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China, terra do meio
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Autoridades dos Estados Unidos afirmam que a China não retaliou os recentes aumentos tarifários americanos sobre importações chinesas devido ao diálogo contínuo entre os países.
Jay Shambaugh, subsecretário do Tesouro dos EUA para assuntos internacionais, disse que oficiais chineses obtiveram uma "compreensão com mais nuance" das novas tarifas após reuniões recentes.
- "Acho que eles ficaram preocupados quando souberam que uma revisão estava em andamento, de que poderíamos fazer algo enorme que mudaria tudo no relacionamento econômico", declarou.
As medidas afetam setores estratégicos como veículos elétricos e semicondutores, totalizando US$ 18 bilhões (R$ 98 bilhões) em importações. Segundo Shambaugh, as tarifas visam áreas onde os EUA buscam desenvolver produção local.
O assunto, porém, está longe de ser esgotado. Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, o ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, e a secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, planejam conversar por telefone em breve para discutir laços econômicos e comerciais.
Nas palavras da agência, os dois devem conversar sobre "relações bilaterais e questões-chave de interesse mútuo, incluindo restrições a veículos elétricos". Em reunião recente em Pequim, autoridades chinesas expressaram preocupações "graves" sobre tarifas adicionais dos EUA, restrições de investimentos e sanções relacionadas à Rússia.
Por que importa: Pequim tomou medidas retaliatórias quase imediatamente contra o Canadá quando o país resolveu seguir os passos do vizinho e aplicou as mesmas tarifas aos seus carros elétricos.
O fato de que resolveram esperar para retaliar os EUA não indica, necessariamente, temor ou desejo de agradar os americanos, mas uma possível cautela pela iminência das eleições.
Os chineses sabem que Trump pode complicar ainda mais os fluxos comerciais entre os dois países e aguardam o resultado da disputa presidencial para saber como proceder.
Kamala x Trump
De Washington, a correspondente da Folha informa o que importa sobre a eleição dos EUA
PARA VER
Tela de Jiang Miao, natural da província de Jilin, no noroeste da China. A artista é notória pelo uso de gravuras em madeira. Leia uma entrevista com ela aqui (em inglês).
O QUE TAMBÉM IMPORTA
★ Um homem de 37 anos foi preso após realizar um ataque a faca em um supermercado Walmart em Xangai, na China, deixando três mortos e 15 feridos. A polícia informou que o suspeito, identificado apenas pelo sobrenome Lin, agiu para "desabafar sua raiva devido a uma disputa econômica pessoal". O incidente ocorreu em um shopping no distrito de Songjiang, área densamente povoada no sudoeste da cidade. Testemunhas relataram cenas de pânico e sangue. A China, que proíbe armas de fogo no país, tem enfrentado uma série de ataques com facas nos últimos meses.
★ Uma pesquisa da Universidade Tsinghua, em Pequim, mostrou que os chineses têm opiniões favoráveis sobre a Rússia e visões fortemente desfavoráveis em relação aos EUA e ao Japão. O estudo, que ouviu mais de 2.600 pessoas, revelou que 66% dos entrevistados têm visão positiva da Rússia, enquanto 76% e 81% expressaram opiniões desfavoráveis sobre EUA e Japão, respectivamente. A desaprovação em relação ao país norte-americano é direcionada principalmente ao governo e suas políticas, não à população. A pesquisa também indicou crescente pessimismo sobre o futuro das relações sino-americanas e a percepção de que a influência global dos EUA está diminuindo, enquanto a da China aumenta.
★ O novo secretário-geral da Otan, Mark Rutte, afirmou que a China se tornou uma "facilitadora decisiva" da Guerra da Ucrânia e cobrou punições contra o país asiático. "A China não pode continuar alimentando o maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial sem impacto em seus interesses e reputação", disse Rutte, que substituiu o norueguês Jens Stoltenberg após dez anos à frente da aliança militar entre os EUA e países europeus. Ele também ressaltou que o custo de apoiar a Ucrânia é muito menor do que seria o custo de uma vitória de Putin.
FIQUE DE OLHO
A China conduziu um exercício naval no Mar do Sul da China, dias após o diplomata Wang Yi acusar os EUA de "criar problemas" na região.
A manobra coincidiu com o Dia Nacional chinês e seguiu-se a um exercício conjunto envolvendo EUA, Filipinas, Austrália, Japão e Nova Zelândia.
O Comando do Teatro Sul do Exército de Libertação Popular afirmou que o objetivo é aumentar a capacidade de operação conjunta e demonstrar a determinação em manter a paz na área.
As tensões na região aumentaram recentemente, com confrontos entre China e Filipinas, e a crescente presença militar dos EUA. Pequim reivindica a maior parte do Mar do Sul da China, disputado por vários países do sudeste asiático.
Por que importa: a despeito de recentes acordos entre China e Filipinas para desescalar os conflitos no mar, Pequim dá indícios de que não vai recuar enquanto os EUA continuarem colocando pressão sobre o tema.
Como EUA e Filipinas têm um acordo de proteção mútua de não agressão, a situação pode se complicar significativamente caso haja baixas ou incidentes sérios entre as marinhas chinesa e filipina.
PARA IR A FUNDO
- A The Economist liberou uma longa entrevista com Michael Kovrig, canadense que ficou preso por três anos na China acusado de espionagem. Ao podcast Drum Tower, Kovrig traz um raro relato sobre o sistema prisional chinês e as tratativas que levaram à libertação dele e do compatriota Michael Spavor. Ouça aqui (pago, em inglês).
- O Instituto Confúcio na Unesp e o Centro Cultural São Paulo promoverão no próximo mês a 9ª Mostra de Cinema Chinês. Serão 14 filmes exclusivos exibidos entre os dias 4 e 15 de outubro, com ingressos distribuídos antes de cada sessão. Saiba mais aqui (gratuito, em português).