Peça 'Mar Aberto' desafia os limites que há entre ficção e realidade no palco do teatro

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Os limites entre ficção e realidade estão embaralhados em "Mar Aberto", espetáculo baseado na obra da dramaturga e psicanalista Claudia Barral que estreou na cúpula do Theatro Municipal e terá apresentações gratuitas nesta semana na SP Escola de Teatro, na praça Roosevelt, região central de São Paulo.

Por meio do metateatro, a peça aborda duas tramas que se entrelaçam. Em uma delas, três atrizes ensaiam um espetáculo em um teatro abandonado, e na outra é narrada a convivência entre duas irmãs que alugam quarto para uma mulher que não conhecem e, a partir disso, encaram transformações em suas vidas.

A complexidade das relações pessoais, os desafios emocionais e a busca pela identidade fazem parte da dramaturgia, assim como as reflexões sobre o fazer teatral e a profissão de atriz.

O mar é um poderoso elemento da encenação. Ele chega à casa da história, e também ao teatro, por meio de sons e cores que envolvem a plateia. Está perto e ao mesmo tempo longe: uma janela fechada afasta as mulheres da maresia e é uma metáfora para segredos e memórias não revelados sobre o passado. Por que não abri-la? O que impede que seja escancarada?

O clima marítimo atrai e sufoca, encanta e assusta, assim como a relação entre as mulheres em cena. A iluminação em tons de azul e a sonoplastia criam o mundo aquático imaginário em pleno centro de São Paulo, mas há o desejo de levar o espetáculo a lugares que estejam de fato perto do mar. O cenário contemporâneo é modular e, manejado pelas atrizes no decorrer dos acontecimentos, cria camadas importantes para a encenação.

Nas primeiras apresentações, o espaço amplo e inusitado da cúpula do Theatro Municipal contribuiu para a atmosfera de bastidores que a peça sugere. Além disso, as atrizes se preparam para a encenação na frente do público, que as vê no aquecimento e nos camarins abertos, sem portas ou paredes.

"O percurso entre o palco e os bastidores sugere que a linha que separa realidade e ficção é tão tênue quanto um feixe de luz", afirma a diretora Beatriz Barros. "O público é convidado a testemunhar não apenas as performances, mas também os elementos que a tornam possível, em um jogo de reflexões e revelações".

O espetáculo foi idealizado por Giovana Echeverria, uma das atrizes em cena, a partir da dramaturgia de Barral. A peça original propõe uma figura de linguagem em que o oceano simboliza as incertezas e os desafios enfrentados pelos personagens em um contexto de perda e luto em meio a relações familiares cheias de conflitos.

Além de idealizar e ser uma das protagonistas, Echeverria fez a adaptação do texto junto com a diretora, em um trabalho realizado em sala de ensaio, durante os meses de preparação do espetáculo. Ela e Barros tiveram como referência estética as obras do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, que mergulha no universo feminino para além dos estereótipos e das limitações impostas pela tradição social.

"As emoções à flor da pele, os conflitos internos e os mistérios são tratados com delicadeza e profundidade, buscando capturar a essência do ser humano em situações de vulnerabilidade e transformação", afirma Echeverria.

O elenco é formado também por Ayomi Domenica, do filme "Levante", premiado no Festival de Cannes como a melhor estreia nas mostras paralelas no ano passado. Tem ainda Carolina Mânica, indicada em 2015 ao prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) pelo trabalho em "Dias de Vinho e Rosas", peça dramática dirigida por Fábio Assunção.

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