O laboratório Cristália, líder em anestésicos no Brasil, foi condenado pela Justiça do Trabalho a pagar R$ 200 mil de indenização a um ex-funcionário especialista em mídias sociais, que acusou a empresa de demissão por motivo político.
A dispensa ocorreu após a companhia avaliar que o tom de cor usado por ele em uma ação de marketing da campanha Outubro Rosa, de prevenção ao câncer de mama, estava muito puxado para o vermelho, cor associada ao PT.
A empresa disse ao Painel S.A. que recorreu da decisão e que não comenta processos judiciais em andamento.
A campanha foi ao ar em outubro de 2022, em meio à disputa eleitoral para presidência da República, marcada pela disputa entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o processo, o Cristália avaliou na época que o tom de rosa escolhido pelo então funcionário, "muito puxado para o vermelho", era inapropriado para aquele momento, porque poderia ser lido como um apoio ao petista.
Por isso, o laboratório decidiu trocar o rosa pelo azul, que, no entanto, é símbolo de outra campanha, a de prevenção ao câncer de próstata, comumente veiculada em novembro.
O funcionário responsável pela campanha foi demitido em 5 de outubro de 2022, três dias após o primeiro turno das eleições.
Em sua decisão, a juíza Marcele dos Praseres Soares falou em "paranoia política" e disse que a ação de marketing era visivelmente de saúde, sem conotação política.
Na sentença, ela lembrou que o então presidente Jair Bolsonaro, adversário de Lula, havia participado de uma inauguração na empresa.
Na ação, o laboratório negou ter demitido o funcionário por razões políticas e afirmou desconhecimento de que o demitido tinha realizado as artes (material gráfico) da campanha.
Sobre a mudança na cor, ainda segundo o processo, o Cristália afirmou que havia uma preocupação em manter sua imagem isenta de qualquer lado político.
"Não é segredo que o país se encontrou e até hoje se encontra extremamente dividido em razão de divergências ideológicas das pessoas, e que diversas foram as pessoas ou até mesmo empresas que sofreram grandes boicotes em razão de terem interpretado que eram apoiadoras tanto da esquerda, quanto da direita", disse.
Na ação, o laboratório citou que os então ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff também já tinham participado de inaugurações da empresa e chamou de "absurda" a indenização imposta pela Justiça.
Com Stéfanie Rigamonti