População de animais selvagens diminuiu em média 73% em 50 anos, diz estudo

há 6 meses 12

As populações de animais selvagens perderam em média 73% de seus indivíduos em 50 anos e, na América Latina e no Caribe, a perda é de até 95%.

Os dados integram o novo relatório de referência na área formulado pela ONG WWF, publicado nesta quinta-feira (10), a poucos dias do início da COP16 da biodiversidade (conferência das Nações Unidas sobre o tema) na Colômbia. O evento será realizado no final deste mês.

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O estudo, intitulado "Planeta Vivo", explica que essa porcentagem não significa que quase 75% dos animais selvagens do planeta tenham desaparecido, mas, sim, que o tamanho das populações (grupos de animais de uma mesma espécie que compartilham um habitat comum) avaliadas no trabalho encolheu em 73%, em média, durante os últimos 50 anos (de 1970 a 2020).

"Constatamos verdadeiros sucessos em nível local, com espécies que retornaram [da extinção], mas são como ilhotas de preservação no interior de um conjunto que se degrada", disse Yann Laurans, diretor de programas do WWF na França, em entrevista coletiva.

Cerca de 5.500 vertebrados (mamíferos, aves, peixes, répteis e anfíbios), distribuídos em 35 mil populações em todo o mundo, integram o índice do "Planeta Vivo", que é atualizado a cada dois anos pela Sociedade Zoológica de Londres desde 1998.

O índice se tornou referência internacional para medir o estado dos ecossistemas naturais e analisar as consequências para a saúde humana, a alimentação e a mudança climática, apesar das repetidas críticas de parte da comunidade científica à metodologia de cálculo, acusada de exagerar em grande medida a magnitude do declínio.

"Seguimos confiando na solidez [do índice]", afirmou Andrew Terry, da Sociedade Zoológica de Londres, durante o evento à imprensa.

A nova edição do relatório repete a necessidade de abordar conjuntamente a crise "interconectada" do clima e da destruição da natureza. E insiste na crescente ameaça de "pontos de inflexão" em alguns ecossistemas.

"As mudanças poderão ser irreversíveis, com consequências devastadoras para a humanidade", destacou Daudi Sumba, chefe de conservação do WWF, citando como exemplo a amazônia. A floresta corre o risco de deixar de ser um "sumidouro de carbono para [ser] emissor de carbono, acelerando assim o aquecimento global", lembrou.

"Não se trata apenas da fauna selvagem, se trata dos ecossistemas essenciais que sustentam a vida humana", alertou também Sumba.

O maior declínio é observado nas populações de espécies de água doce (-85%), seguido pelos vertebrados terrestres (-69%) e marinhos (-56%).

Após a América Latina e o Caribe, as regiões mais ameaçadas são África (-76%), Ásia e Pacífico (-60%).

A diminuição das populações é menor na Europa e Ásia Central (-35%) e na América do Norte (-39%). "Mas só porque os impactos em grande escala na natureza já eram visíveis antes de 1970 nessas regiões: algumas populações se estabilizaram, e até cresceram, graças aos esforços de conservação e a reintrodução de espécies", explica o relatório.

Essas discrepâncias ficam muito evidentes quando se avalia, por exemplo, a população do boto-cor-de-rosa, da amazônia, que diminuiu 65% de 1994 a 2016, em contraste com o bisão europeu, que desapareceu completamente da natureza naquele continente em 1927, mas retornou e agora tem população de 6.800 indivíduos.

"A boa notícia é que ainda não chegamos ao ponto de não retorno", conclui o documento, sobre a situação global da biodiversidade, citando os esforços em curso após o Acordo de Paris, sobre o clima, e o Acordo de Kunming-Montreal. Esse último fixou aos Estados de todo o mundo 20 objetivos para proteção da natureza a serem alcançados até 2030.

Impulsionar a implementação, até agora tímida, desse programa será a tarefa principal da COP16, que acontecerá de 21 de outubro a 1° de novembro em Cali, na Colômbia.

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