As declarações do presidente Lula (PT) sobre o ministro Fernando Haddad no lançamento do programa de consignado privado atacam dois pontos de uma vez só, segundo aliados: endossam o titular da Fazenda em meio a mudanças que poderiam fragilizá-lo no governo e reforçam junto à população as medidas tomadas pela equipe econômica até o momento.
No evento, no Palácio do Planalto, Lula deu um puxão de orelha em Haddad, que fez um discurso árido em contraste com as outras manifestações, que destacaram pontos como a possibilidade de aumento do poder de compra do trabalhador e oferta de crédito mais barato.
O presidente disse que o ministro "nem sempre é o mais feliz quando pega o microfone" e que tinha que deixar "cair uma lágrima" para passar mais emoção em suas falas.
Ao mesmo tempo, porém, elencou 24 medidas econômicas adotadas pela Fazenda e afirmou que Haddad passaria para a história como o melhor ministro da Fazenda que o país já teve.
Uma das interpretações é que as declarações buscaram fortalecer o ministro, principalmente para fora do Palácio, após a entrada da ex-presidente do PT Gleisi Hoffmann (PR) no governo —ela assumiu como ministra da SRI (Relações Institucionais). Nos bastidores, havia a avaliação de que Gleisi, que já atacou publicamente políticas de corte de gastos de Haddad, se somaria a Rui Costa (Casa Civil) como entraves de Haddad no Planalto.
A outra interpretação tem dedo de Sidônio Palmeira (Secom) e busca comunicar melhor para a população o que o governo tem feito para que a economia cresça.
Parte dessa estratégia também envolve a participação de Haddad em programas como o Flow, que alcança um público mais amplo do que aquele que normalmente acompanha as medidas do governo.