As políticas de diversidade da Apple e a parceria com a OpenAI serão alvo de organizações conservadoras em sua reunião anual de acionistas, enquanto a fabricante do iPhone resiste ao ativismo corporativo após a eleição de Donald Trump.
Os investidores da empresa de US$ 3,7 trilhões votarão nesta terça-feira (25) uma moção do NCPPR ](National Center for Public Policy Research) que tenta forçar a Apple a abandonar suas políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI). O grupo conservador sem fins lucrativos argumenta que decisões recentes da Suprema Corte dos EUA sobre políticas de DEI deixam a empresa exposta a potenciais processos judiciais.
Uma resolução separada de acionistas pede, também, um relatório sobre como a Apple garante uma estratégia de IA (inteligência artificial) "ética". A proposta alerta que a parceria da Apple com a OpenAI pode criar riscos de privacidade e segurança de dados.
A votação sobre as duas propostas de acionistas ocorre enquanto acordos no espaço de IA estão sob escrutínio bipartidário e empresas como Meta e Google abandonam políticas progressistas para se aproximarem da nova administração dos EUA.
A Apple se opõe a ambas as moções. Elas provavelmente não serão aprovadas, em grande parte porque seus maiores acionistas —BlackRock e Vanguard— se distanciaram do ativismo político de acionistas.
As moções podem ter um efeito cascata. Em janeiro, os acionistas da Costco rejeitaram esmagadoramente uma proposta de DEI semelhante do NCPPR. Dezenove procuradores-gerais republicanos então escreveram à empresa pedindo que encerrasse as políticas.
O CEO da Apple, Tim Cook, cortejou Trump ao longo de muitos anos e teve destaque em sua posse. A empresa está exposta a tensões políticas entre Washington e Pequim, e as grandes empresas de tecnologia também esperam que o presidente possa forçar a UE a recuar na aplicação regulatória.
A moção do NCPPR desta terça mira o "Programa de Diversidade de Fornecedores" da Apple, que abrange práticas gerais de promoção e contratação, o emprego de um vice-presidente de inclusão e diversidade, e doações para organizações que apoiam DEI.
O conselho da Apple disse que a proposta "tenta de forma inadequada restringir a capacidade da Apple de gerenciar suas próprias operações comerciais ordinárias, pessoas e equipes, e estratégias de negócios".
Meta, Google, Amazon, Walmart, McDonald's e Target estão entre as empresas dos EUA que reverteram políticas de DEI diante da hostilidade da administração Trump e de um movimento conservador fortalecido.
Embora as propostas de acionistas não sejam vinculativas, elas podem forçar as empresas a responder a questões políticas. Em 2022, uma proposta na Apple pedindo uma auditoria de equidade racial foi aprovada com apoio majoritário dos acionistas, levando a empresa a publicar novas divulgações de diversidade.
Enquanto isso, a moção de acionistas que mira o relacionamento da Apple com a OpenAI ecoa críticas feitas pelo czar de cortes de custos de Trump, Elon Musk, que também é antagonista do CEO da startup, Sam Altman.
Se os dados coletados pela OpenAI infringirem a privacidade pessoal ou material protegido por direitos autorais, isso pode representar um risco para os acionistas da Apple, disse o NLPC (National Legal and Policy Center) em sua petição.
"A proposta não se concentra em nenhum problema com a Apple Intelligence", disse o conselho da empresa, referindo-se aos seus novos recursos de IA para dispositivos móveis, em um documento no mês passado em resposta à moção. "Em vez disso, foca sua crítica na OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT, um serviço independente que os usuários da Apple podem optar por acessar."
Em dezembro, a Microsoft enfrentou três propostas de acionistas relacionadas à IA em sua reunião anual. Nenhuma foi aprovada, mas uma apresentada pelo NLPC, semelhante à proposta da Apple, recebeu 36% de apoio dos acionistas da Microsoft.
A empresa foi processada em janeiro por supostamente divulgar informações de clientes do LinkedIn, uma de suas subsidiárias, para treinar programas de IA. O NLPC disse que o processo mostrou "que estávamos certos".
A proposta do NLPC para a Apple provavelmente enfrentará ceticismo dos investidores, disse Jamie Bonham, chefe de stewardship da gestora de ativos NEI Investments, que administra cerca de US$ 12,5 bilhões.
A Apple, disse ele, não tem um histórico de problemas de privacidade como alguns de seus rivais. "Não sei se a Apple especificamente é o alvo apropriado para isso", disse Bonham sobre a proposta de IA, mas acrescentou que ainda não decidiu como a empresa votaria na assembleia geral anual.
Colaborou Cristina Criddle em San Francisco