear os professores da escola dos filhos. As mães dos colegas se juntam anualmente para reunir quantias maiores e comprar produtos de maior qualidade.

Nesta quarta, ela foi em busca de presentes para domingo de Páscoa, quando a família se reunirá para o almoço. Cristiane também teve que recorrer às compras online para adquirir o ovo de Harry Potter para o filho de 11 anos.

"Apesar da alta dos valores, eu acho que aqui consigo encontrar o melhor custo-benefício e sabor nos ovos", afirma, na loja da Cacau Show.

A gestora de recursos humanos Aline Bizzi, 39, diz que foi procurar ovos para os colaboradores da empresa em que trabalha. Ela vai comprar 30 presentes e, por esse motivo, estava em busca de opções mais acessíveis.

"Nós fazemos essas compras todos os anos, mas faz tempo que não conseguimos dar ovos para as pessoas. Muitas vezes, achamos que vale mais a pena comprar uma barra de chocolate com mais qualidade", diz.

Betina Borges, confeiteira, 30, afirma que costuma recorrer às compras de ovos de Páscoa nesse período porque não gosta de produzir os próprios produto. Ela comprou opções da Cacau Show tanto para o namorado quanto para o filho, e afirma que avaliou o custo-benefício antes de fazer a compra.

Nos supermercados, além dos ovos, caixas de bombons e barras de chocolate também foram colocadas nas áreas onde tradicionalmente são expostos os produtos de Páscoa. Muitos consumidores que procuravam ovos tentavam encontrar as opções mais baratas.

Em algumas redes, é possível parcelar o valor do produto. O casal de aposentados Rosemari Pereira, 64, e Ero Alves, 71, foi às compras em busca de presentes para os netos e afilhados.

Ao todo, cerca de 15 ovos foram comprados. Eles explicam que tentaram encontrar alternativas mais econômicas, mas a maioria já estava esgotada. Rosemari também considerou os preços deste ano mais elevados do que nos anteriores.

COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

Segundo levantamento feito pela plataforma de pesquisas Toluna, oito em cada dez consumidores consideram que é importante celebrar a Páscoa. Ao todo, 73% dos entrevistados pretendem presentear alguém nesta data.

De acordo com a pesquisa, além dos ovos e produtos de chocolates, os peixes continuam sendo o produto tradicional mais consumido. A pesquisa da Toluna foi feita pela internet entre os dias 4 e 10 de abril, com consumidores das classes A, B e C, em todas as regiões do país.

Em relação a 2024, 49% dos consumidores afirmam que pretendem gastar mais nesta Páscoa. Outros 31% planejam manter o nível de gastos, enquanto 20% desejam reduzir as despesas com produtos de chocolate.

Além da alta do cacau, a demanda maior durante a Páscoa tem afetado os preços do chocolate em diversas categorias, mostram dados da consultoria Neogrid. Os ovos, não à toa, sofrem o maior aumento.

O estudo, feito com base na leitura de 40 milhões de notas fiscais por mês em todo o país, revela que, conforme o feriado se aproxima, mais caros os itens têm ficado.

Em março deste ano, o preço médio dos ovos ficou em R$ 66,45 —em fevereiro, o valor estava em R$ 47,16 (alta de 40,9%). O mesmo fenômeno de alta em março ocorreu em 2024 e 2023.

Em outra categoria, das barras, é possível ver que o "efeito Páscoa", que tem encarecido os produtos antes do feriado, foi menor. No entanto, ano após ano, os chocolates em barra ficaram bem mais caros.

Em março de 2023, o preço médio de uma barra de chocolate estava em R$ 13,56. Em 2024, subiu a R$ 16,81, e neste ano, o produto sai por R$ 18,86 (39% a mais do que há dois anos).

"A Páscoa é um período de alta demanda por chocolates", afirma Anna Carolina Fercher, coordenadora de atendimento ao cliente e dados estratégicos da Neogrid.

"O consumidor está mais disposto a gastar com o item e as barras acabam sendo uma alternativa economicamente mais vantajosa e com margem para um ajuste de preço."

O fenômeno das barras é semelhante ao do segmento dos chocolates e bombons. Em 2023, o preço médio rondava a casa dos R$ 14,90. Há um ano, saltou para R$ 16,33, e o custo atual é de R$ 18,27 —aumento total de 22% no período.

O QUE EXPLICA A ALTA DO CACAU?

Em mais um ano, mercados e marcas enfrentam dificuldades devido à alta do cacau. Em 2024, o preço da tonelada ultrapassou os US$ 11 mil (cerca de R$ 64,5 mil), impactando diretamente os custos de produção e refletindo no aumento dos preços dos chocolates.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em barras e bombons registrou uma inflação de 11,99% nos 12 meses de 2024. Em março deste ano, a inflação para os produtos foi de 0,64%.

Entre os motivos que explicam a alta nas cotações estão as colheitas ruins na África Ocidental em 2023, principalmente na Costa do Marfim e em Gana, países que produzem cerca de dois terços do cacau mundial. Neste ano, a expectativa é de que as colheitas nos dois países sejam melhores.

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