Pegadas na Ilha de Skye, ao largo da costa norte da Escócia, revelaram a existência de um local popular para os dinossauros, com evidências de que tanto dinossauros carnívoros quanto herbívoros circulavam pela área e suas lagoas pré-históricas, conforme estudo publicado na última quarta-feira (2) na revista PLOS One.
Embora os herbívoros que se moviam mais lentamente fossem provavelmente presas para os carnívoros menores e de dentes afiados, as pegadas indicam que todos compartilhavam harmoniosamente as mesmas lagoas de água doce, segundo Tone Blakesley, autor principal da pesquisa.
"Foi meio que o posto de serviço para o Jurássico Médio", diz Blakesley. "Os dinossauros teriam descido das massas terrestres circundantes, descido para beber e seguido em frente. Era um local muito transitório."
As pegadas em Prince Charles Point, na península norte da ilha, foram descobertas em 2019 por um casal, que observou algumas marcas estranhas enquanto passava de caiaque ao longo da costa.
A pedido do casal, Blakesley, que havia acabado de terminar seu primeiro ano na faculdade, inspecionou a área e encontrou uma pegada de dinossauro de três dedos no arenito.
"Estava ligeiramente elevada e parecia desgastada, mas era nítida", lembra o pesquisador. "Dava para ver os dedos, as marcas das garras."
Nos anos que se seguiram, Blakesley e pesquisadores da Universidade de Edimburgo identificaram entre 150 e 200 pegadas na área e analisaram 131 para o estudo.
A equipe determinou que algumas delas, como a primeira que Blakesley viu, foram feitas por terópodes carnívoros, provavelmente megalossauros, um ancestral do Tyrannosaurus rex.
Outras pegadas arredondadas foram provavelmente deixadas por sauropodes herbívoros como o cetiosaurus, precursor do brontossauro.
A partir das pegadas, que variavam de 25 a 60 centímetros de comprimento, os pesquisadores puderam estimar a altura do quadril dos dinossauros e o comprimento das passadas.
Os terópodes de três dedos teriam o tamanho de um jipe e se moviam em uma velocidade que os humanos considerariam uma corrida, oito quilômetros por hora.
Os grandes sauropodes, por sua vez, teriam a altura de dois a três elefantes e se moviam a 2,5 km por hora.
Os dois tipos de dinossauros precisariam ter peso suficiente para deixar para trás pegadas que afundaram na areia até a lama endurecida abaixo e durariam até os dias atuais.
Blakesley comparou a análise das pegadas a ler uma página de um livro. "Isso nos diz muito sobre os dinossauros que viviam ao longo da costa lagunar pré-histórica."
Também requer um pouco de imaginação, ele disse. Durante o Período Jurássico Médio, a área teria tido um clima tropical quente e úmido, em vez do vento gelado e da chuva que definem o clima escocês hoje. A paisagem pitoresca e montanhosa de Skye teria sido mais plana e pontilhada com lagoas de água doce semelhantes.
As pegadas em Skye nunca seguem para sudeste, levantando questões sobre o que havia lá enquanto os dinossauros estavam vivos.
"Toda vez que eu desço até essas pegadas, gosto de colocar minha mão nelas", disse Blakesley. "Você fecha os olhos e apenas sente a maré recuando e as montanhas subindo e descendo, a cacofonia de um milhão de cantos de pássaros passados e você está de volta a esse tempo selvagem e exótico, cercado por aqueles animais."
Mike Benton, professor de paleontologia de vertebrados na Universidade de Bristol, disse por email que as pegadas fornecem informações importantes sobre a vida durante o Período Jurássico Médio, "um tempo sobre o qual não sabemos muito sobre dinossauros e outros animais terrestres em qualquer lugar do mundo".
"Elas são realmente importantes porque representam comportamentos fossilizados", afirmou Benton, que não estava envolvido no estudo. "Em outras palavras, cada exemplo nos mostra exatamente o que um dinossauro estava fazendo milhões de anos atrás."
No ano passado, cientistas descobriram cerca de 200 pegadas de dinossauros no sul da Inglaterra. Acredita-se que foram deixadas por ao menos cinco indivíduos, quatro cetiosaurus e um megalosaurus, também do Período Jurássico Médio, e mostravam alguns deles se movendo para o norte.
As pegadas descobertas em Skye estão na área costeira tornada famosa por Bonnie Prince Charlie, neto do rei James 7º da Escócia, que liderou uma revolta fracassada contra o trono britânico. O Ponto do Príncipe Charles foi onde ele se escondeu em 1746 enquanto fugia das tropas britânicas após a derrota de seu lado na Batalha de Culloden.
"É uma história muito surreal pensar que Bonnie Prince Charlie pode ter visto essas pegadas, ele pode ter passado por elas e se perguntado o que eram", disse Blakesley. "As pegadas e a história de Bonnie Prince Charlie, juntas, enriquecem a herança local de Skye."