Mentor da fusão entre Azul e Gol, John Rodgerson cogitou, no passado, uma junção com a Latam. A operação chegou a ser discutida informalmente com integrantes do Cade, mas não prosperou.
A pandemia chegou e a situação das três companhias aéreas se agravou sem socorro do governo durante a pandemia. A Latam entrou em recuperação nos EUA e foi a primeira a decolar com seu plano. A Azul realizou uma negociação extrajudicial (diretamente com os credores) e a Gol foi a última a se reestruturar, também nos EUA.
Há cerca de oito meses, o executivo esteve com Lula para discutir seu plano de juntar forças com a Gol, cujo memorando de entendimento foi assinado nesta quarta (15). Com o aval do presidente, iniciou as negociações com a família Constantino e os sócios da Abra, a holding que controla a Gol e a Avianca.
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Por que assinaram o acordo se a Gol terá de sair da recuperação nos EUA para efetivarem o negócio?
Não queríamos perder muito tempo, porque o Cade pode demorar um ano [para aprovar a operação]. Além disso, quando se fala de fusão, essas coisas de ego atrapalham muito. Então, fechamos a governança já para mostrar que essa parte está resolvida.
E como ela será?
O conselho de administração terá três representantes da Azul, três da Gol e três do mercado. O presidente será da Abra [controladora da Gol e da Avianca] e o CEO serei eu.
Qual será a participação da Gol na nova empresa?
Não dá para dizer ainda. A ideia é que seja meio a meio, mas dependerá do processo de recuperação e da captação [de recursos novos pela Gol]. Pode ser 70% [Azul], 30% [Gol]. Depois da recuperação, a Gol será uma ótima empresa. A ideia não era sair vencedor, ter 55% ou 45% [de participação]. Todo mundo ficou muito perto da morte desde 2020. O foco está no crescimento e começar a dar resultado.
Existe um patamar mínimo para a Gol?
A Abra terá, pelo menos, 10% do novo negócio. Teremos outros acionistas também.
As marcas continuam independentes. Como isso funcionará na prática?
A aeronave, o piloto, os comissários serão da Gol ou da Azul. A conexão será conjunta, a precificação dos bilhetes será uma só, todo o backoffice [sistema operacional] será integrado. A parte operacional será separada. Nos voos domésticos, pode ser que, eventualmente, haja voo da Azul e outro da Gol por uma questão de oferta de assentos. Tanto faz se o passageiro vai comprar um bilhete da Azul ou da Gol. Isso significa que, se o cliente comprar um bilhete de Brasília (DF) para Congonhas (SP) pela Azul, ele pode voltar pela Gol.
O novo nome já foi definido?
Haverá uma holding que controlará as duas empresas e o nome ainda não foi definido.
Por que o acordo se rompe se a Gol não conseguir se refinanciar nos níveis planejados?
A nova empresa não poderá ser mais alavancada [com dívidas] do que a Gol na saída [do acordo].
Mas de quanto será essa alavancagem conjunta?
Vai ser a da Gol ou menos [cerca de quatro vezes o Ebitda, lucro antes de impostos, tributos, depreciações e amortizações].
Mas a Azul também tem dívidas.
Mas, com toda a reestruturação, a alavancagem será bem menor. Foi um sinal dado só para acalmar o novo capital deles.
Qual será o tamanho da nova empresa?
Será o da Azul com a Gol de hoje, mais o crescimento de ambas em 2025. Isso cria um campeão de verdade. É uma grande empresa aérea com oportunidade para mais conectividade no país.
Tem muita gente que diz que isso cria uma empresa com 60% do mercado brasileiro. Mas a Latam tem 70% do mercado do Chile, onde as pessoas viajam três vezes mais do que no Brasil. Na Colômbia e no Canadá também é mais de 60% [de concentração]. Outros países, como Alemanha e Coreia do Sul entenderam que é estratégico ter uma empresa forte com capital suficiente para conectar mais.
Acha que a Latam vai reclamar ao Cade?
No passado, ela quis fazer a mesma coisa [fusão com a Azul].
O governo apoia a fusão?
Falei com o presidente Lula há cerca de oito meses. Ele gosta da ideia de criar uma empresa mais forte no Brasil, porque há muito voo de galinha e isso é muito ruim para os tripulantes, para todo mundo. Juntando, haverá mais oportunidade para comprar mais aeronaves da Embraer, para mais voos regionais, mais voos internacionais. Vai ter gente gritando que isso é ruim, mas eles vão advogar por si mesmos.
RAIO-X
John Rodgerson
Formado em finanças pela Brigham Young University, é um dos fundadores da Azul e CEO da companhia desde 2017. Antes de ocupar a posição, Rodgerson foi vice-presidente financeiro e diretor de Relações com Investidores da Azul, sendo responsável pelas áreas de planejamento e análise financeira, tesouraria e contabilidade. Também ocupou o cargo de diretor‐presidente da subsidiária operacional da companhia, a Azul Linhas Aéreas Brasileiras S.A., entre agosto de 2019 e outubro de 2022. Antes de ingressar na Azul, Rodgerson foi diretor de Planejamento e Análise Financeira na JetBlue Airways, além de ter trabalhado para a IBM Global Services.
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Com Stéfanie Rigamonti