Palco Favela vira abrigo do samba no Rock in Rio com aula do Fundo de Quintal

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Um dos patrimônios da cidade do Rio de Janeiro, o samba encontrou abrigo no palco Favela do Rock in Rio nesta quinta-feira (19). O espaço recebeu o show do Fundo de Quintal, que tocou no começo da noite, antes de Xande de Pilares.

Gênero historicamente sem tanta entrada no megafestival carioca, o samba ao longo do tempo encontrou brechas no Rock in Rio. Há dois anos, deu o tom do show de Maria Rita no palco Sunset, por exemplo, e o pagode de Ferrugem —atração desse palco nesta quinta— lotou o espaço Favela naquela mesma edição.

Se não era gigante, o público que assistiu ao Fundo de Quintal era numeroso e estava bastante confortável. Diferente de grande parte dos shows internacionais, quando as pessoas ficam quase grudadas umas nas outras, o clima no palco Favela era confortável —dava para dançar e caminhar à vontade.

O grupo, baluarte da estética que dominou o samba a partir dos anos 1980, puxou palmas no ritmo do jongo logo que subiu no palco. Foi uma aula de história, já que o estilo de música e dança, praticado no Brasil por pessoas escravizadas e seus descendentes, está no DNA do ritmo do samba feito no Rio.

Dali, emendaram sucessos que há décadas fazem parte da trilha sonora da cidade. Foram de "O Show Tem que Continuar" a "A Amizade", passando por "Nosso Grito", "Eu Não Quero Mais", "Do Fundo Nosso Quintal" e "A Batucada dos Nossos Tantãs", entre tantos outros.

O tantã, aliás, é apenas um dos instrumentos criados e introduzidos no samba pelo Fundo de Quintal. Mais especificamente por Sereno, lenda do samba que, sorridente como sempre, cantou "Parabéns pra Você", e foi saudado de maneira entusiasmada pelos outros músicos e pela plateia.

No palco, o Fundo de Quintal usou e abusou de uma gorda percussão —uma das mais potentes do samba, de precisão metódica mesmo sem perder o suingue. Além de dois tantãs e do pandeiro de Bira Presidente, a batucada teve bateria, atabaques, cuíca, surdo, tamborim e repique de mão —este, outro instrumento inventado pelo grupo, nas mãos de Ubirany, morto em 2020.

Berço de parte da elite do samba a partir da década de 1970, o Fundo de Quintal lembrou cantores que passaram pelas rodas do grupo no Cacique de Ramos. Cantaram "Meu Nome é Favela", de Arlindo Cruz, "Conselho" e "Insensato Destino", de Almir Guineto, e "Tendência", de Jorge Aragão.

Ainda que tenha mudado sua formação ao longo das décadas, o Fundo de Quintal mostrou no palco por que é professor de um estilo de samba que, entre outros gêneros que influenciou, deu origem ao pagode. É possível dizer que, sem o grupo, nem Xande de Pilares, atração seguinte do palco Favela, nem Ferrugem, que tocou entre um e outro no Sunset, fariam a música que fazem.

A sequência final, em clima de Carnaval, teve "Vou Festejar", clássico das ruas do Rio popularizado por Beth Carvalho —madrinha que levou o Fundo de Quintal ao estúdio pela primeira vez. E também "Caciqueando", remetendo às origens do grupo, criado a partir do bloco Cacique de Ramos, cuja roda semanal é até hoje um pilar do samba brasileiro.

O jornalista viajou a convite da Natura

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