Na coluna passada tratei, ligeiramente, das mudanças sobre as percepções e permissões do humor. Por que, de uns tempos para cá, a piada tem sido tratada com tanta seriedade, em detrimento de outros temas que seriam mais urgentes, graves ou sérios de verdade?
A intenção era mudar o rumo da prosa, mas não é que não dá, é que não deu. A tal da vida real não deixa. Recentes imbróglios com humoristas viraram assunto e, mesmo a briga não sendo minha, não posso ficar de fora.
O primeiro sururu envolveu o Oscar Filho, que ousou cometer uma piada —não se sabe ainda se dolosa ou culposa— sobre a saúde do atual presidente e apanhou bonito.
Teve site de revista que estampou "Humorista debocha do estado de saúde de Lula e é repreendido" —em nome de Jesus, ou a repreensão foi apócrifa? Teve também quem repercutiu com "Humorista zomba do estado de saúde de Lula após internação". Essas e outras mais vocês podem ver no Google.
E eu que sempre pensei que debochar e zombar fossem requisitos inerentes à profissão. Deboche e humor são —ou eram— inseparáveis e, assim como nos casamentos, deveriam ficar juntinhos na saúde e até mesmo na doença.
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Noticiar que um humorista debocha ou zomba, em qualquer outra época, seria tão estranho como alardear que "piloto pilota", "cirurgião faz cirurgia" ou "faxineiro faxina", uma absoluta não notícia. Algo mais irrelevante até que o clássico "Caetano estaciona no Leblon" pois, até onde se sabe, entre os inúmeros talentos do mestre baiano, um deles não inclui o de ser manobrista.
O mesmo Oscar Filho (sossega, menino), junto com Diogo Portugal e Danilo Gentili, também apareceu em outro rolo. Uma decisão judicial proibiu a comercialização do vinho "Putos", um bem-sucedido projeto eno-humorístico do trio —embora nas mídias, estranhamente, só o nome do Danilo foi alvo e alvejado— que significa "garotos" em Portugal, de onde vem o vinho. Mas segundo a meritíssima que julgou a ação, o rótulo da sátira "desabona e imita" a marca europeia —o fodástico vinho francês Petrus—, associando-a a uma "expressão considerada obscena".
Como um vinho lançado por três humoristas pode prejudicar outro que custa cerca de mil vezes mais e é caro até para o Boni? É que para o humor se é cobrado limites; para o mau humor, não.