Pouso do Starship e terapia com CAR-T estão entre os principais feitos científicos de 2024

há 13 horas 1

A tradição natalina científica inclui as listas com as mais importantes descobertas e personalidades da ciência do ano feitas pelas revistas Science e Nature. E, para não quebrar esse costume, aqui vão as de 2024.

Entre elas estão a droga injetável lenacapavir, pesquisas com o telescópio James Webb, o primeiro tique de um novo relógio e a recuperação do primeiro estágio do foguete Starship, da Spacex.

Confira todas abaixo.

Lenacapavir

Uma nova esperança contra o HIV/AIDS surgiu em 2024 com a droga injetável lenacapavir, que ofereceu uma surpreendente proteção contra o vírus. A revista Science elegeu o feito como a descoberta do ano.

Pesquisadores esperam que, se usada como PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), ela poderá reduzir consideravelmente os níveis globais de infecção.

Em um estudo duplo-cego, controlado e randomizado com 5.000 mulheres e garotas adolescentes da África do Sul e de Uganda, houve zero infecções por HIV no grupo de 2.134 que receberam lenacapavir. Todas as infecções ocorreram nos outros dois braços do estudo.

Outro estudo apontou eficácia de 99,9%, com somente duas infecções no grupo que recebeu a droga. Esse foi desenvolvido na América do Sul, Ásia, África e Estados Unidos, com 3.265 homens cisgênero, homens e mulheres transgêneros e pessoas não binárias que faziam sexo com homens.

CAR-T contra doenças autoimunes

A terapia com CAR-T (células T com receptor de antígeno quimérico) ganhou uma nova dimensão neste ano, com aplicação para pacientes com doenças autoimunes. Tanto a Science quanto a Nature destacaram pesquisas nessa área.

O tratamento já era usado, por exemplo, para cânceres sanguíneos.

A técnica consiste em modificar geneticamente células T do paciente para atacar células B, que, assim como as T, fazem parte do sistema imune. Em linhas gerais, as células B cancerígenas são as raízes de leucemias e linfomas e as células B também desempenham um papel na autoimunidade.

Até o momento, mais de 30 pacientes foram tratados de doenças autoimunes com células CAR-T. Entre os pacientes que fizeram parte dos estudos, estão pessoas com lúpus, esclerodermia e miosite. Houve casos de remissão e interrupção do uso de imunossupressores.

Telescópio James Webb

O James Webb, o mais potente telescópio espacial existente, tem tido sucesso em revelar as luzes do amanhecer cósmico, afirma a lista da revista Science.

O telescópio foi desenhado especificamente para olhar para o primeiro bilhão de anos do Universo e já encontrou mais galáxias candidatas do que o imaginado. Curiosamente, as observações indicaram brilhos incomuns e tamanhos comparáveis ao da Via Láctea, um crescimento que não seria possível, de acordo com as teorias de evolução galáctica atuais.

Além disso, o telescópio foi citado pela Nature, desta vez através da pesquisa de Wendy Freedman. A cientista foi importante para novas estimativas sobre a velocidade de expansão do Universo. O dedo dela também está presente no Telescópio Gigante de Magalhães, no Chile, e seu trabalho ajudou a melhorar estimativas sobre a idade do Universo.

Pesticida à base de RNA

A EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA) aprovou, em 2024, um pesticida em spray feito para agir, especificamente, em um gene de seu alvo. O avanço foi citado pela revista Science.

O químico foi desenvolvido para agir especificamente contra o escaravelho-da-batata, resistente a pesticidas já existentes.

O spray, aplicado nas folhas das plantas, usa um método conhecido como RNA de interferência, processo usado por células para regular a expressão gênica. Quando a larva do inseto come as folhas, o RNA bloqueia uma proteína do bicho, que morre após algum tempo.

Os nitroplastos

Até 2024, não se conheciam organismos eucariontes —em linhas gerais, seres complexos— capazes de fixar nitrogênio do ar e transformá-lo em amônia, influenciando a produção de proteínas em plantas, por exemplo.

Os nitroplastos teriam aparecido cerca de 100 milhões de anos atrás. A origem seria a endossimbiose entre cianobactérias, capazes de fixar nitrogênio, e algas marinhas.

A pesquisa foi mencionada pela Science.

Organismos multicelulares

Seres multicelulares já existiam no planeta Terra muito antes do imaginado anteriormente, de acordo com pesquisa publicada neste ano e destacada pela Science.

A descoberta ocorreu a partir de fósseis microscópicos de organismos semelhantes a algas com 1,6 bilhão de anos.

O achado sugere que eucariontes multicelulares apareceram cerca de 1 bilhão de anos antes de corpos mais complexos —com isso, a estrada para a complexidade foi mais lenta do que se pensava antes, diz a Science.

Starship e os braços mecânicos

Em outubro deste ano, recorda a revista Science, a SpaceX conseguiu recuperar o primeiro estágio do Starship, algo essencial para tornar o veículo rapidamente reutilizável.

A manobra de recuperação contou com enormes braços mecânicos que pinçaram o foguete, o maior já construído, em pouso.

O veículo, que ainda está na fase de testes, deve ser utilizado na volta dos humanos à Lua e, quem sabe, a Marte.

DNA do passado

Graças a avanços para extração de DNA antigo e ao barateamento de tais análises, cientistas têm conseguido identificar laços familiares de milhares de anos atrás, aponta a Science.

É claro que não se trata apenas de curiosidade. A capacidade de olhar para DNAs antiguíssimos e conectar as informações achadas com outros DNAs de pessoas enterradas nos arredores, tipo de sepultura, idade do esqueleto, entre outras possibilidades, ajuda a chegar a conclusões a que, muitas vezes, a arqueologia não conseguiria sozinha.

A revista científica cita como exemplo o trabalho de pesquisadores que, combinando dados de DNA de chefes celtas com detalhes das sepulturas onde estavam, conseguiram apontar que dinastias locais eram transmitidas pelo lado materno.

Tempo nuclear

A revista Nature, em seu tradicional Nature’s 10 (algo como os 10 da Nature), apontou um pesquisador, Ekkehard Peik, que, com outros cientistas, conseguiu o primeiro tique de um novo relógio que pode ser mais preciso e robusto do que relógios atômicos —estes são acurados ao nível de perderem ou ganharem 1 segundo a cada 40 bilhões de anos.

O novo relógio é baseado em tório-229 —mais especificamente, baseia-se em pequenos deslocamentos de energia no núcleo atômico. No entanto, para avançar no projeto, ainda a desafios a serem vencidos, como a obtenção de lasers mais compactos e precisos.

Respostas em rochas lunares

Da lista da Nature também consta a pesquisa com rochas lunares derivadas da missão chinesa Chang’e 6, que, neste ano, colheu quase dois quilos de material do lado afastado da Lua.

A revista destacou o trabalho do geólogo Li Chunlai com as amostras de pedras e solo. Ele esteve por trás da organização da missão, contribuindo, por exemplo, para a escolha do local onde a sonda pousaria no satélite.

Um dia após chegarem à Terra, as amostras já estavam no laboratório do geólogo em Pequim. A expectativa é que elas possam desvendar segredos lunares, entre os quais por que um lado afastado do satélite é tão diferente do outro, que sempre fica voltado para o nosso planeta.

Leia o artigo completo