Há meses segurando preços no Brasil mesmo com a alta do petróleo no exterior, a Petrobras discutirá o reajuste da gasolina e do diesel neste mês. Conselheiros afirmaram que o assunto não pode mais ser evitado e entrará na pauta da próxima reunião do conselho.
Antes disso, em uma prévia, o comitê que supervisiona preços da estatal vai discutir o assunto em dez dias.
O Painel S.A. apurou que investidores internacionais estão preocupados com uma interferência do governo nos preços da estatal e pressionam por um reajuste, dada a disparidade do valor dos combustíveis comercializados no país ante a cotação do dólar e do petróleo no exterior.
Segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), o diesel é vendido nesta quarta (15) pelas refinarias da Petrobras a R$ 0,80 o litro, uma defasagem de 23%. A gasolina é comercializada a R$ 0,41 o litro, 14% a menos do que deveria.
A última vez que o diesel atingiu esse patamar de defasagem foi em agosto de 2023, quando a Petrobras precisou intervir e aumentar os preços.
Em 2024, porém, pela primeira vez em 13 anos, a petroleira fechou um ano inteiro sem qualquer reajuste no preço do óleo, mesmo com todas as oscilações no mercado no ano passado. O preço da gasolina foi alterado apenas uma vez.
Isso acontece após a companhia mudar, em maio de 2023, sua política de preços, deixando de vincular suas decisões diretamente ao PPI (Preço de Paridade de Importação).
Não há cálculos oficiais da defasagem de preços da Petrobras. Técnicos da própria estatal estimam, entretanto, que seja da ordem de 13% para o diesel e de 10% para a gasolina.
Procurada, a Petrobras não se manifestou até a publicação da reportagem.
Desconfiança
Há suspeitas no mercado de que o governo esteja orientando os diretores da Petrobras a segurarem os preços como forma de conter a inflação.
Ao Painel S.A., o ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, diz que é difícil aferir apenas com base nos números da Abicom se é hora de reajustar os preços.
É preciso, segundo ele, conhecer a situação financeira da petroleira. Ele afirmou que, daqui para frente, deve-se observar o tempo decorrido de defasagem para aferir se isso está afetando a rentabilidade da estatal.
"É preciso evitar afetar a rentabilidade, até porque o TCU e outras autoridades competentes podem investigar e punir os gestores se isso ocorrer, mesmo que a mando superior", disse.
Desde novembro de 2024, o TCU analisa a estratégia de preços do diesel e da gasolina comercializados pela Petrobras. O órgão deu dois meses para que um relatório interno detalhe as diretrizes da estratégia comercial da petroleira à corte de contas.
Com Stéfanie Rigamonti