O celular de Eduardo Tagliaferro, um dos envolvidos nas conversas sobre a produção de provas fora dos ritos formais a pedido do ministro Alexandre de Moraes (STF), foi apreendido pela Polícia Civil de São Paulo e em seguida lacrado em maio do ano passado, após ele ter sido preso por suspeita de violência doméstica.
O registro consta de Boletim de Ocorrência lavrado em 9 de maio de 2023 na Delegacia Seccional de Franco da Rocha, responsável pela cidade de Caieiras (SP), onde ocorreu a prisão.
O celular de Tagliaferro, ex-servidor da Justiça Eleitoral, tinha chips para duas linhas, uma de São Paulo e outra de Brasília, que também foram entregues e lacrados. O aparelho, um iPhone 14, foi levado à delegacia por Celso Luiz de Oliveira, cunhado dele.
"Comparece nesta unidade policial o declarante supra qualificado [Oliveira], acompanhado da testemunha, informando que é cunhado do sr. Eduardo de Oliveira Tagliaferro, e que neste momento apresenta o telefone celular acima descrito, ora apreendido em auto próprio, aparelho este que recebeu das mãos de Eduardo pouco antes de ele ser encaminhado para audiência de custódia em Jundiaí", diz o BO.
O registro policial acrescenta: "Afirma o declarante que o referido aparelho é de uso pessoal de Eduardo, bem como de uso profissional, possuindo dois chips. Referido aparelho foi devidamente desligado nesta delegacia visando preservar seu conteúdo, não possuindo o declarante a sua senha de acesso". Ao final, há uma declaração dizendo "Aparelho apreendido sob o lacre".
O celular foi devolvido a Tagliaferro seis dias depois, em 15 de maio, quando ele foi solto, segundo o auto de entrega registrado pela delegacia seccional.
Diálogos aos quais a Folha teve acesso mostram como o setor de combate à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), presidido à época por Moraes, foi usado como um braço investigativo do gabinete do ministro no Supremo.
As mensagens revelam um fluxo fora do rito envolvendo os dois tribunais, tendo o órgão de combate à desinformação do TSE sido utilizado para investigar e abastecer um inquérito de outro tribunal, o STF, em assuntos relacionados ou não com a eleição daquele ano.
O maior volume de mensagens com pedidos informais –todas no WhatsApp– envolveu o juiz instrutor Airton Vieira, assessor mais próximo de Moraes no STF, e Tagliaferro, perito criminal que à época chefiava a AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação) do TSE. Tagliaferro deixou o cargo logo após ter sido preso, em 2023.